Webventure

Brasileiro encara travessia solo até o Pólo Sul


Julio Fiadi (foto: Divulgação)

Os paulistanos que freqüentam o clube do Estádio do Pacaembu têm reparado em um atleta no mínimo estranho nos últimos dias. Júlio Fiadi corre na pista ao redor do estádio puxando três pneus, três vezes por semana. É o treino para sua expedição até o Pólo Sul em solitário, a bordo de um trenó habitável, que começa neste domingo.

Ao que se tem registro, apenas 12 pessoas conseguiram concluir a travessia entre alguma praia antártica e o marco internacional do Pólo Sul em solitário. Nenhuma delas, porém, levando a própria “casa” em um trenó, como será o caso de Júlio Fiadi.

O brasileiro, de 1,85m de altura e 47 anos, vai passar dois meses caminhando por 1.200 quilômetros, sobre o gelo da Antártida, puxando um pequeno trenó desenvolvido por ele mesmo. “Já fiz dez viagens para a Antártida, e em todas elas a barraca foi um problema, por ser difícil de montar e não isolar o frio. Tive a idéia de criar um trenó em que pudesse morar nesses dois meses”, explica Fiadi.

O trenó – Julio terá como companheiro de viagem o primeiro trenó habitável do mundo. Uma cabine com pouco mais de um metro quadrado de área em que ele irá levar todos os equipamentos, comida e que também servirá como casa.

Como o principal desafio é enfrentar o frio (a estimativa da expedição é de enfrentar temperaturas de até 40° C e ventos de 180km/h), tudo no trenó foi pensado para manter o calor. “Temos várias janelas com vidros duplos e uma camada de ar entre eles. Isso ajuda a isolar a temperatura. Além disso, todo o revestimento é refletivo, para aumentar o calor do sol dentro do trenó. Foi tudo pensado para não deixar o calor escapar”, informa. Em testes feitos no primeiro semestre na Antártida, o trenó manteve 20°C de temperatura interna, quando a externa batia os 25 graus.

Preocupação em manter o calor está também nas roupas de Julio. Uma segunda pele desenvolvida pela empresa Solo, especializada em montanhismo, tem a função de mantê-lo seco e ajudar na transpiração durante a viagem. Se o corpo ou as roupas ficarem úmidos, facilita o congelamento da transpiração e o corpo pode entrar em hipotermia. “Já houve casos em que por estar com muita roupa a pessoa sua demais, o suor congela e ela morre de frio por estar agasalhada demais”, conta Fiadi.

O Sol também será o responsável pelo abastecimento de energia elétrica, por meio de placas de energia solar. Entre os equipamentos estão ainda telefone satelital, bússola e GPS. Uma mochila-arreio foi desenvolvida pela Curtlo especialmente para o brasileiro, com locais específicos para prender o trenó e ainda levar equipamentos de uso constante, como um suporte para a bússola.

Julio Fiadi afirma que o objetivo da expedição é unicamente pessoal. Ele investiu R$ 300 mil na viagem, “dinheiro que ganhei com as palestras que dou e outros trabalhos”, conta. “Não quero quebrar recordes nem ser o primeiro de nada, sempre fui apaixonado por grandes aventuras, li vários livros que me encantaram, agora vou fazer a minha”.

“Teve um monte de gente me falando que era impossível. Isso motivou para seguir em frente e fazer acontecer. Hoje várias pessoas ficam surpresas com o trenó, e já ouvi que é o sonho de muitos”, diz o brasileiro.

O treino de Fiadi não fica só em puxar pneus, todos os dias ele sobe os 19 andares de seu prédio a Pé, e já engordou seis quilos para ter reserva de energia durante os 1.200 quilômetros pelo gelo antártico. Toda a alimentação será carregada por ele. “Tivemos que chegar em um meio termo entre levar comida calórica e leve ao mesmo tempo. Optei por refeições liofilizadas e castanhas”, conta.

“Muito peso aumenta a energia que devemos ter, e por isso devemos levar mais comida, o que gera mais peso. É complicado encontrar uma quantidade ideal”, explica o brasileiro. Em cinco dias a caravana parte para Punta Arenas, no Chile, de onde sairá o barco que leva Fiadi e o trenó até alguma praia do continente gelado. O destino preciso da partida será definido na hora da chegada, dependendo das condições de aproximação.

“A Antártida é a maior região desértica do mundo. Não há vida. Nem um vírus sobrevive lá, é impossível pegar uma gripe, por exemplo. Mesmo assim, é um lugar lindo”, conta Julio. Para ele, o maior risco, além do frio, são as gretas grandes valas entre o gelo, cobertas por neve fofa.

O Pólo Sul – O ponto conhecido como Pólo Sul geográfico é o encontro de todos os meridianos da Terra. Como são eles que determinam o fuso-horário, pode-se dizer que o Pólo Sul é um local sem horário. O clima e estações do ano ajudam a confundir mais ainda os aventureiros, o local tem seis meses de sol e ouros seis de noite.

Em dias de tempestade, uma névoa branca toma conta do caminho, se mescla com a neve e tira completamente a noção de horizonte. “Sem referência do que é embaixo e em cima, é comum cair nessas ocasiões”, explica Fiadi.

Por dois meses, sozinho, Julio Fiadi irá caminhar pela região mais isolada do planeta, por vezes com condições mínimas de resgate em caso de acidente e com apenas um objetivo na mente: “O tempo deve ser gasto entre andar e descansar, qualquer outra coisa é perda de tempo e energia”.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa