Webventure

Brasil 500 Anos superou seus limites para completar a prova


Mark Burnett recebeu o Brasil 500 Anos ontem na chegada (foto: Gustavo Mansur)

Bariloche (Argentina) 21:52hs – Foi um final brasileiro com gosto de vitória. Onde valeu muito da determinação e da experiência dos mineiros do Brasil 500 Anos, somados a presença de um norte-americano radicado em Florianópolis e com ginga e malandragem tropical. Uma mistura que deu certo. É a receita da Brasil 500 Anos que completou ontem o Eco-Challenge 1999 na décima oitava posição. Um pulo e tanto para quem no ano passado ficou com a vigésima sétima. Uma prova difícil onde Uriel Santiago, Maria Laura Furtado, Leonardo Gontijo e Richard Pethigal venceram mais do que os obstáculos da corrida, mas superaram limitações do corpo e da relação entre o grupo. Infelizmente não poderemos ver esta cena se repetir com os mineiros no ano que vem. A equipe não conseguiu se inscrever no Eco-Challenge 2000, que acontecerá em na Ilha de Bornéu. “As inscrições foram abertas em um dia e no mesmo dia elas acabaram”, explicou um inconformado Uriel. Em entrevista exclusiva a Webventure, Uriel Santiago conta como foi a prova e fala dos planos para o futuro da Brasil 500 Anos.

Webventure: Dá para explicar qual é alegria de terminar um Eco-Challenge?

Uriel: Eu acho que é difícil explicar para quem nunca participou. Só mesmo participando. São oito dias onde você sente frio, sente calor, dorme mal, muitas vezes não dorme. Tá nevando e você tem que acordar. Tem momentos de estresse, tem momentos de tensão, como no PC8 onde tivemos que descer, então você também sente medo. E no final, quando você completa, você vê que tudo o que foi planejado durante um ano você está realizando naquele momento. É difícil de explicar. E foi muito especial esta chegada este ano, porque a gente chegou junto com outra equipe, o Team Patagônia, da Argentina. A gente vinha junto com eles. Era feriado aqui na Argentina, então tinha muita gente na chegada. E foi uma festa grande que a gente não estava esperando. Foi muito emocionante e acho que só quem completa um Eco-Challenge sabe o que significa isso.

Webventure: E o sofrimento este ano, o frio, o Leonardo que ficou doente. Vocês passaram por momentos de tensão. Alguma vez você achou que vocês pudessem não completar a prova?

Uriel: A gente sempre achou que ia completar, agora a gente tinha um medo de completar só com três. O Leo teve febre. Durante alguns dias ele esteve muito mal, e a gente percebia que ele estava mal. A gente sabia que se ele não melhorasse não ia dar para continuar. Então a gente pensou que poderíamos ter que continuar de três. Depois foi o Richard que teve problemas no joelho. E eu sei, porque já tive este problema de joelho no Marrocos, que qualquer momento ele poderia não ter condições de continuar. Mas deu tudo certo. Os dois superaram as dificuldades e completaram.

Webventure: Para você qual foi momento difícil de toda a prova?

Uriel: Teve vários momentos. O que acontecu com a gente no PC8, a decida do PC8 foi difícil. Foi talvez a parte mais difícil de toda a prova. Fomos pegos de supressa. A gente estava descendo em lugares onde normalmente se desse até fazendo rapel, a gente desceu agarrado na corda, correndo, dois montados na mesma corda. O nível da água da cachoeira havia aumentado então a gente passava nas cachoeiras com um nível da água bem maior de quando a gente subiu. E estava muito frio, nós não estávamos preparados para isso. Todas as nossas roupas molhadas, e ventando. A visibilidade era tão baixa que a gente mal enxergava dois metros a frente. Eu acho que foi a parte mais difícil da prova.

Webventure: Como você faz uma avaliação do grupo na prova?

Uriel: Na nossa equipe, não só aqui, mas em outras provas também, a gente sempre tem algum desentendimento, alguma discussão, e a gente até supera isso. Ontem comentávamos que a gente teve um desentendimento quando a gente estava encoradado descendo do Mt. Tronador, meia-noite, dez graus abaixo de zero, e a gente sentou na neve para discutir, para resolver o problema. Mas isso acontece. Você está durante oito dias, dormindo junto, o tempo todo junto. Um atrasa aqui, outro atrasa ali, um quer fazer uma coisa, outro quer fazer outra, então isso acontece. Várias equipes se separam por causa disso. É uma coisa que você tem que superar também. A equipe que não superar isso não completa.

Webventure: Existe alguma receita para fazer um grupo? Como é para equilibrar as diferenças?

Uriel: Acho que a primeira coisa é o objetivo. Os quatro tem que ter o mesmo objetivo de completar, custe o que custar. Isso é o principal. E serem amigos, isso ajuda bastante. Nós quatro já somos amigos a bastante tempo e isso ajuda bastante.

Webventure: Quem está distante disso tudo, vendo o Eco-Challenge pela televisão, costuma pensar: “O que leva estes loucos a fazerem isso? Qual o sentido disso?”. O que você diria para uma pessoa destas?

Uriel: Todo mundo me pergunta porque a gente faz isso. E até hoje eu não sei responder. Eu não tenho explicação porque eu faço. Eu gosto de aventura, eu procuro aventura. Eu vôo de parapente, eu acho que é uma outra aventura super emocionante. Eu acho que tem gente que já fez uns quatro Eco-Challenge e vai fazer mais um no ano que vem. Eles abriram as inscrições e mais de 350 pessoas queriam fazer. Tem muita gente que procura isso. E é uma aventura que se não fosse através de uma prova destas, com a estrutura que existe por trás, um apoio, um resgate, todo mundo por rádio, equipe médica. Então é uma forma de fazer uma aventura com até uma certa segurança.

Webventure: E quais são os planos para o próximo ano? O Eco-Challenge está difícil por causa das inscrições. Mas o ELF, outras provas. Quais são os projetos?

Uriel: O Eco-Challenge está fora, o ELF se a gente montar uma equipe que seja competitiva ou que possa até brigar por alguma posição a gente pode montar algo para o ELF. Mas temos que voltar para o Brasil para pensar porque a inscrição é muito cara também. E a gente gastou muito neste Eco-Challenge. Não só na inscrição, mas também na compra de equipamentos. A lista de equipamentos é muito grande, então agora a gente tem que fazer as contas para ver se vai dar para fazer o ELF. Mas a idéia é fazer o ELF no ano que vem, talvez a EMA, tem a prova aqui na Argentina em abril, o Raid de Aventura, que a gente ganhou neste ano então a gente deve participar no ano que vem. E por enquanto são estas quatro para o ano que vem.

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur