Sacha recebe a medalha de ouro nos Jogos Mundiais da Natureza (foto: Arquivo pessoal)
Uma mistura de adrenalina, paz e romantismo. Adrenalina porque nunca sei onde vou pousar e, ao mesmo tempo, é romântico porque não tenho a menor idéia para onde vou, vou curtir….
É com esta frase que o brasileiro Sacha Haim, 25 anos, atual vice-líder do ranking brasileiro e classificado para World Air Games do ano que vem, em Sevilha (Espanha), define o balonismo. Um esporte aéreo considerado teoricamente, ao contrário que muitos pensam, o mais seguro do mundo. É claro, sempre respeitando os limites, brinca.
Bicampeão Brasileiro (1994/ 1997), campeão paulista (1995) e medalha de ouro nos Jogos Mundiais da Natureza (1997), Sacha é hoje a personificação do esporte no país. Filho de um dos fundadores da Associação Brasileira de Balonismo, sua vida não poderia ser diferente. Mesmo antes de nascer, o espírito da aventura já acompanhava a família de ascendência européia. A história começa com meus avós que escalavam e esquiavam. Se conheceram escalando. E isso passou para o meu pai (Salvator Haim). Minha mãe (Silvia Haim) sempre foi maluca, foi pára-quedista e escalava. Os dois se conheceram também na montanha. Casaram e continuaram com a aventura, resume.
Apesar de todo o background, o balonismo caiu de pára-quedas na família Haim. Em 1983, dois amigos do meu pai vieram com a idéia de ganhar dinheiro com o balão. Os dois queriam viver disso. Então convidaram ele e todos começaram a voar. Os dois desistiram. Já meu pai adorou a brincadeira, conta Sacha.
O medo de altas alturas nunca foi problema. Desde moleque, Sacha viajava com a família para escalar e esquiar. Comecei com eles nas montanhas. Eu ia na mochila deles. Sempre estive em contato com a altura, o tempo todo. Neste Aventura Brasil você irá conhecer um pouco mais de um jovem que se dedica e ama o balonismo além das alturas.
Em 1984, Sacha voou pela primeira vez com o piloto Jonathan Thornton. No ano seguinte, aos 10 anos, o pequeno aprendiz já era navegador do pai Salvator. Ele não enxergava nada e precisava de alguém para ver o horizonte. Além disso, tinha outra vantagem: eu era tão baixinho que não atrapalhava a visão completa dele, explica.
Durante sete anos, voou ao lado do pai em todos os campeonatos brasileiros, diversos eventos nacionais e internacionais. Entre tantos, participou do IX Campeonato Mundial de Balonismo em Saga, Japão (1989). Mas em 1992, a brincadeira ganhou seriedade. Neste ano, ele completou dezoito e finalmente obteve o brevê para pilotar sozinho. Antes de ir aos céus para comemorar, Sacha ainda teve a última aula com o único bicampeão mundial Al Nels, que estava de passagem pelo país.
Competindo, o piloto sagrou-se campeão dos torneios mais importantes no Brasil. Lá fora, recebeu reconhecimento internacional ao vencer o 3º European Ballooning Festival, em Igualda, Espanha, julho do ano passado, e por ter tido uma colocação invejável no Festival Internacional Kodak de Balonismo99, de Albuquerque (EUA). Tinham mais de 850 balões e eu fui o quarto, comenta.
Mês passado, Sacha foi vice-campeão no brasileiro disputado em Maringá. Com ar de decepção nada falida, ele diz que o foco está inteiramente voltado para o World Air Games. E ele ainda sonha em bater a marca do melhor brasileiro em mundiais, a 25ª colocação de Rubens Kalousdian.
Entre escolher voar em competições ou em aventuras esporádicas, Sacha prefere os dois. Gosto muito de voar em competições, mas também de passar por aventuras maravilhosas. Foi o que aconteceu durante a filmagem do documentário Três Chapadas e um Balão, em 1997. Depois de sobrevoar a Chapada dos Guimarães, os produtores decidiram fazer alguns takes no Pantanal. Apesar de parecer um coisa simples, foi um dos vôos mais incríveis, lembra Sacha.
Decolamos de uma fazenda com muito verde e água em volta. Na medida que o balão ia subindo, o ângulo de visão aumentava e nos demos conta que a área que tinha água era muito maior. Só víamos água e alguns movimentos na mata, provavelmente, jacarés. Avistamos um lugar seco, só com duas árvores para pousar, a 500 m da Rod. Transpantaneira. Estávamos em dois balões. Meu irmão em um e eu em outro. Aterrissamos os dois em cima das árvores. Daí era só tirar os balões, sem problema. Mas como a Transpanteneira foi construída com a própria terra, sobraram dois canais dos lados, razoavelmente profundos, e onde ficam todos os jacarés. Ninguém queria passar a pé para nos resgatar. Tiveram que dar uma volta e demoraram 4h. O resgate chegou guiado por uma carroça de um pantaneiro típico ao lado do meu companheiro John (Jonathan Thornton)equipado de um GPS (Global System Positon). Até hoje o pantaneiro não deve entender como conseguiram chegar ao balão, seguindo as orientações do GPS.
Atualmente, Sacha mora em Barcelona, Espanha, onde faz mestrado em Arquitetura, Arte e Espaços Efêmeros na Universidade Politécnica de Catalunha. Há alguns meses atrás, morou na Suíça, lugar que realizou segundo ele o vôo mais bonito da sua vida, em 1990, no Chateau D’eux. Acima de 4.500 m, Sacha sobrevoou três vales dos Alpes Suíços. Foi a primeira vez na neve. Você vê tudo branco com a aquelas casinhas com aquelas fumaças nas chaminés. Nossa, fiquei fascinado.
Outro vôo que jamais esquecerá, foi o de uma curta travessia dos Montes Pirineos (divisa da Espanha e França). Via as montanhas com picos de neve e, ao fundo, o Mar Mediterrâneo. Realmente, maravilhoso.
O balonismo no Brasil é um esporte não muito divulgado. Até cinco anos atrás, existiam poucos balões. Foi neste período que o esporte começou a crescer, dobrando o número de pilotos. Antes eu via qualquer balão no céu e sabia de quem era, qual equipe. Hoje, eu vejo um e pergunto a quem pertence. Me respondem que é do piloto x e eu não sei quem é, desabafa.
No Brasil, há cerca de 70 balões voando. Um número ínfimo perto dos 12.000 existentes nos Estado Unidos. Se compararmos aos espanhóis, estamos no mesmo nível, rebate Sacha.
A expectativa é que o número de pilotos aumente mais daqui para frente. Espaço aéreo é o que não falta para voar no Brasil. “No Nordeste venta muito, mas o restante é perfeito”, analisa.
Sacha acredita que estamos na direção certa e que o futuro do esporte é muito promissor. Por incrível que pareça, quando não reconheço o balão no céu tenho uma sensação boa. De que o balonismo está crescendo.
Este texto foi escrito por: André Pascowitch
Last modified: fevereiro 21, 2017
