As regras e a estrutura da modalidade também são baseadas no surfe. (foto: Norio Ito)
Depois de brilhar no Mundial de rafting, encerrado no último fim de semana, na República Tcheca, o Brasil agora vai ser representado no Mundial de kayak surf, em Sligo Bay, na Irlanda. Fora a realização dos campeonatos mundiais em datas próximas, o fato de serem esportes de remada é quase a única semelhança entre essas duas modalidades.
Como o próprio nome diz, o kayak surf – ou canoagem onda, como é chamado por aqui – mistura a canoagem e o surfe. Enquanto o rafting é a descida de rios, o kayak surf acontece no mar, com um equipamento apropriado para ondas. Mas lá vem outra coincidência: a participação do Brasil na edição 2003 do mundial dessa modalidade será uma realização de dois atletas que fizeram nome no rafting, os irmãos Roberta e Maurício Borsari.
Depois de se tornar tricampeã brasileira de rafting, Roberta, que é Personalidade Webventure, passou a dedicar-se a diversas modalidades da canoagem e em 2002 tornou-se a primeira mulher brasileira a conquistar uma vaga no Mundial de kaiak surfe.
Abrindo espaço – A exemplo do que ocorria no rafting quando ela começou a encarar as corredeiras dos rios, a participação feminina ainda é bem tímida no kayak surf brasileiro. Abrindo seu espaço, Bebeta compete com homens, pois não existe uma categoria só para mulheres. Assim, ela terminou na oitava posição no ranking nacional 2002.
Em dois anos de kayak surf, Maurício tornou-se o vice-líder do ranking brasileiro. Sua familiaridade com o esporte veio da experiência de pegar onda, um hobby que o levou ao Havaí e à Nova Zelândia, entre outros points. A exemplo da irmã, ele coleciona títulos no rafting quatro vezes campeão brasileiro e integrante da equipe que foi sétima colocada no Mundial de 1999, na África do Sul. Os dois também têm conquistado vitórias nas canoas havaianas, remando pelo Paulistano.
Apesar de acostumados ao pódio, Bebeta afirma que no Mundial de kayak surf ela e o irmão não têm expectativa de ficar entre os primeiros. Isso porque é a primeira vez que participaremos da competição. Então, o que vier é lucro”, diz a atleta. “Vamos fazer o melhor que sabemos. Temos grande expectativa de intercâmbio e trocas de experiências, principalmente com os melhores do mundo. Teremos acesso aos equipamentos, ao nível técnico lá de fora. Será um grande aprendizado”. O melhor resultado do Brasil em mundiais até hoje foi o quinto lugar, em 1999.
As condições climáticas em Sligo serão um desafio à parte para os brasileiros. “Lá é muito frio, com ventos muito fortes. E as correntes vindas do pólo norte fazem com que a temperatura da água seja extremamente gelada, coisas com que não estamos acostumados por aqui”, explica Bebeta. “Assim, você não consegue ficar muito tempo dentro da água, os músculos travam com mais facilidade e se houver alguma lesão você sente mais e tem muito mais dificulade para performar.”
Como funciona – As regras e a estrutura da modalidade, que nasceu nos anos 60, posteriomente se popularizou na Oceania e nos EUA e começou no Brasil na década de 80 (veja histórico no link abaixo), também são baseadas no surfe. Os atletas têm de descer e manobrar as ondas,. Para ser considerado vencedor, o competidor tem de executar as manobras nas seções mais críticas das maiores e/ ou melhores ondas, com máxima velocidade e o mais elevado grau de dificuldade.
O Mundial na Irlanda começa em 12 de setembro e seguirá até o dia 20 do mesmo mês. Terá mais de 150 atletas no masculino e cerca de 40 no feminino. Com Roberta e Maurício, o Brasil compete tanto no individual como por equipe. Saiba mais no site oficial www.kayaksurfireland.com/worlds
1963 – Começam a ser organizados os primeiros campeonatos de kayak surf. Inicialmente com os caiaques de fibra, modelos de slalom, modalidade disputada em corredeiras;
1968 – Fabricado o primeiro modelo de caiaque especialmente para surfe;
1971 – Crescimento dos praticantes de waveski na Nova Zelândia, Austrália e África do Sul, com cerca de 25 mil participantes;
1974 – Os praticantes de canoagem de corredeiras invadem as praias e fazem com que o número de praticantes do kayak surf se multiplique;
1983 – O esporte se populariza nos EUA, e surgem dois grandes pólos de kayak surf no país, nascendo duas fortes equipes;
1988 – Primeiro time americano de kayak surf a participar de um Mundial, na Irlanda;
1989 – Surge a primeira marca oficial do caiaque high performance. Diferente dos modelos baseados no shape para rio, o novo caiaque tem sua estrutura baseada num waveski (prancha), e possui uma borda lateral que permite que o caiaque performe como uma prancha de surfe. Uma revolução no kayak surf!;
1995 – Último Mundial, na Costa Rica, a contar apenas uma categoria, a internacional (qualquer caiaque sem quilha, até 3 metros);
1997 – No Mundial da Escócia, acontece a primeira exibição da categoria high performance, com oito atletas;
1999 – E foi no Mundial do Brasil, no Rio de Janeiro, que se oficializou a categoria high performance junto à internacional;
2001 – No Mundial da Califórnia, os atletas da categoria high performance já apareceram em número bem superior à classe internacional, por a primeira ser mais rápida e permitir manobras mais radicais;
2002 – Neste ano aconteceram a seletivas para o Mundial da Irlanda em 2003. No Brasil os atletas convocados pela CBCa (Confederação Brasileira de canoagem) para ir ao evento são definidos pelo ranking nacional.
Vocabulário
Kaiak surf, canoagem onda ou waveski? – Cuidado para não confundir esses três nomes. O kayak surf, também chamado no Brasil de canoagem onda, é a modalidade em que se usa remo e caiaque para surfar. Já no waveski o atleta também usa o remo, mas surfa sentado numa pracha e preso a ela por uma espécie de cinta. No Brasil as duas modalidades coexistem num mesmo campeonato. Lá fora, cada uma delas tem competições independentes. Enquanto o Mundial de kayak surf acontece agora em setembro, na Irlanda, o de waveski será em outubro/novembro, em ilhas francesas.
(*) Colaborou: Roberta Borsari.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira