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Beto Pandiani conta os problemas e as belezas da Travessia do Pacífico

Redação Webventure/ Vela

Belezas das ilhas compensavam após problemas (foto: Divulgação/ Maristela Colucci)
Belezas das ilhas compensavam após problemas (foto: Divulgação/ Maristela Colucci)

Beto Pandiani e Igor Bely fazem mais uma pausa na Travessia do Pacífico, a segunda da expedição com o catamarã sem cabine, o Bye Bye Brasil, no mesmo período que estava programada a conclusão da Travessia. Após a partida de Mangareva, em abril, eles iriam passar por algumas ilhas do pacífico sul, agora em percursos diferentes, como atóis, o que dificultaria a viagem e faria com que eles programassem mais pausas, para poderem navegar com o barco o mais leve possível. Mas uma pausa em Vanuatu não estava nas previsões da dupla.

E o que era para ser um descanso de alguns dias, virou dois meses de pausa. O desvio para Vanuatu foi graças a uma quebra nos parafusos da travessa frontal. A urgência do reparo era enorme e eles já estavam preparados para acionar o resgate. Chegando na ilha, foi constatada uma trinca na peça, que irá demorar dois meses para ser consertada. De volta ao Brasil, Beto Pandiani e Igor Bely aproveitam o momento para adiantarem os trabalhos editoriais da viagem, como o livro de fotos e a segunda parte do DVD.

A primeira etapa da Travessia foi documentada pela dupla e sua equipe de apoio em terra e lançada em DVD no primeiro semestre de 2008. Eles retornam ao mar em outubro porém em uma viagem de cerca de 1850 quilômetros, que eles devem completar com a chegada em Bundaberg, na Austrália, em uma semana. A esperança era que eles parassem na Nova Caledônia nas últimas semanas.

Bons e Maus Momentos – “A primeira etapa foi muito difícil até a Ilha de Páscoa. De lá para Mangareva é que foi mais fácil, mas seguimos por dois dias com o barco com quebra e a estrutura principal dele comprometida. Agora, na segunda etapa, pegamos muito tempo ruim”, relembra Pandiani em entrevista ao Webventure. “Saímos preparados para tempo feio, chuva, frio, mas passar por isso com o barco quebrado é mais difícil ainda”.

A travessa frontal é a peça que une os dois cascos do barco e dá sustentação a ele. Uma avaria na peça é algo muito preocupante, ainda mais estando em meio a um oceano, com terras muito distantes e com uma bagagem grande dentro do catamarã, como os equipamentos que Igor e Betão levam no barco, como telefone satelital, notebook, dentre outros, e todo o histórico da aventura documentado em câmeras e computador, correndo o risco de perder todo o registro da viagem.

“Você fica esperando quebrar e pensando no que fazer, em acionar o resgate, fazer a sinalização, usar o colete salva-vidas e salvar todos os documentos em foto e vídeo sobre a viagem. Quando te resgatam no mar você não pode levar tudo. No máximo uma mala com passaporte, dinheiro e além de tudo pensava no que eu levaria, porque saber que você deixou tudo largado no mar é complicado”, afirma Betão, que conta que só se pode pedir resgate no mar quando o barco realmente não tem condições de navegar mais. Enquanto isso, é levá-lo até onde conseguir.

Salvos com muita sorte, Beto Pandiani e Igor Bely, dentre os apuros no Pacífico sul, visitaram ilhas lindíssimas na expedição. Nas pausas planejadas e forçadas, eles encontraram uma diversidade enorme de paisagens, povos, culturas e naturezas.

“Difícil escolher um local preferido, mas a Ilha de Páscoa foi muito marcante para nós pelas belezas e pela receptividade, além dos amigos que fizemos e a história do lugar. Depois, na Polinésia Francesa, os atóis e corais nas águas transparentes foram impressionantes. Já nesta segunda etapa, eu gostei muito de Morea, uma ilha vulcânica linda, as Ilhas Cook, é um lugar maravilhoso, uma ilha muito pequenininha, charmosa, e íamos para um lugar muito lindo no sul da Nova Caledônia, chamado Il de Pins, mas o barco quebrou e acabamos em Vanuatu”, relembra Beto Pandiani.

Sobre esta última pausa, ele afirma ter sido uma surpresa já que o povo local os tratou muito bem, com muito carinho, e ainda durante um passeio eles foram até um vulcão que entrou em erupção quando Pandiani e Bely estavam à sua beira.

“Dá para chegar na boca da cratera e assistir ele explodir. De todas as minhas viagens, foi uma das cenas mais fortes. Ver aquela coisa enorme explodir, subir a lava incandescente, e a cada 20 segundos é uma explosão que treme a terra. Fiquei até um pouco assustado em ver”, contou.

A Travessia do Pacífico começou em outubro de 2007, quando a dupla partiu de Viña Del Mar, no Chile. Foram dois períodos longos mar adentro, um de 13 e outro de 17 dias, sem margem nem terra por perto, só o horizonte e o catamarã sem cabine, o Bye Bye Brasil, que leva os dois para realizarem este desafio.

A primeira pausa aconteceu até abril deste ano, quando eles partiram de Mangareva, na Polinésia Francesa, para a etapa que concluiria a Travessia do Pacífico. Lá, o barco ficou para reparos, já que perto do fim houve uma quebra da travessa frontal e graças aos arremates de emergência feitos pelo francês Igor Bely, eles conseguiram chegar em terra firme. Mas o mau tempo da região, com previsão de tornados, já estava no calendário de Pandiani e Bely e eles sabiam que teriam de parar por algum tempo.

Desde 1994, Pandiani faz viagens a bordo dos seus barcos e foi o primeiro velejador a unir a Antártica ao Ártico a bordo de um catamarã. Igor Bely, francês de 24 anos, viveu 18 deles dentro do veleiro dos pais e tem mais de 400 mil quilômetros navegados, além de cerca de 20 expedições à polares e Antártica. Ou seja, passar meses no mar não é novidade para nenhum dos dois.

Novos Roteiros – Mas as novas experiências ficam por conta das novas rotas a se tomar. Depois de cruzar o Pacífico sul, Beto Pandiani já pensa qual será o próximo desafio. “Em 2009 eu não viajo com certeza, porque desde 1999 eu só não viajei em 2002 e 2006. Porque além de tudo tenho que fazer todo o material de livro, filme, e agora nós vamos lançar a segunda etapa do DVD da Travessia e eu estou terminando o meu livro, O Mar é Minha Terra. Mas o que eu tenho guardado na gaveta é fazer do Alasca à Califórnia, mas ainda não pensei em como fazer, talvez em 2010”, revela Pandiani sobre a expedição que deve durar três meses.

Sobre a viagem em solitário ou com parceiros, ele é incisivo em sua resposta. “Vou fazer com mais alguém, com certeza, e se o Igor puder será com ele. Se acertarmos a nossas agendas, ele será meu ‘parceirão’”, disse.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: agosto 13, 2008

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