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Barco quebra e Betão e Igor mudam os planos da travessia


Planos serão atrasados (foto: Arquivo pessoal)

Mastro principal danificado e cronograma mudado. Não estava nos planos de Beto Pandiani e Igor Bely ficaram tanto tempo nas Polinésias Francesas, mas não terá outro jeito.

O último trecho até Mangareva começou na última sexta-feira (23) e a previsão era chegar antes da manhã de domingo. Mas aí começaram os problemas. Primeiro o piloto automático quebrou, mas foi rapidamente substituído pelo reserva. Logo depois, enquanto Betão conduzia o catamarã, Igor senta-se a seu lado e diz: “a travessa principal do barco rachou”. A peça é a responsável pela sustentação da embarcação.

“A frase caiu como um pedaço de chumbo no meu estômago. Fiquei calado por alguns segundos e em seguida falei que iríamos abaixar a vela balão rapidamente e fazer um rizo na mestra”, disse Betão.

Os dois sentaram na proa por algum tempo pensando no que deveria ser feito. A solução encontrada foi fazer um torniquete para evitar que o travessão se rompesse definitivamente e se separasse do casco. Uma adaptação feita anteriormente com uma barra de alumínio evitou o pior. “Se quebrasse esta barra o barco se desmontaria todo, fazendo cair o mastro e quebrando o travessão traseiro também”, explicou Betão.

A Marinha Francesa estava monitorando a viagem da dupla, e caso algo acontecesse, estavam prontos para resgatar os brasileiros. Porém, em caso de resgate, eles teriam que abandonar a embarcação em alto-mar. “Abandonar o Bye Bye Brasil no mar com todo o equipamento a bordo seria um golpe muito duro. Sempre amei meus barcos, acredito que consigo colocar vida neles. Eles são minha casa flutuante, meu veículo, meu lar, tudo”, disse Betão.

Nova peça – A partir daí começou uma série de idéias e possibilidades de arrumar a peça danificada para continuar a viagem. “Começamos a pensar todas as possibilidades com a nossa equipe de apoio, como onde e de que maneira consertar o barco, como enviar a peça para o Tahiti a partir de Mangareva etc”.

O tempo começava a piorar e o vento e as ondas aumentavam de tamanho. A maior preocupação da dupla era chegar na Polinésia. “Mesmo com pouca vela, o barco continuava a surfar, então sugeri que jogássemos atrás dele, na água, cabos para gerar mais arrasto e freá-lo um pouco. Lançamos ao mar cerca de 100 metros de cabo, que ajudaram bastante o barco a ficar mais estável”, disse Betão.

Na parte da noite, os dois tiveram que se revezar no sono, já que o lado de Pandiani era o lado danificado, e não dava para ficar ali. “Com uma lanterna, iluminava a rachadura a cada 15 minutos. A cada onda que quebrava ao lado dele, ou uma atravessada errada, eu ficava imaginando o travessão ceder de vez e o barco se desfazer. Nesta hora a minha briga particular consistia em não deixar os maus pensamentos me contaminarem”, relata.

Para piorar ainda mais a situação, o segundo piloto automático começou a “reagir estranhamente”, segundo Betão, e resolveram desligá-lo. “Daí em diante levamos o barco na mão. Melhor assim, total concentração e, repetia para mim, ‘este barco vai chegar em Mangareva’”.

O tempo começou a melhorar e a dupla conseguia seguir com um pouco mais de tranqüilidade. “À medida que íamos chegando, eu me empenhava mais ainda em velejar cautelosamente, freando o barco a cada degrau de onda”.

“Terra à vista, vamos chegar”, gritou Betão a seu companheiro. “Meus olhos se encheram de lágrimas, vamos conseguir salvar o barco, o projeto esta de pé”, relatou.

Já próximo à costa, um barco da prefeitura fez a escolta do catamarã Bye-Bye Brasil. A bordo, Oficiais da Marinha saudaram a dupla com câmeras fotográficas nas mãos, registrando a chegada dos brasileiros. Foram 60 minutos para entrar na pequena baía de Mangareva.

“Ufa, como é bom chegar, depois de 13 dias no mar em um barco aberto debaixo do sol, que nos castigou muito neste trecho. E, com um final tão emocionante como este, estamos felizes com o resultado, muito felizes”, ressaltou o brasileiro. Foram 31 dias no mar e 4.700 milhas desde o Chile.

Agora a parte difícil será consertar o catamarã. A embarcação foi desmontada e a peça danificada será enviada ao Tahiti no início de dezembro.

A viagem, que estava programada para ser interrompida em 15 de dezembro, terá que ser estendida. Janeiro é a temporada dos furacões e não será possível sair do arquipélago.

“A melhor solução encontrada até agora é recomeçar a viagem em final de abril, daqui mesmo de Mangareva, velejando rumo ao Tahiti em alguns dias, assim o cronograma voltará ao normal”, disse Pandiani. “O melhor sempre acontece, e lá na frente vou saber o porque desta parada inesperada neste pequeno paraíso perdido aqui no Pacífico Sul”, completa.

Este texto foi escrito por: Redação Webventure