Atleta se hidrata durante corrida de aventura longa (foto: Arquivo Webventure)
O uso de bebidas esportivas por atletas de endurance teve início na década de 1970, quando treinadores e profissionais da área começaram a se preocupar com a reposição do que é perdido durante o exercício, tentando assim evitar uma possível queda no desempenho. Hoje, são inúmeras as opções desses produtos no mercado, mas qual o verdadeiro embasamento científico para o uso desses líquidos carboidratados? Até que ponto é necessário o uso deles? Quais são seus benefícios reais? Estas são algumas das perguntas sempre feitas por atletas aos profissionais da área de nutrição e educação física.
Durante muitos anos, a hidratação tem sido vista como um limitador em atividades físicas de longa duração, já que as perdas de líquidos a partir de 2% do peso corporal podem exercer um efeito negativo no desempenho do atleta. Apesar de diversas instituições respeitadas recomendarem a ingestão de líquidos para minimizar esses efeitos, controvérsias ainda existem em relação à quantidade a ser ingerida e à composição deles.
Em 2007, um estudo realizado em parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a Charles Sturt University, na Austrália, mostrou os efeitos da ingestão de bebidas carboidratadas em atletas que participaram de uma prova de ciclismo de 60 quilômetros.
O estudo concluiu que a ingestão de bebidas com carboidratos com uma concentração de 6% não exerceu um efeito positivo direto no desempenho de endurance, mas manteve os níveis de glicose sanguínea dentro dos padrões aceitáveis para a execução de um exercício de resistência. A glicose sanguínea foi mais alta em atletas que ingeriram os carboidratos, mas o desempenho final não foi afetado: não foram observadas melhoras no desempenho dos bikers que beberam os líquidos carboidratos em comparação aos que ingeriram placebos ou água.
Isso demostra que, talvez, as bebidas esportivas não tenham necessariamente um efeito direto no desempenho, mas seriam essenciais para manter os níveis de glicose no sangue. Nenhum dos atletas desenvolveu a hipoglicemia, ou seja, a baixa dos níveis de glicose no sangue que causam uma diminuição na intensidade, levando à redução do desempenho e até mesmo à interrupção do exercício.
Levando o estudo em consideração, a ingestão de carboidratos durante o exercício deve ser considerada para estimular a ingestão de líquidos, diminuir a possibilidade de desidratação e manter a glicose sanguínea, diminuindo o risco de hipoglicemia. O controle desses fatores permite que toda a dedicação ao treinamento, o foco e a disciplina se traduzam no melhor desempenho que o seu corpo lhe permite realizar naquele momento.
Camila Nassif é doutora pela Charles Sturt University, na Austrália, mestre em ciências do esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais e professora de fisiologia do exercício do Waikato Institute Technology, na Nova Zelândia. E-mail: canassif@yahoo.com.au
Este texto foi escrito por: Camila Nassif, especial para o Webventure