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Anos de espera e muito trabalho: o histórico dos recordes


Ensaio no chão do 80-way em Taubaté. (foto: Luciana de Oliveira)

“Tudo esteve perfeito, menos aquilo que a gente não pode controlar: a natureza, o tempo”. Assim Rogério Martinati, um dos diretores do projeto de recorde mundial de pára-quedismo, resumiu o evento de Taubaté. Por conta de dias nublados e com chuva, não houve nenhum salto. Mas os contratempos são uma realidade na história de anos em que os pára-quedistas do Brasil perseguem a superação contínua de suas marcas.

O atual recorde nacional de formação em queda livre é de 65 pessoas. Em Taubaté, era esperado bater esta marca com 80 atletas, como um treino para o recorde mundial de 109. Se houvesse sucesso, certamente um novo recorde seria a meta para o próximo ano.

A história da evolução desses recordes começou em 1997, por iniciativa de Carmem Pettená, a mesma que está à frente do ousado projeto dos 109. “Antes tínhamos um recorde de 28 pessoas, que perdurou por 10 anos. Em 97, decidimos superá-lo, com um evento nos EUA porque aqui, na época, não tínhamos aviões para saltos deste tipo”, conta Martinati.

O desafio do 65-way – “Aqui no Brasil, ainda em treinamento para aqueles saltos nos EUA, já conseguimos a formação com 40 atletas. Quando viajamos, fizemos o 60-way. Para isso, demoramos 30 saltos, foi bem difícil”, lembra o pára-quedista.

Depois de 97, eles prepararam um novo evento nos EUA e então foi obtida a formação com 65 pessoas. “Em um ano, só aumentamos a marca anterior em cinco pessoas”, observa Martinati. “Este recorde é o atual e já faz quase três anos. Todo ano estamos tentando quebrá-lo. Temos condições de fazer saltos maiores, de 120 até. Mas sempre tivemos muitas dificuldades de infra-estritura.”

No Brasil, chegou-se a uma formação com 68 atletas, mas um erro de grip (a conexão entre uma pessoa e outra para formar a figura) impediu a homologação. “Um pára-quedista pegou no braço do outro ao invés da perna”, conta.

Depois disso, mais uma vez Carmem reuniu os atletas para nova tentativa, impedida antes mesmo do início dos saltos porque uma nova norma da Força Aérea Brasileira indicou que, por causa da grande altitude neste tipo de salto (além dos 18 mil pés), todos os atletas deveriam passar pelos testes em câmara hipobárica para observar suas reações no ar rarefeito. Daquela vez os atletas não puderam passar dos 12 mil pés.

Para o 109-way de Taubaté, todos os candidatos à participar da formação passaram pelos devidos testes com a câmara, no Rio de Janeiro. Além disso, a organização conseguiu o apoio do Exército com a disposição dos dois aviões Hércules, adaptados com sistema de oxigênio para todos os pára-quedistas, e também a oferta da base do Comando de Aviação do Exército (CavEX), com hangar, hotel, restaurante e toda a infra-estrutura que não se tinha antes.

Definições de Taubaté – Por isso, a falta de atividades em Taubaté não põe fim aos planos dos que participam deste projeto. “Recorde é isso mesmo, é um desafio. Se não fosse difícil assim, não seria recorde”, resume Martinati, que enfatizou ontem aos companheiros de formação que os ensaios realizados neste fim de semana não foram em vão. Eles já preparam o grupo para as próximas tentativas que acontecerão, provavelmente, no Carnaval de 2002.

“Este evento serviu para definir uma coisa: esses aqui são os atletas do recorde”, finaliza Carmem. “Continuem acreditando, façam a parte de vocês e nós faremos a nossa.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira