O reconhecimento no meio do nada… (foto: Ricardo Ribeiro / VipComm)
Exclusivo, direto de Dakhla (Egito) – Geraldo Lima é estreante no Dakar e talvez esteja vivendo um dos mais importantes desafios da vida dele. Quando nos encontramos na Tunísia, o primeiro país africano da competição este ano, ele contou empolgado que havia dado vários autógrafos para os africanos. Até aí, nenhuma novidade. Afinal, nós somos abordados a toda hora pela população local que busca qualquer tipo de recordação do maior rali do mundo.
Durante a conversa, Gera, como nós o chamamos, disse que a reação das pessoas era inacreditável quando descobriam que ele era brasileiro. As crianças ficam excitadas quando viam a palavra Brazil embaixo do meu nome. É impressionante como eles se emocionam, narrou o mecânico responsável pela manutenção da moto de Jean Azevedo, da equipe Petrobras Lubrax. Não dei muita bola para as histórias do Geraldo. Ele é estreante no rali e tudo é novidade, pensei com meus botões.
Os dias foram passando. Depois da Tunísia, atravessamos o deserto da Líbia e agora estamos no Egito. Nos poucos minutos que tenho de ociosidade no Dakar, que é dentro do avião de imprensa entre uma viagem e outra, lembrei das histórias do Geraldo, aquelas que entraram de um lado e saíram do outro… Parei para pensar no fenômeno que está acontecendo com a equipe brasileira.
Reconhecimento – Ontem fui abordado por um funcionário do canal France 2, importante emissora de TV francesa que faz reportagens especiais sobre a prova. Ele estava educado, simpático, tinha um largo sorriso no rosto. Até estranhei… Afinal, o cara era francês! Sem muita onda, foi direto ao assunto. Queria trocar um boné oficial da equipe, aquele verde com Lubrax na testa e BR nas laterais, por um da empresa em que ele trabalha.
Também fui simpático (afinal, não sou francês; sou brasileiro!). Disse que poderia fazer a troca mais tarde. O meu boné está imundo, fedido, e não queria dar aquele. Disse que precisava ir até o caminhão do Geraldo pegar um novo, mas só depois do almoço. E não é que o sujeito sentou ao meu lado e ficou me esperando terminar de comer?!? Ainda tentei desconversar, falando que o caminhão estava muito longe, a mais de 500 metros. Dont worry. I cant wait for you and we can go together, respondeu. Em inglês!!! (Os franceses adoram falar inglês. Eles se acham o máximo…)
Eu dava uma garfada, fazia onda, dava outra garfada, enrolava… e ele continuava lá, firme e forte. Sem outra opção, lá fomos nós andar pelo deserto atrás do bendito boné. Quando tirei aquela coisa verde da mala, o sorriso que já era largo ficou ainda maior… Brésil super!! Merci, disse ele. Depois que conseguiu o que queria, agradeceu em francês. Claro!
Fazendo história – O exemplo desse meu novo amigo, que está no sétimo Dakar e que nunca falou comigo em anos anteriores, mostra que estamos vivendo uma situação interessante. No acampamento, no aeroporto, dentro do avião, na tenda de imprensa, na hora do jantar, as pessoas falam ô brasileiro… Não exatamente no nosso português, mas numa salada em vários idiomas…
E por falar em sala de imprensa, repórteres de vários países querem escrever sobre os pilotos da equipe Petrobras Lubrax. O jornal LEquipe, o mais importante especializado em esportes da França, está de olho nos brasileiros e anunciou que quer fazer uma entrevista. A revista Solo Moto, da Espanha, apelidou Jean Azevedo de revelação canarinho. O senegalês Le Soleil, do jornalista Babacar Ndiaye, o nosso amigo Khalifa, escreveu uma reportagem especial com duas fotos… Tem ainda os italianos, húngaros, poloneses, holandeses… Interessante esse momento.
Gigi Soldano, fotógrafo italiano com vários e vários Dakar no currículo e autor de imagens belíssimas do livro oficial da prova, toda vez me chama no final do dia para olhar a tela do notebook dele. Mostra, orgulhoso, os pilotos brasileiros nas etapas pelo deserto. Uma fotografia mais linda que a outra…
Relembrando tudo isso, penso naquela música que as torcidas cantam em coro nos estádios de futebol lotados… Ah, sou brasileeeiiiroooo, com muito orgulho, com muito amoooooorrr…
Este texto foi escrito por: Ricardo Ribeiro
Last modified: janeiro 15, 2003