Ano 2000 marca início da profissionalização no off-road

O crescimento do mercado, com empresas investindo pesado em utilitários 4 x 4 e acessórios, mais o aumento no número de eventos em 1999, possibilitaram neste ano o início da profissionalização do off-road nacional.

Grandes marcas de carros (Chevrolet, Troller e Mitsubishi, entre outras), montaram uma estrutura invejável de competição, com mais de um veículo suportado por um time de mecânicos, massagistas e até cozinheiros, para as provas mais importantes do ano.

Foi assim na disputa do primeiro Campeonato Brasileiro de Rally Off-Road, no Baja Brasil, na Copa Dunas de Rally e no Rally Internacional dos Sertões. “Agora já entramos na era profissional. O Rally dos Sertões deixou de ser um raid de elite. As equipes estão provando isso, investindo muito dinheiro”, comentou, ao término do Sertões, Luís Tedesco, navegador de Édio Fuchter (118 Chevrolet Rally Team), campeões de 2000 entre os carros.

Off-Country – A participação brasileira em provas internacionais também foi muito maior em comparação ao ano passado. A começar pelo Paris-Dakar-Cairo que foram duas equipes representantes dos país: a Hollywood Troller e a BR Lubrax.

Na equipe BR Lubrax, o caminhão Tatra de André Azevedo perdeu a terceira posição para o mais potente Kamaz do russo Fidaus Kabirov, na última especial de 10 km, terminando na quarta posição da geral. Klever Kolberg e o navegador Pascal Larroque conquistaram a 14ª colocação entre os carros. Mas nas motos, Juca Bala não teve o mesmo sucesso do restante da equipe e acabou fora do rali novamente. “Pelo menos desta vez eu voltei inteiro, sem os hematomas do ano passado”, brincou o piloto na volta ao Brasil.

Reinaldo Varela e Alberto Fadigatti, uma das quatro duplas da Troller entre os carros, abandonaram a prova depois que o navegador Fadigatti sofreu um fratura em duas vértebras da costela. Arnoldo Jr. e Gabriel Galdino terminaram na 46ª posição. Cacá Clauset e Amyr Klink logo atrás na 53ª colocação. E Roberto Macedo e Marcos Ermírio de Moraes ficaram na 75ª posição.

Um fato inusitado também marcou o mais importante rali do mundo. Atendendo conselhos do Ministério das Relações Exteriores da França, a organização do rali Paris-Dakar-Cairo resolveu cancelar duas etapas em território do Níger. O governo francês enviou um informe a organização da prova alertando para o eminente risco de ataques aos competidores nas florestas da região.

Depois, em setembro, aconteceu a estréia de uma dupla brasileira no Mundial Cross Country. Recuperada do abandono do Paris-Dakar-Cairo, Reinaldo Varela e Alberto Fadigatti (Troller T5) correram o Rally Por Las Pampas de Argentina, 8a. etapa do mundial, e acabaram em sétimo lugar na Diesel e 16ª colocação na geral de 40 carros que largaram.

O piloto finlandês Marcus Grönholm (Peugeot 206) , ao lado de seu navegador Timo Rautiainen, conquistou o título do Campeonato Mundial de Rally. O também finlandês e campeão de 1999, Tommi Makinen, acabou o mundial na quinta colocação. Makinen, que tinha chances de levar também o título de 2000, acabou perdendo a possibilidade de um bicampeonato após ter sido desclassificado no Rally da Austrália.

Trilha Brasilis – De volta ao cenário nacional, uma dupla do Maranhão, Técio Martins e Reno de Freitas (Troller), quebrou a hegemonia dos piauienses e conquistou o 13º Rally-Enduro Cerapió no final de janeiro, encerrado em Teresina (PI) após 1.200km cruzando 30 cidades do Nordeste.

Em julho, foi realizado VIII Rally Internacional dos Sertões, e novamente a Webventure fez a cobertura on line oficial do evento. Foram 5.000 km de trilhas e muita aventura, cruzando os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí e Ceará.

A oitava edição entrou para a história como a mais importante. De início, houve um recorde de participantes: 92 duplas de carro, 74 motos e dois caminhões. Além disso, como novidades, o rali apresentou uma especial (trecho cronometrado) de 500 km com o uso de GPS (Global Position System), pelo deserto do Jalapão/ TO, típica de Paris-Dakar, chamada de 500 anos em comemoração ao quinto centenário de descobrimento do Brasil.

