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Atleta, montanhista, acadêmico, desafiador: quem foi Vitor Negrete


Vitor na subida para o Everest em 2005 (foto: Arquivo pessoal)

O paulistano, residente em Campinas, que morreu nesta madrugada na descida do Monte Everest (8.844m) Vitor Negrete, 38 anos, era um desafiador acima de tudo. De personalidade ativa, dinâmica e otimista, Vitor foi uma personalidade sempre em busca de desafios. Casado com Marina Soler, que mora em Campinas (SP), Vitor deixa também dois filhos.

Para quem não conhecia seu lado acadêmico, Vitor também surpreende. Engenheiro de Alimentos pela Unicamp (onde conheceu Rodrigo Raineri, Tom Papp, Guilherme Setani, entre outros colegas de escalada), Vitor era colaborador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação e fazia estudos para implementação e gestão de alimentos pré-industrializados para comunidade carentes de agricultores no Vale do Ribeira, região também conhecida por abrigar o Petar, uma das maiores regiões brasileiras de concentração de cavernas, ao Sul do Estado de São Paulo. A comunidade quilombola que Vitor e sua equipe de pesquisadores atendia era orientada por eles desde 2002.

Vitor era também colunista do Webventure e teve seu primeiro hot site feito pelo Webventure, em 2002, após conquistar com seu parceiro e amigo Rodrigo Raineri a face sul do Monte Aconcágua, um feito inédito brasileiro. Vitor Negrete era uma Personalidade Webventure e hoje tem um site oficial, com muitas informações sobre suas conquistas.

Montanhas e corridas – No seu currículo de montanha, além das montanhas bolivianas e peruanas, tinha várias escaladas ao Monte Aconcágua, e a mais famosa é com certeza a escalada pela face sul, com Rodrigo Raineri, em 2002, feito inédito por brasileiros. Mas fez também a Via Polacos (sozinho e sem uso de cordas), a normal (Nordeste) muitas vezes, e também a normal no inverno de 2004, a Expedição Invernal do Aconcágua, sempre com apoio do Webventure.

Já em outros esportes, Vitor praticava corrida de aventura desde 2001, quando fez a última expedição Mata Atlântica (EMA), no Pará, e fazia parte da equipe Try On Landscape de Corridas de Aventura, junto com o também amigo e incentivador Caco Alzugaray, apaixonado pelos esportes extremos e proprietário da Editora Três.

Entre seus muitos companheiros, nas viagens de mountain bike pela América teve Osvaldo Stella Martins e Igor Alexandre Walter; na escalada José Fernando e Guilherme Setani (além do sempre dupla Rodrigo Raineri); e nas corridas de aventura David Lindo, Rosana Merino, Ednei Pinto de Campos, Paulo Mazzoco na EMA 2001. Na atual equipe de corrida de aventura, Carlos “Caco” Alzugaray, Ana Carina Alzugaray, Ramon Valls, Alfredo Pereira e a editora da revista Go Outside no Brasil Andréa Estevam.

No ano passado, na chamada Try On Expedition Everest Sem Oxigênio, a mesma dupla tentou fazer o cume da montanha mais alta do mundo pela face norte sem uso de oxigênio suplementar. Analisando as extremas condições, ambos decidiram usar os cilindros de oxigênio acima dos 7 mil metros e Vitor acabou fazendo o cume sozinho, porque Rodrigo sentiu o problema de congelamento nos pés na subida e desceu antes de Vitor, ficando a 50 metros em desnível do cume do Everest.

Nesta inusitada subida, Vitor encontrou com os paranaenses Waldemar Niclevicz e Irivan Gustavo Burda, que escalaram o Everest pela face sul, também com uso de oxigênio suplementar. Foi deste encontro que Vitor teve fotos de sua ascensão, pois a câmera fotográfica havia ficado com Rodrigo e quem tirou suas fotos chegando no cume foi Irivan. Vitor foi o quarto brasileiro a chegar no Everest, depois de Niclevicz, Mozart Catão (morto em 1998) e Irivan.

No retorno ao Brasil, o trio Vitor, Rodrigo e Totó (o montanhista Guilherme Settani, que os acompanhou na escalada, mas acabou ficando no campo base pois não tinha permit para escalar a montanha) falaram ao Webventure que o projeto de escalar o Everest não estava acabado e que tentariam novamente no ano seguinte.

Tragédia em 2006 – O patrocínio não foi o mesmo pela marca esportiva Try On, e nem a Rede Globo os acompanhou desta vez (no ano passado, o repórter Clayton Conservani esteve com os montanhistas e fez reportagens do local). Mas o empenho da dupla e a determinação eram os mesmos, até que Rodrigo sentiu o congelamento dos pés novamente e retornou ao base avançado.

Ontem pela manhã, Vitor iniciou o ataque ao cume sem uso de oxigênio e deixou claro na sua última gravação por telefone satelital que subiria sem oxigênio e sem auxílio do sherpa que o acompanhou até lá. Na descida, Vitor foi encontrado por Dawa Sherpa ainda vivo e levando até o Acampamento 3. Dentro de uma barraca, Negrete não resistiu e morreu às 2 horas da madrugada (horário do Nepal) de hoje.

Deixe aqui sua mensagem para os familiares de Vitor Negrete, seus amigos e a comunidade de montanhismo no Muro de Recados.

Este texto foi escrito por: Cristina Degani