Direto do Rio de Janeiro (RJ) – O carioca André Mirsky está ansioso pela chegada da Volvo Ocean Race em sua terra. Ainda mais com os companheiros de equipe chegando, como o brasileiro Lucas Brun, e os amigos do Brasil 1. Mirsky falou para o Webventure na Marina da Glória, local onde todo o circo da regata se reúne.
Para ele, o Brasil 1 é favorito na disputa contra o ABN Amro 2. Sobre o ABN Amro 1, Mirsky afirma que a tripulação de Mike Sanderson já precisa administrar o resultado e não correr riscos, depois da vantagem 19 pontos que conseguiu abrir para os concorrentes (do Piratas do Caribe, que pode terminar a perna em terceiro na geral. O ABN Amro 2 está em segundo na classificação, 14 pontos atrás do ABN 1). Veja a entrevista abaixo,
Webventure Como você avalia essa perna até agora?
Mirsky – Achei que essa perna em princípio foi muito diferente do que todo mundo estava esperando. Porque a vantagem do ABN Amro 1 até o Cabo Horn não era muito grande. Esperávamos que ele abrisse 200, 300 milhas de diferença e na verdade os barcos chegaram bem próximos. A diferença do primeiro para o segundo era de 50 milhas.
E agora, no vento mais fraco, é que o ABN 1 está abrindo. O que mudou o panorama. Lá em Vigo eles não andavam nada sem vento. Conseguimos desenvolver as velas e fazer com que o barco ande um pouco melhor nessas condições, mesmo sendo preparado para ventos fortes.
Dessa chegada no Rio podemos esperar qualquer coisa, principalmente do ABN Amro 2 com o Brasil 1, que estão bem juntos. Acho que dificilmente o ABN 2 vai conseguir segurar essa posição.
O Torben Grael poderá surpreender na chegada no rio?
Mirsky – O Brasil 1 vai ter duas vantagens. Uma que ele anda melhor que o ABN 2 no vento mais fraco, e a segunda vantagem é que os caras querem muito ganhar. Eles devem estar virando noites, sem medir esforços. Para o ABN 2 também é legal, tanto pelo Lucas como para manter a segunda posição, mas não tem o mesmo gosto de ser o time brasileiro a chegar no pódio. Essa motivação extra vai fazer com que os caras passem.
Na primeira parada na Baía de Guanabara vai ficar todo mundo sem saber o que fazer, enquanto o Torben está careca de saber como agir aqui. Se a maré está enchendo ele vai pelo meio da baía, se estiver vazando ele vai por Niterói, ou mais encostado em Copacabana. A chegada é dentro da baía, ele já está acostumado. Já fez isso 30 vezes, na Santos-Rio e todas as outras regatas que entram no Rio de Janeiro fazem esse caminho. Pela probabilidade, é certo que o Brasil 1 deva passar o ABN 2.
Acha que o Brasil 1 ameaça o ABN Amro 1
Mirsky – Agora mesmo estava lá no Iate Clube do Rio de Janeiro e um cara estava falando que pode ser que o ABN 1 perca a posição. Mas eu rebati e disse que não. Com uma dianteira de 80 milhas e ventos fracos, isso representa umas seis, oito horas de diferença para o segundo lugar. É muita coisa. Está bem confortável.
Quais as expectativas para sair daqui para os EUA
Mirsky – Acho que o Lucas deve continuar a bordo, porque o holandês que ele está substituindo provavelmente não vai ficar bom. Acho que vai ser uma perna de ventos fracos também. A vantagem que o Brasil 1 tinha de chegar aqui no Rio é o Piratas do Caribe que vai ter ao chegar em casa. Eles vão fazer de tudo para ganhar. A Disney está envolvida, tem muita coisa envolvida para eles ganharem. Será uma perna de ventos fracos e contra, pelo menos até Fernando de Noronha, vai ficar ruim a briga.
Daqui em diante eu acho que o ABN Amro 1 tem que começar a administrar a vantagem. Tanto nas regatas inshore como nas regatas grandes qualquer tomada de rico é perigosa agora ainda mais com uma dianteira tão grande, de oito vitórias em dez corridas.
Agora a regata vai ficando mais interessante para quem está de fora. Para o ABN 1 em si vai ser pior, pois a chance que ele tem de perder essa dianteira é maior. Para nós que estamos olhando, de expectadores não no meu caso, que sou torcedor do ABN vai ser muito mais divertido. Vamos ver o Movistar ganhando etapas, o Brasil 1, tenho certeza que eles vão ganhar alguma perna, e regata inshore também. No final de tudo os pontos estarão bem embolados.
Você acha que o conhecimento do Torben vai pesar para a in-port race também?
Mirsky – Sem dúvida nenhuma. Todo o investimento deles é para tentar vencer a regata inshore, todos os patrocinadores esperam isso. E o Torben junto com o Alan [Adler, velejador e diretor do projeto Brasil 1] que é um cara que conhece tudo aqui, como a palma da mão, não têm porque perder. Por mais que o Paul Cayard e o Mike Sanderson velejem bem, os brasileiros estão acostumados com a rondada de vento do aeroporto, e com os braços de maré, como falamos aqui no Rio. A maré não é homogênea que nem na França, por exemplo, que ela entra seis horas e sai seis horas com uma força incrível. Aqui ela começa a entrar em um canto da baía e sai pelo outro, faz um redemoinho. Que conhece e está acostumado a velejar aqui, no dia-a-dia, sabe que isso pode fazer uma diferença até para uma regata que parece estar entregue. Parece que já perdeu, mas se pegar um braço de maré desses pode passar até dois barcos. Isso acontece no monotipo e vai acontecer com esses barcos com certeza.
Como carioca, qual é o sentimento de receber a Volvo no Rio de Janeiro?
Mirsky – Estou orgulhoso, por causa do Brasil 1 e o Lucas no ABN 2. É a primeira vez que as pessoas estão prestando atenção em um barco a vela. Se não fosse isso, seriam só uns barquinhos passando por aí. Agora todos sabem que vão chegar os barcos, o dia, como está a classificação. É bom para a vela, é bom para mim e para todos cariocas que vão ver o Rio de Janeiro colorido nesses dias.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa
Last modified: março 9, 2006