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Bastidores: O cabelo já esqueceu o perfume do xampu


Ricardo Ribeiro na Mauritânea (foto: Arquivo pessoal / Ricardo Ribeiro)

Os sobreviventes do Rally Paris-Dakar 2002 estão esgotados, debilitados e sujos, ou melhor, imundos. Muitos rostos não sentem uma lâmina de barbear há muito tempo. Xampu, então, acho que o meu cabelo nem se lembra mais do perfume depois de 15 dias de prova. Não posso deixar de comentar também da barraca, minha fiel companheira. Tudo bem que não consigo olhar para ela nem mesmo pintada de ouro…

Ela quebrou um puta galho nos últimos 15 dias de rally Paris-Dakar, mas hoje será a última noite dormindo na pequena tenda com apenas dois metros quadrados. Passaremos a madrugada de sexta para sábado em Kiffa, ainda na Mauritânia, e daqui iremos para Dakar, onde uma linda cama de hotel nos espera.

Mas se por um lado há o conforto de um colchão, por outro há o inconveniente do espelho. Eu pretendo olhar para um só depois de me recuperar por inteiro do estrago de duas semanas. Afinal de contas, eu odeio levar sustos!!!

Está chegando – A partir de hoje faltam apenas duas etapas para o final do Rally Paris-Dakar. Mas não pense que elas serão moleza. Nesta sexta-feira e sábado, os pilotos percorrerão 1.500 quilometros, apenas com um intervalo de oito horas, tendo que largar à noite para a segunda fase. As oito horas de repouso não resolvem muita coisa.

Os competidores devem chegar a Kiffa no final da tarde, quando o acampamento estará a todo vapor: geradores de energia ligados, marteladas, furadeira, gente andando para lá e pra cá… Dormir com uma barulho desses é quase impossível, mesmo com o cansaço incurável.

E por falar em dormir, a noite passada no acampamento do rali paris-dakar foi terrível. Uma tempestade de areia em Tichit, na Mauritânia, fez várias barracas saírem voando tamanha a ventania, e a sala de imprensa foi improvisada dentro de um avião antonov. Para proteger os olhos das rajadas de areia, óculos para andar de moto ou esquiar na neve eram a única alternativa.

Agora chegou a vez da chuva. Isso mesmo. A chuva! Está caindo água em pleno deserto, em Kiffa, ponto de parada da caravana da corrida. Com a virada do tempo, nós, jornalistas, passamos a ter outra preocupação além de enviar notícias aos respectivos países. A tarefa é achar um local seguro para instalar os notebooks e os telefones via satélite. Afinal, trabalhamos numa tenda e o mesmo buraquinho que permitia a entrada do pó hoje deixa passar a água.

Como dá para notar, o Paris-Dakar reserva uma surpresa por dia.

Ricardo Ribeiro, jornalista e assessor de imprensa da Equipe BR Lubrax, é o correspondente em todas as etapas do Dakar 2002 da cobertura do Webventure em parceria com a equipe.

Este texto foi escrito por: Ricardo Ribeiro