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Atividade física: treinamento ou estresse?


Toda atividade física representa esforço (foto: Divulgação/ Paletada)

Para nosso organismo, uma atividade física é sempre um esforço físico, não importa se foi previamente planejado e calculado por um personal trainer, como uma corrida matinal na calçada da praia, ou se foi improvisado como uma corrida atrás do ônibus quando estamos atrasados para o trabalho. Em qualquer uma dessas situações, passamos por um estresse físico. Em outras palavras, exigimos de nosso organismo um esforço maior do que o usualmente solicitado na maior parte do tempo em nosso dia-a-dia.

Apesar de parecer um contra-senso, durante nossa pedalada ou remada diária nós estamos apenas “maltratando” nossos músculos e articulações, sobrecarregando nosso coração e nossos pulmões, bem distante da idéia que temos sobre os benefícios para a saúde que um bom esforço físico pode trazer.

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Graças a um delicado e longo processo evolutivo, nosso organismo aprendeu a se adaptar às variações que o ambiente exigia. Desta maneira, um morador de altitude terá mais hemoglobina em seu sangue visando compensar a diminuição do oxigênio no ar atmosférico (apesar da proporção entre os gases permanecer constante) por meio de um maior carregamento deste gás para as células. Do mesmo modo, existe um esforço do nosso corpo em adaptar-se aos “exageros” que impomos a ele quando nos estressamos fisicamente. Se pudéssemos ouvir o que o nosso metabolismo “pensa”, creio que seria algo assim:

  • 1ª situação durante a corrida (adaptações agudas): “Caramba! Esse meu dono está exagerando! Não estou conseguindo levar oxigênio suficiente para as células musculares das pernas. Vou tentar abrir a passagem daqueles capilares sanguíneos que estavam de bobeira sem funcionamento, na tentativa de irrigar esta região que está pedindo ‘arrego’”!
  • 2ª situação logo após a corrida (adaptações crônicas): “Ufa! Dessa eu escapei! Mas, com certeza, não quero passar por isso novamente. Vou pensar em algo que eu melhore no meu organismo para ficar preparado para outra ‘ignorância’ dessas que meu dono queira fazer comigo. Acho que vou aumentar o número de mitocôndrias [nota do tradutor: organela responsável pela geração de energia celular] nas células musculares das pernas e também vou ampliar o volume do ventrículo esquerdo do meu coração para tentar aperfeiçoar a eficiência dos batimentos cardíacos, levando mais sangue de cada vez. Há! Há! Há! Quero ver se ele me coloca novamente nessa furada”!

    Com o passar de algumas semanas, as adaptações crônicas descritas acima, além de muitas outras, chegam ao estado-da-arte, permitindo o organismo fazer aquela atividade física lá de trás, sem o esforço e o estresse sentido naquela época. Pronto! Você agora está adaptado para fazer esta atividade neste nível de intensidade que treinou durante este tempo.

    Neste ponto você diria: “Tá bom! Mas eu ainda não estou satisfeito com a minha velocidade. Quero melhorar mais!” Então não tem jeito. Você tem que sair dessa zona de conforto que atingiu e começar o estresse todo novamente!

    O segredo de hoje: o treinamento desportivo consiste em nunca deixar seu organismo se acomodar e acostumar a um patamar de esforço, variando sempre os estímulos e o nível de estresse.

    Este texto foi escrito por: Carlos Sposito, especial para o Webventure