Com Amyr Klink é sempre assim, mal termina uma viagem, ele já está pensando na outra. No caso, uma expedição dando a volta ao mundo pelas regiões polares. A viagem já tem até data marcada para a partida, no final do ano que vem. “O barco, o Paratii 2, já está sendo construído aqui no Brasil especialmente para a expedição”, explicou Amyr. O Paratii 2 será uma escuna com dois mastros feita especialmente para suportar os rigores das regiões polares. A expedição pode durar cerca de três ou quatro anos, tudo vai depender das condições encontradas nas regiões extremas do planeta. Está prevista uma invernagem na calota polar norte.
Enquanto a data da nova partida não chega, Amyr dá os últimos retoques no seu próximo livro, contando as aventuras de sua circunavegação polar. Também se prepara para participar no ano que vem da Regata do Descobrimento, que deve reunir alguns dos maiores nomes do iatismo oceânico no país. Neste sábado, Amyr estará participando da Copa Intermarine/Mercedez-Benz, um rali náutico que acontece em Ilhabela (SP). Em entrevista exclusiva para a Webventure, ele conta os planos para o próximo ano.
Webventure: Amyr, como é que está o projeto do Paratii 2 e a idéia de dar a volta ao mundo passando pelos dois pólos?
Amyr Klink: A idéia vem dos livros de histórias, da dificuldade histórica de se alcançar o caminho mais curto para a China. Desde que eu comecei a ler sobre passagens polares surgiu a idéia de fazer um veículo de concepção mais apropriada para isso. Mais simples, mais bonito, mais rápido para uma tripulação menor. E eu acho que idealizei o barco certo pra isso. Estamos terminando a calderaria dele e, no ano que vem, a gente deve colocar em prática tudo aquilo que pensou.
W: Você já tem o roteiro da viagem fechado, passa por áreas de congelamento onde o mar pode ser perigoso?
AK: Na Antártica não, lá existem áreas onde tem o risco de congelamento mas só se você for para lá com essa intenção. Mas, no Ártico, que parece muito mais agradável, menos violento em matéria de tempestades, de problemas meteorológicos, tem condições muito mais traiçoeiras. Então, nós corremos o risco de entrar no meio da branquisa e acabar ficando presos durante todo o inverno, sem ter planejado isso. O Paratii 2 é um barco concebido para enfrentar estes tipos de problemas. Existem alguns macetes, o principal deles é evitar navegar em lugares muito rasos. A idéia é sair pelo Atlântico e fazer uma da duas alternativas, ou nordeste ou noroeste ao redor do Pólo Norte, sair no Estreito de Bering, passar oito meses na China e retornar pelo Mar de Ross, contornando a Antártica.
W: Você já ficou conhecido como um navegador solitário. E agora você vai fazer uma viagem com companheiros a bordo. Como está encarando esta diferença? Como vai ser a convivência do solitário Amyr com os outros tripulantes?
AK: Isso não é totalmente verdade. Eu não gosto de ficar sozinho, eu não gosto de andar sozinho. Eu gosto é de fazer algumas viagens sozinho (risos). Mas já fiz muito mais viagens em equipe do que em solitário. Eu estou ansionso, vai ser uma experiência interessante. A gente tem os riscos de convivência, que são grandes. Mas por outro lado as pessoas com quem eu tenho viajado, eu gosto muito delas, a gente se entende bem. Eu espero que não venha a ter este tipo de problema durante a viagem. Mas sempre dá problema em uma viagem com mais de um ano de duração. É mais um desafio e eu espero que não atrapalhe.
W: Quem são as pessoas pessoas que vão com você e como elas foram escolhidas?
AK: Nós temos três, quatro talvez, já definidas. São brasileiros e o critério de escolha não é tanto de competência técnica, mas bom relacionamento e um cara que consiga aprender muitas coisas. Alguém que consiga mergulhar, que saiba fazer uma solda, que entenda um pouco de motor, cozinhe bem, não reclame da lavar louça para todo mundo, se tiver que limpar a privada e desentupir, ele vai. Enfim, é um critério muito mais de comportamento do que perícia. Eu tenho muito receio dos especialistas que acabam se tornando arrogantes. Aqueles caras que são chamados para o projeto porque ele é um supertécnico em informática ou em rádio-comunicação e, de repente, não faz mais nada além disso. Então, cada um vai ter que usar muitos “chápeus” diferentes, e esse é o critério de bom relacionamento, que eu acho importante em qualquer tipo de atividade.
W: E até lá, quais são seus planos?
AK: No momento eu estou envolvido com o projeto de um porto de lazer em Parati, com um a marina flutuante. Também estou envolvido com este projeto da Regata do Descobrimento que, para a gente, é muito importante para difundir o princípio do aeroriggy, que é um tipo de mastreação que trouxemos para o Brasil, e pequenas regatas que eu pretendo participar. Fora isso, é cuidar das meninas (suas filhas gêmeas Tamara e Laura) em casa (risos)… que dá muito trabalho… vem uma atrás da outra. Agora mesmo vem outra menina aí e eu não sei mais o que fazer (risos).
Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur