Aventura Vulcânica (foto: Arquivo pessoal)
O México é um país fascinante. Pelas ruas, carros de luxo dividem o espaço com táxis antigos. Mas o lugar é especial. Esse foi o destino da vigem que fiz com a minha mulher para um congresso .
Quando o avião iniciou o procedimento de descida reparei numa montanha com neve. Durante o congresso, perguntei para algumas pessoas e procurei informações nos jornais e na internet sobre a tal montanha que havia me encantado. Descobri que eram, na verdade, duas montanhas, aliás, dois vulcões.
O mais alto se chama Popocatepl e está em plena atividade. Recentemente este vulcão entrou em erupção e provocou uma gigantesca operação de evacuação em toda a região. Por isso ele não estava aberto para escaladas. O outro, um pouco mais baixo, se chama Iztaccihuatl e é conhecido como Izta. Este já é inativo e estava nos chamando para uma aventura. Na lenda, Izta é uma bela mulher.
Simplesmente não consegui resistir ao impulso de procurar mais informações e fui conversar com Rubem, um experiente montanhista que já escalou o Aconcágua mais de 10 vezes. Durante a conversa ele fez uma avaliação sobre as condições climáticas, nosso condicionamento físico, o tempo de aclimatação na altitude e outros aspectos.
Depois ele aceitou a sugestão de fazer uma expedição ao topo do vulcão em dois dias (normalmente são gastos três dias naquele vulcão). É claro que topamos.
Com muita expectativa, pegamos as coisas no hotel e iniciamos a viagem até as montanhas. No caminho do parque Izta-Popo, nome do local onde ficam os vulcões, ouvimos várias e repetidas sabatinas sobre os procedimentos de segurança. Chegamos ao primeiro posto de controle do exército mexicano no final da tarde.
Algum tempo depois, chegamos na sede do parque. Lá o guia explicou como seria a nossa expedição para que pudéssemos receber autorização para subir e pernoitar no acampamento base. Tudo certo, o portão foi liberado, e seguimos de carro por mais algum tempo até o início da trilha de subida, em 3.400 metros de altitude.
A subida – Lá pelas 11h30, acordei e estava convicto de que era a hora de iniciar a subida. Os termômetros locais marcavam quase 10 graus negativos. Por isso nas mochilas haviam roupas pesadas, grossas luvas, gorros, e muita água. Tudo pronto, lanternas na cabeça, mochila nas costas, equipamento checado, iniciamos a caminhada.
No começo não se via nada além da trilha, e o frio nos deixava bastante apreensivos. Caminhamos os primeiros 45 minutos em absoluto silêncio. A trilha era inclinada, mas relativamente tranqüila. Fizemos a primeira parada para beber um pouco de água, respirar e fazer um diagnóstico do trecho inicial. Havíamos subido mais de 200 metros, um número animador.
Já estávamos ofegantes e suados, mas a subida ainda estava no início. Pensei: “se piorar muito mais para cima, teremos grandes dificuldades”. Porém a parte mais acentuada ficou para trás, respiramos com mais alívio e chegamos no novo ponto de parada.
Para nossa comodidade, o trecho final para o refúgio era de pequeno declive, que foi percorrido com enorme prazer. Entramos para uma parada mais longa, com uma refeição e descanso.
Aquilo que deveria ser o maior momento de relaxamento foi na verdade o inverso. Demos de cara com uma série de mensagens de despedidas escritas na parede. Algo como “espero voltar vivo e desejo uma boa vida a todos, assinado Paco”, e outras coisas assim. Para deixar o ambiente mais tenso o frio bateu pra valer.
Para ser sincero, foi o momento no qual mais senti frio em todo o dia. Pensei, “se aqui dentro (da barraca) está assim, lá fora deve estar congelante”. Cheguei a ter alguns músculos com tremor.
O trecho do refúgio ao cume consumiu quase 40% da nossa energia de subida. Aumentamos o ritmo da caminhada e o frio foi passando naturalmente. A partir daquele momento entrava em cena um novo componente, o risco intenso de quedas, geralmente fatais.
Estávamos com atenção redobrada, embora ainda não houvesse a necessidade de utilização de guias (cordas). Em vários trechos já não era tão agradável olhar para os lados ou para baixo.
A partir de então começamos a traçar a estratégia final para chegar ao cume. Entrou em cena a força mental, num cenário onde o cérebro vai lutar contra o corpo, e o sucesso só acontece se a razão vencer os impulsos, as dores e as sensações.
“Já estamos quase nos 5.000 metros”, anunciou euforicamente o nosso amigo e guia. Estávamos orgulhosos, pois ele havia confiado na nossa capacidade, e acertou.
Agora só faltava uma caminhada final, com pouca inclinação. Últimos passos, sorrisos nos lábios, cansaço no rosto, alegria na alma: conseguimos! Quase não dava para acreditar. A visão era incrível.
Como Izta é um vulcão, seu cume é difuso, em forma de uma semicratera. Já faz muito tempo que está inativo, mas confesso que quando estava olhando para o outro lado, onde estavam as galerias de gelo, pensei “bom, uma vez vulcão, sempre vulcão”.
Descida tensa – Embora a tarefa de descer possa parecer sempre mais fácil, não é bem assim que as coisas são. Em primeiro lugar, você está em uma posição desfavorável em termos de equilíbrio, pois seu corpo tenda a cair.
Em segundo lugar, você está o tempo todo olhando para baixo, o que nem sempre é conveniente e agradável. Em terceiro lugar, as pessoas tendem a relaxar e facilitar os acidentes, que contam ainda com o
cansaço como um poderoso catalisador. Com cautela, iniciamos a descida.
Mas o guia nos falou que precisávamos descer até o refúgio o quanto antes porque o tempo tinha mudado e havia risco até mesmo de uma nevasca.
Tínhamos uma caminhada de aproximadamente 40 minutos, bastante tensa, com as nuvens se movimentando e o vento soprando com a maior velocidade desde o início da subida. Nossa situação estava altamente propícia a uma surpresa desagradável e a adrenalina foi ao nível máximo. Fomos descendo com um friozinho na barriga.
Ufa! No final tudo deu certo. E que montanha linda! Espero que ela nos receba da mesma forma generosa em nossa próxima visita. Ou, quem sabe, quando você, que está lendo, decida realizar a expedição.
Este texto foi escrito por: Hugo César Hoeschl