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Bikers no caminho português a Compostela

Redação Webventure/ Biking, Expedições

No total  são seis dias de pedal até a Espanha. (foto: Arquivo Sampa Bikers)
No total são seis dias de pedal até a Espanha. (foto: Arquivo Sampa Bikers)

Um grupo de cinco bikers brasileiros está encarando o caminho português que leva a Santiago de Compostela, na Espanha. A viagem do Sampa Bikers terá seis dias de pedal. Eles começaram o desafio no último domingo, em Porto. Direto da Espanha, confira o relato de Paulo de Tarso, presidente do Sampa Bikers e um dos integrantes da equipe.

Redondela (ESP) – Esta é terceira vez que percorro o Caminho de Santiago. As duas vezes anteriores foram pelo Caminho Francês. Pela primeira vez estou pedalando no Caminho Português, saindo da cidade do Porto e seguindo pela rota de Braga, uma rota historicamente mais conhecida e principalmente sinalizada com as famosas setas amarelas que indicam o caminho.

Para realizar este sonho, ao mesmo tempo que é importante um bom preparo físico e mental é necessário um trabalho de consciência e ambientaçao com a rota, lendo sobre a história do caminho, buscando informaçoes e conhecendo a experiência de outros peregrinos.

Hoje (ontem, 12/06), em nosso quinto dia de pedalada, finalmente encontramos um lugar onde era possível mandar por e-mail as notícias de tudo que está acontecendo com nosso grupo. Uma coisa é certa: o Caminho Português é muito mais bonito que o tão famoso Francês.

Os portugueses sentem-se muito orgulhosos de ser, desde as origens, o povo mais ligado â cultura do Caminho de Santiago, e de possuir uma grande variedade de rotas para encaminhar-se ao Apóstolo Tiago. Reis e Rainhas portugueses sempre mostraram o interesse da corte, empreendendo pessoalmente a peregrinação ao túmulo do Apóstolo. O primeiro foi D. Afonso, em 1220. Em 1225, depois da morte de D. Dinis, a Rainha Santa Isabel peregrinou à Santiago e assim outros tantos nobres.

Vamos à nossa viagem, aqui deixo um relato diário:

1º dia (07/06) – Porto (POR): Bagagem extraviada
Nossa chegada à cidade do Porto foi marcada pelo extravio do mala bike do Mauríco, um susto que só foi passar no final da noite, quando a companhia aérea entregou a bagagem em nosso hotel.

2º dia (08/06) – Porto à Braga (POR): Chuva e frio (75 km)
Nosso primeiro dia de pedalada foi marcado pelo mau tempo, uma fina e fria garoa nos acompanhou até o final da primeira etapa, em Braga. Nossa saída, que estava prevista para as 10h, acabou atrasando e muito devido aos reajustes que tivemos de fazer nas bicicletas.

Carimbamos os passaportes de peregrinos e iniciamos nossa tão esperada pedalada. O ponto de partida foi da Catedral da Sé. Dali foi só seguir as setas amarelas; isso quando tinha, pois em alguns momentos elas “sumiam”.

Pedalamos um longo trecho pela cidade do Porto, passando por ruas estreitas, descendo escadas e principalmente por pontos de grande importância turística e histórica, entre eles a igreja de Nossa Senhora da Lapa, onde estão depositadas as cinzas de Pedro Alvares Cabral.

Seguindo as setas amarelas, demoramos a atravessar a àrea urbana. Mas a cada quilômetro percorrido adentravamos pequenos vilarejos sempre acompanhados por belas paisagens, mesmo com a chuva. Até então estavamos só pedalando no asfalto e foi gostoso, apesar de puxado, quando entramos em uma estrada de terra.

Estrada de terra, estradinhas estreitas asfaltadas, trilhas… passamos por todo tipo de terreno. Por volta das 15h, fizemos uma parada para almoço, quando comemos um saboroso bacalhau grelhado, foi ótimo.

Naquele momento, tínhamos percorrido apenas 30 km, nem a metade do primeiro dia. Em princípio, estava tranqüilo porque até as 21h ainda é dia por aqui. Só que as subidas começaram a apertar. O Olavo teve problemas com o pneu, que furou duas vezes. E o Hauser, bastante destreinado, começou a sentir câimbras e reclamar de cansaço.

Resumindo, chegamos a Braga às 21h. Nem chegamos ao centro da cidade, paramos no primeiro hotel que vimos, o Confort Inn. Tivemos a notícia de que não tinha vaga lá e em nenhum hotel da cidade, pois era época de festa. Graças à boa vontade do recepcionista, Sebastião, conseguimos um quarto em uma pensão. Chegamos lá às 22h. No total, foram 10 horas de pedal: nunca tinha feito isso antes, foi cansativo.

No jantar, o Maurício começou a reclamar que não estava bem e desmaiou, para susto de todos. O Hauser, que é médico, rapidamente o socorreu. Alguns segundos depois, ele voltou ao normal, mas suava muito. Tudo isso por comer rápido com estômago vazio. Naquele dia tivemos dois aprendizados:
1) Quando viajar, informe-se sobre feriados e festas regionais;
2) Nunca coma rápido com o estômago vázio.