A edição do rali também ficou marcada com o acidente fatal do piloto cearense Paulo Roberto Salles, no deslocamento da quarta etapa (563 km de Cabeceiras-GO a Alto Paraíso de Goiás-GO). Paulo Roberto Salles, da equipe Troller (168 TTD), faleceu após a batida do carro na traseira de uma carreta. Nos carros, a vitória foi da dupla catarinense da Chevrolet Rally Team, Édio Fuchter e Luís Tedesco (118/TTD). Fuchter e Tedesco levaram ainda o título da Copa Dunas de Rally.

Quatro etapas (São Sebastião SP – Fortaleza CE – São Joaquim SC – Campo Grande MS) definiram a Copa Baja Brasil. Reinaldo Varela e Alberto Fadigatti sagraram-se campeões nos carros e, somando os resultados da Copa Dunas e de algumas etapas do Rally dos Sertões, quando terminaram em segundo lugar, eles ficaram com o título do Campeonato Brasileiro de Rally Off-Road.

Já no Brasileiro de Velocidade, Ulysses Bertholdo e Nilo de Paula (Mitsubishi Lancer/N4) venceram a última etapa em Joinville e sagraram-se campeões.

Neste ano, o Mitsubishi Motorsports foi dividido em dois. Na disputa Sudeste, a dupla paranaense Roque Veviurka e Alberto Minsky, da cidade de Guarapuava, ficou com o título na categoria Graduados, recebendo como prêmio uma L200 GLS 0km. Já os campeões da Turismo foram os paulistas João Carlos Correa e Marco Marques. Quem também levou para casa uma L200GLS 0 km foi a dupla paulista Edu Piano e Maurici Pitz, primeiros colocados da temporada na categoria L200R. Veviurka e Minsky, foram os grandes destaques vencedores, também, do Mitsubishi MotorSports Nordeste, que teve três etapas disputadas na região. Na categoria Turismo, a taça ficou com Edilberto Vasconcelos e José Maria.

Duas rodas – O Motociclismo off-road foi na cola dos 4 x 4 e também fez bonito. Em janeiro, o cearense Sólon Mendes , com uma Suzuki 250, venceu Rally-Enduro Cerapió 2000 na categoria Executivo. Enquanto, Armando Braga (Rio), ganhou a categoria Master, com uma KTM.

No VIII Rally Internacional dos Sertões, a disputa ficou entre o brasileiro Jean Azevedo (Gas Gas), que levou a melhor, e o chileno Carlo de Gavardo (KTM). A terceira colocação foi do alemão Jurgen Mayer (KTM). Em setembro, o chileno venceu o Rally Por Las Pampas de Argentina, 8a. etapa do Mundial Cross Country.

Depois de duas vitórias consecutivas do catarinense Dário Schrull (1998 e 1999), os mineiros voltaram ao topo do pódio do Independência Off-Road, o maior enduro de regularidade do mundo, realizado durante o feriado da Proclamação da Independência (7 de setembro). 500 pilotos de todo o Brasil enfrentaram 1.000 km de trilha, saindo do Rio de Janeiro, cruzando a Serra da Bocaina, chegando em Belo Horizonte, e o vencedor foi Luiz Felipe Braga, que venceu três das quatro etapas, sangrando-se campeão pela primeira vez na categoria Master (principal).

José Hélio Filho, campeão do Rally dos Sertões de 1999, foi o campeão da Copa Dunas de Rally, com apenas um ponto de vantagem para Alexandre Tomaso, segundo colocado (63 contra 62 pontos). Na Copa Baja Brasil, Moara Sacilotti ganhou a categoria Marathon, Dimas Mattos levou a Production e Jean Azevedo venceu na Superproduction e, com a vitória no Sertões, foi o campeão do Brasileiro de Rally Off-Road.

Juntamente com Eduardo Teixeira de Carvalho, Bernardo “Bê” Magalhães, Luís Felipe Braga, Alexandre Taxinha Fernandes e Márcio “Joanita”, Jean Azevedo formou a primeira equipe brasileira (Bike Box/ Agip) a disputar o Troféu Sênior de seleção no International Six Days of Enduro, que aconteceu no final de outubro e começo de novembro em Granada, Espanha.

Considerada a Olimpíada da Moto, o Brasil superou as expectativas e ficou na 16ª posição na competição, na frente da eterna rival Argentina, Chile, Canadá, Venezuela e até da forte Finlândia, que teve duas baixas durante os seis dias de prova. Bernardo “Bê” Magalhães foi melhor brasileiro, conquistando a 48º posto, na categoria 250 cc.

1999 foi o ano da consolidação do calendário do off-road nacional. Neste ano, tivemos o início da profissionalização do esporte e da participação brasileira em provas internacionais. 2001 promete ser melhor ainda. Esperamos…

Este texto foi escrito por: André Pascowitch