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ARTIGO: Quem são os verdadeiros campeões no rali?

A idéia de abolir a classificação geral nos resultados do Rally Cross Country é cercada de boas intenções, mas não funcionará na prática. O principal argumento é que dessa maneira a “mídia” abriria mais espaço para as categorias. O único problema é que esqueceram de fazer o básico: perguntar para a mídia o que ela acha da medida, importada do Brasileiro de Rally de Velocidade, onde também não deu certo.

Jornalista hoje entende muito de futebol e Fórmula 1. E graças ao manezinho da ilha que venceu o tal de Roland Garros, a imprensa também abriu espaço para o tênis. A palavra rali parece bicho-de-sete-cabeças. Agora imagine a situação: domingo, final de uma etapa do Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country, redações do O Estado de S.Paulo, da Folha de S.Paulo, do jornalzinho de bairro da esquina ou até um site qualquer. O editor de plantão recebe zilhões de e-mails. João da Silva é campeão; Fulano é o vencedor; Ciclano foi o melhor… O repórter menos antenado que não tem experiência na cobertura de rali vai, no mínimo, suspeitar das assessorias de imprensa ou achará que o evento é “muito complicado e o leitor não vai entender nada”. A tecla delete entrará em ação.

A divulgação do Rally do Petróleo, nome da primeira etapa do Brasileiro, mostrou que, além de confundir a mídia com os resultados por categoria, foram cometidas injustiças com vários pilotos. O Édio Fuchter e o Milton Pereira são, sem dúvida, os grandes campeões do evento (com o tempo de 2h21m). E os Ricardos – o Brogim e o Yamasaki? Eles fizeram o segundo melhor tempo (2h30m) na soma dos dois dias, mas não tiveram destaque na divulgação porque pertenciam à categoria Production, que não é considerada a principal e por isso não faz parte do “lead”, o primeiro parágrafo que é o coração de um texto jornalístico.

A situação dos irmãos Rene e Marcus Melo não é diferente. Aceleraram forte também, marcando 2h31m38s. No meu ponto de vista eles são os “terceiros”, mas aparecem “lá embaixo” na divulgação… E a lista de injustiçados fica ainda maior com Anderson Guimarães e Francisco Penteado. Terminaram em quarto (2h31m45s), mas só são citados no finzinho do release. Quem garante que o texto será publicado na íntegra nessa época de falta de espaço na mídia, seja ela TV, jornal e até revista especializada? E quem acha que uma emissora de rádio vai ler o release da cabeça aos pés? No máximo o primeiro parágrafo, o lead! Rene e Anderson perderiam lugar na divulgação para o Ulisses Marinzeck (2h38m) e para o Rinaldo Pirro, que ficaram vários minutos atrás dos Ricardos, dos irmãos Melo e do Anderson. O Pirro, por exemplo, está 25 minutos mais lento (2h55m) do verdadeiro segundo lugar, o Brogim.

(Vou abrir um parêntese aqui: antes que atirem a primeira pedra, quero deixar bem claro que o problema não é de quem faz a divulgação do evento, que na verdade só tenta seguir o que é implantado. No caso, o regulamento).

Se o regulamento for mantido dessa maneira, a opinião pública deixará de admirar o rali. Hoje vencer uma prova de cross country, tipo o Sertões, é sinônimo de superação, desafio vencido, audácia, perícia, planejamento, estratégia e uma série de outros adjetivos. É isso que a mídia quer. É isso que a opinião pública e os espectadores esperam assistir na TV ou ler no site, na revista ou no jornal. O ouvinte da Rádio Eldorado quer saber como o Édio e o Miltinho conseguiram ser tricampeões do maior rali da América Latina, como eles superaram os próprios limites, como sobreviveram ao calor da caatinga, como dominaram o carro com tanta audácia… E por aí vai.

Os patrocinadores querem vincular suas marcas à superação de grandes desafios, de conquistas inéditas… Que graça tem ser apenas mais um? Se a verba de patrocínio está difícil, imagine daqui para frente quando a mídia fechar, de vez, o pouco espaço que estamos buscando com muito suor há anos. Como queremos o melhor para o cross country, gostaria de concluir com algumas sugestões:

1) Recriar a “classificação geral” já para o Rally Rota Sul;
2) Classificação por categorias deve e precisa continuar existindo;
3) Peça ajuda e sugestões para a “mídia”. Estamos dispostos a colaborar no que for necessário quando o assunto é divulgação e crescimento do esporte;
4) Abracc (a associação dos pilotos e navegadores) poderia promover uma espécie de cursinho para os jornalistas interessados em aprender sobre rali, categorias, etc… Temos pilotos bons de oratória que dariam conta do recado.

Fica aí a idéia!

Ricardo Ribeiro, de 31 anos, é diretor da VipComm Assessoria de Imprensa e faz a divulgação do Rally dos Sertões, a maior prova off road da América Latina, e da equipe Petrobras Lubrax no maior rali do mundo, o Paris-Dakar.

Este texto foi escrito por: Ricardo Ribeiro