3º dia (10/06) – Braga à Ponte de Lima, 42 km

Para nossa felicidade, o dia amanheceu azul, sem nenhuma nuvem e muito menos sinal de chuva. Foi duro acordar, pois o cansaço do dia anterior era grande, saímos novamente tarde, às 11h30.

Carimbamos nossos passaportes, tiramos fotos na praça e saímos seguindo as setas amarelas. Elas apareceram após 5 km de pedalada na estrada nacional que liga à Ponte de Lima. Ficamos nela por mais uns 10 km e depois saímos por uma estrada secundária, sempre seguindo as setas.

O Caminho foi lindo, inesquecível. Por toda parte plantações e plantações de uva: a região é rica na produção de vinho.

Paramos para almoçar vor volta das 14h, era dia de jogo de Portugal x Polônia. Aproveitamos e torcemos juntos com nossos patrícios portugueses. Foi festa, Portugal venceu e fizemos um brinde em homenagem. Conquistamos todos no restaurante, foi legal!

Depois do almoço, percorremos 1 km e o Olavo teve novamente o pneu furado, o problema continuava. Consertamos e seguimos na torcida para não furar de novo. Depois de muita subida, chegamos a uma descida inesquecível, uns 10 km de alfalto liso, muito verde e belas paisagens.

O final da descida era a menos de 3 km da cidade de Ponte de Lima. Esperamos os últimos, só que demorou. O Olavo teve mais duas vezes o pneu furado na descida, mas chegamos bem em Ponte de Lima. É uma cidade linda, às margens do rio que dá nome a ela. É considerada a mais antiga cidade de Portugal.

4º dia (11/06) – Ponte de Lima à Valença (POR), 43 km

Nossa terceira etapa de pedalada foi a mais dura do caminho, tanto na irregularidade do terreno por trilhas bastantes técnicas (pior devido aos alforjes) e principalmente pelas fortes subidas – e que subidas!

Saímos tarde de novo. O Olavo tinha muito o que fazer na bike e o Hauser também pois as marchas leves não entravam. Sem contar o Maurício, que teve dificuldade em trocar seus dólares por euros.

Na saída de Ponte de Lima atravessamos a formidável ponte romano-gótica com 25 arcos sobre o rio Lima. No final da ponte, a igreja de Santo Antonio da Torre Velha. E ao lado uma pequena capela medieval aberta, dedicada ao Anjo da Guarda. Nos seus sete séculos de existência, por ali passaram milhares de peregrinos, como nós.

Mundo rural – Entramos novamente no mundo rural, que vem nos acompanhando por todo o caminho. Seguimos por uma bela estrada romana e depois entramos na região de Lambruja, em que a lavoura começa a escassear um pouco e é um morro só, coberto de muito verde, lindo! Mas sofrido, que subidas!

Em alguns momentos, deixamos as setas amarelas de lado à procura de um caminho mais fácil. Depois de muita subida, encontramos um restaurante no início da descida (dessa vez não comemos bacalhau) e seguimos rumo a Valença, última cidade de Portugal.

Valença fica bem na divisa com a Espanha, separada apenas pelo rio Minho. A parte antiga da cidade é maravilhosa, em minha opinião a mais bonita até agora. A parte antiga fica dentro de uma fortaleza. Ainda é possivel ver os canhões apontados para o lado espanhol, em direção a cidade de Tui.

5º dia (12/06)- Valença (POR) à Redondela (ESP), 38 km

Saímos de Valença, pedalamos dentro da fortaleza, onde tiramos muitas fotos e atravessamos a ponte metálica que une os dois paises. O caminho a cada dia que passa fica mais bonito e a pedalada de hoje não foi das mais dificeis, apesar das subidas.

Próximo à cidade de Porriños, o Hauser levou um tombo de bobeira na descida do asfalto e fraturou a mão direita. Na hora do tombo tudo pareceu bem, pois o corpo estava quente e ele seguiu pedalando até o restaurante do primo de um amigo brasileiro.

Lá, ele, que é médico, nos comunicou que tinha fraturado a mão e que não seguiria mais com nosso grupo. Gentilmente o Salvador, dono do restaurante, entrou em contato com a polícia local, que o levou para fazer o curativo no hospital. De lá ele foi encaminhado de ambulància para a cidade de Vigo, distante uns 15 km dali.

Ficamos de boca aberta com o atendimento, tanto da polícia quanto do hospital. Combinamos com o Hauser de nos encontrar em Santiago e seguimos nossa pedalada até Redondela.

Aqui em Redondela, estamos hospedados em um albergue de peregrinos que é ótimo, novo, limpo e confortável. E o que é melhor, de graça. Agora são 22h, estou com fome e vou encerrar. Até amanha, se tiver internet, é claro.

Este texto foi escrito por: Paulo de Tarso

Last modified: junho 13, 2002

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