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Atletas de corrida de aventura são “cobaias” em estudo da privação do sono

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Equipe Eco2 é avaliada após a prova. (foto: Camila Christianini/ www.webventure.com.br)
Equipe Eco2 é avaliada após a prova. (foto: Camila Christianini/ www.webventure.com.br)

Quem esteve presente no Ecomotion/PRO, a maior corrida de aventura do Brasil realizada na Costa do Dendê, na Bahia, entre os dias 18 e 23 de outubro, percebeu uma movimentação diferente de alguns competidores ao cruzarem a linha de chegada após os 440 km de percurso.

Os atletas das equipes Atenah, QuasarLontra, Eco2, Lobo Guará e mais Henri Kubota, da H20, seguiram direto para o “Laboratório do Sono”, instalado em uma pousada em Itacaré, para servirem como verdadeiras “cobaias” da pesquisadora Hanna Karen Antunes, do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O objetivo de Hanna é investigar o efeito da privação do sono em atletas de corrida de aventura. A pesquisa ainda está sendo feita e deve continuar ainda por alguns anos. “Sabemos que a privação do sono traz alguns malefícios para o organismo e alterações psicológicas como o mal-humor, irritabilidade, déficit de atenção e raciocínio e algumas alterações fisiológicas”, explicou Hanna.

A pesquisa – Para desvendar a influência desses fatores nos atletas, o estudo começou a ser feito em 2002 na primeira edição do Ecomotion/PRO, realizada na Chapada Diamantina. Na ocasião foram observadas as equipes Atenah, Bio Ritmo e Lobo Guará e em agosto passado foi feito um simulado de corrida de aventura em laboratório.

O grupo a ser pesquisado entre quatro paredes era formado por atletas de corrida de aventura que fizeram a simulação, atletas que não a fizeram e não dormiram, e um grupo sedentário. O grupo sedentário não fez exercício físico, mas estava sem dormir nas mesmas condições dos atletas.

“No primeiro dia todo mundo estava rindo, alegre. No segundo dia as pessoas riam menos, já estavam um pouco mais mal-humoradas e no terceiro dia elas mal conversavam. Observamos então um isolamento social; as pessoas não queriam ficar perto uma das outras, porque o barulho incomodava e não se cumprimentavam pelo nome, apenas fazendo gestos”, concluiu a pesquisadora.

E uma das observações de Hanna é justamente o “pique” dos competidores. “O que chama a atenção no atleta de corrida de aventura é que embora ele esteja fazendo exercício físico por um longo período, ele continua relativamente bem. Parece que o exercício físico, por algum mecanismo que a gente ainda não sabe qual é, protege o organismo dos atletas contra os efeitos maléficos da privação do sono”, esclareceu Hanna.

Sendo assim, a pesquisa realizada com os atletas do Ecomotion/PRO foi feita da seguinte maneira: Além de realizarem diversos tipos de exames como de sangue, urina, cognitivos e composição corporal, os atletas dormiram no laboratório para ser feita uma polisonografia, para avaliar o padrão de sono do indivíduo. Depois de todas as avaliações eles competiram e imediatamente após a prova foram submetidos novamente a todos os exames.

Para este Ecomotion/PRO, da Bahia, alguns atletas já tinham em mãos os resultados dos exames já realizados em outras competições e foram monitorados de perto pela equipe do Instituto do Sono. “A análise conjunta desses e outros exames nos mostra se o indivíduo é matutino ou vespertino, permite traçar uma estratégia para a equipe, sabendo o momento adequado para dormir”, disse Hanna Karen.

Mas as condições podem mudar de acordo com o lugar que está sendo realizada a prova ou a modalidade que estão praticando naquele horário que pretendem dormir. Por isso Hanna dá apenas o alerta para que eles durmam sempre em múltiplo de vinte minutos, para que não acordem no meio de um sono pesado.

Segundo a pesquisadora, os atletas têm diferentes latências de sono, ou seja, demoram mais ou menos para “pegar no sono”. E durante a prova o nível de alguns hormônios está elevado e há mais dificuldade para dormir. Assim, o ideal é que cada equipe tenha o mesmo tipo de indivíduos, para não ter muitas complicações.

Benefícios – “As primeiras 24 horas de privação de sono já provocam alterações psicológicas e a pessoa fica mais lenta, cansada, com abatimento físico e mais irritada. São alterações que ocorrem gradativamente e à medida que o tempo de privação do sono vai aumentando, a tendência é que esses sintomas fiquem mais perceptíveis”, afirma a pesquisadora.

Segundo Hanna, o resultado da pesquisa também irá beneficiar todos os profissionais que trabalham em turnos como jornalistas, médicos plantonistas, bombeiros, policiais, pilotos de avião e motoristas de ônibus sofrem com a privação do sono, o que acarreta queda no rendimento profissional.

Este texto foi escrito por: Camila Christianini

Last modified: novembro 25, 2004

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