Diversão em Pequim (foto: Manoela Penna)
Direto de Pequim – O sol do Rio de Janeiro, a poluição de São Paulo, a umidade de Manaus, o calor humano dos mineiros. Não há dúvidas, o Brasil é aqui na China.
Um país caótico e feliz, tenso e belo, à flor da pele, mesmo que um pouco mais contido, ao melhor estilo oriental.
A China se preparou como poucos – e como nunca – para receber os Jogos Olímpicos de Pequim. Por mais que os voluntários tenham inglês limitado, são esforçados e sorridentes, e sabem de cor as palavrinhas mágicas: Enjoy Beijing, Welcome to China. No fim, acredite, tudo dá certo.
A pergunta que paira é o quanto Pequim se maquiou para os Jogos. Muito, pouco, ou nada? Mas Gisele Bundchen, mesmo cheia de batom e sombra, não deixa de ser deslumbrante. E esse é o sentimento comum nos Jogos Olímpicos de Pequim. Difícil tarefa da certinha Londres daqui a quatro anos. O ideal seria misturar a precisão londrina com a alma carioca (Rio – cidade candidata de 2016). Talvez assim os Jogos de Pequim pudessem ser equiparados. Ou nem assim.
Locais de competição – O complexo chamado Olympic Green, que compreende o inacreditável Ninho do Pássaro, o deslumbrante Cubo dÁgua, o ginásio de Ginástica e as quadras de Tênis é especial. Uma espécie de Cidade Proibida, sim, que recebe apenas os que têm ingresso e que recebem luz verde nas intermináveis barreiras de segurança. Com chuva, há aquela áurea enigmática; sob sol escaldante eles são uma espécie de Oasis; à noite, a lua cheia os enche de poesia. Ninho do Pássaro e Cubo D´Água já são duas jóias da arquitetura do século XXI.
Os demais locais de competição emocionam mesmo, é verdade. Tive o prazer de entrar também no ginásio da ginástica, do vôlei, do basquete, do judô, do boxe e no Estádio dos Trabalhadores (Workers Stadium), que viu a derrota do Brasil para a Argentina no futebol masculino. São perfeitos, modernos, bonitos, funcionais.
Na final individual da ginástica, a elegância padrão do esporte, desde os beijinhos no pódio entre os medalhistas, até as arquibancadas, compostas em sua maioria por mulheres e famílias em silêncio na hora h.
O vôlei é mais animado, com a turma colorida e disposta a traduzir para qualquer língua o onipresente Zhong guo, jia you (Vai, China!). No jogo entre Brasil e China, nas quartas de final do masculino, o grito de guerra local virou Braxi, jia you (Vai, Brasil!).
Já o basquete é aquele show bad boy, estilo NBA. Cada astro com seu holofote, defense-defense, yeeeeh a cada enterrada. Um público, assim como os outros, sui generis.
O judô convive com uma invasão nipônica (por vezes sentindo a interferência de um francês mais ousado, um holandês mais animado ou torcedores de Azerbaijão e Kazaquistão perdidos na arquibancada). O taekwondo tem um público menor, mas que entende e vibra com cada uma de suas complicadas nuances.
O futebol é aquilo de sempre. Por mais organizado que seja, a emoção de um Brasil e Argentina se encarrega de jogar tudo pelos ares e seja o que Deus quiser. Torcida é torcida aqui, no Stade de France, na Bombonera ou no Maracanã. Aplausos para quem merece. Vaias nem se fala.
O Cubo D´Água, por sua vez, foi a casa ideal para o fenômeno Michael Phelps. Cheira à cloro, tem cor de água.
Agora o atletismo… isso é Olimpíada. Parece que os chineses guardaram o que tinham de melhor para receber os deuses do Olimpo. Luz especial, aplausos, tudo. Não é todo dia que se vê um Bolt ou uma Isinbaieva batendo recordes mundiais bem debaixo do seu nariz. Em uma palavra, o estádio é surpreendente, como ver a Jamaica dominar o atletismo fazendo comer poeira um Estados Unidos atônito.
O estádio é emocional tal qual a russa que conversa com sua vara como quem combina o truque antes de executá-lo. O estádio é colorido como o uniforme de Maurren, que fez o Brasil sorrir de orgulho na reta final dos Jogos. O Ninho de Pássaro existe para acolher o que há de melhor nos Jogos, desde a cerimônia de abertura até o final. É a síntese do que a China tirou de seu baú para mostrar ao mundo.
Os turistas brasileiros têm muito o que fazer no quadrilátero compreendido dentro do quarto anel viário (uma forma de tentar o trânsito fluir um pouco menos lentamente). Há a famosíssima Cidade Proibida, que recebeu até a visita de Sua Santidade Pelé. O Templo do Céu, os Pandas do zoológico de Pequim e, claro, a sempre animada Sanlitun, rua que concentra a maior parte dos barzinhos e boates da capital chinesa. Que o diga Don Diego Maradona, visto por lá dia desses.
A ordem das ações pós Jogos é a seguinte (e isso vale para atletas, jornalistas e torcedores): balé das águas em frente ao Ninho do Pássaro, jantar à base de um bom pato de Pequim, umas e outras na Casa da Holanda (patrocinada pela Heinecken, isso já diz tudo) e after hour no China Doll, espécie de sucursal da Vila Olímpica lá pelas seis da manhã.
Há os que vão matar saudade do feijão nosso de cada dia no badalado restaurante Alameda, brasileiro dos bons. Existe também os que se sentem em casa (no Saara ou na 25 de março) entre as barraquinhas neuróticas do Silk Market, onde pechinchar é preciso.
2012? – No apagar das luzes dos Jogos, só se fala em Londres? Vai igualar Pequim e seus mimos para atletas e imprensa? Vai superar o sistema quase que improvisado de transporte? Será gastronomicamente mais atraente para os paladares globais (embora um kidney pie não deixe nada a dever a um bom espetinho de escorpião)?
Sinceramente, acho que as perguntas são vãs. O melhor dos Jogos Olímpicos é que eles são especiais. Únicos. One world, onde dream – Um mundo, um sonho.
Este texto foi escrito por: Manoela Penna, especial para o Webventure