Da esq para dir: (acima) Irivan Portela e Dalinho; Chiquinho Bonga Niclevicz e Tartari. (foto: Divulgação)
Com o objetivo de serem os primeiros brasileiros a vencer a Trango Tower (6.252 m), maior parede vertical do mundo com 1.500 m, no Paquistão, Waldemar Niclevicz, Alexandre Portela, Sérgio Tartari, José Luiz Hartmann (Chiquinho), Dálio Zippin Neto, Irivan Burda e Marcelo Santos (Bonga) partiram esta semana para o Yosemite Valley, na Califórnia (EUA), como treinamento para o desafio.
A equipe passará 26 dias aperfeiçoando as técnicas de escalada em big wall (escalada em rocha, misturando livre e artificial com pernoite) e ganhando entrosamento. O Yosemite Valley é considerada a Meca da escalada em rocha. A escalada de big wall foi inventada lá, assim como os friends e nuts. É o lugar perfeito. A parede da Torre de Trango é muito similar ao El Capitan, de granito vertical com muitas fendas, explicou Dálio.
Serão duas investidas na via El Capitan, com 1.000 m, uma na Half Dome , de 600 m, e na Sentinel Rock, de 500 m, e algumas outras na Cathedral Rocks, vias que variam entre 200 e 300 m. Vamos fazer um treinamento de grande parede da equipe toda escalando junta, se entrosando e aprendendo a conviver um com outro. Tenho que saber como o resto da equipe vai reagir quando estiver em uma situação de não comunicação, de sufoco, por exemplo, comentou Portela.
Experiências – Apesar dos sete nunca terem escalado juntos, todos se conhecem de outras escaladas e possuem experiências tanto aqui como no exterior. Só escalamos todos no Corcovado, nosso último treino. Foram sempre grupos separados. Eu já escalei com Waldemar no Aconcágua, com Dálio na Marumbi e muitas vezes com Ségio Tartari, exemplificou Portela.
Ele e Tartari, por sinal, abriram o primeiro big wall no Brasil, a Tragados pelo tempo, no Corcovado (RJ), em 1982. É uma via que até hoje ninguém fez em menos de dois dias. Já fiz ela sete vezes. O tempo recorde é meu e do Serginho, em um dia, lembrou.
A dupla já percorreu grande parte do território nacional atrás de rochas propícias para a prática da modalidade. Recentemente, eles abriram a via Fuga do Calabouço, de 400 m, no Morro do Castelão, ao longo da travessia Petrópolis-Teresópolis. Não é muito técnica mas conquistamos direto. As pessoas não conhecem. É uma parede tão escondida, que não bate sol nenhuma hora do dia. Portela e Tartari são também os responsáveis pela maior via do país, a conquista da Terra de Gigantes, de 600 m, na Pedra do Sino (Serra dos Órgão/ RJ). Foi a mais difícil tecnicamente, descreveu.
Fora do Brasil, o carioca de 36 anos já fez a montanha Liberty Bell, na fronteira dos EUA com Canadá (dois dias), a Agulha Poincenot (face sul) no Cerro Torre na Patagônia Argentina, o próprio El Capitan, duas vezes, entre tantas outras. A maior é dificuldade é a motivação, que é aquela mola propulsora para passar vários dias na parede até chegar ao cume. Depois é a estratégia e a dificuldade da via, resumiu.
Ascensão – No Yosemite Valley, a equipe irá treinar duas táticas diferentes de ascensão. Na primeira, chamada de cápsula, os escaladores sobem e perdem o contato com o chão. Já na segunda, o escalador instala cordas fixas na medida que vai subindo, mantendo um cordão umbilical com o solo.
A diferença de um para o outro é no comprometimento. Se você está na metade da parede e o tempo vira, se estiver preso a cordas fixas você desce. Se está no estilo cápsula você reza e espera o tempo melhorar. Vamos fazer o treinamento dessas duas para a Trango Tower, que é uma vez e meia maior que a El Capitan, contou Dálio.
Curitibano de 34 anos, Dálio já entrou no El Capitan seis vezes, das quais completou duas, em 1999. Possui também um know-how de escaladas no Aconcágua (Patagônia Argentina), Cordilheira Real (Bolívia), Zinal (Suíça), Piemonte (Itália), além das conquistas em solo brasileiro, na Serra do Marumbi, Serra da Farinha Seca, Ilha do Mel e Pico Ibitirati. A escalada do El Capitan tem um misto de proteções fixas e móveis. É um exercício completo para o que vamos enfrentar na Trango, afirmou.
Para ele, o revezamento da equipe na subida da Trango é essencial para a sucesso da expedição. Big wall não se faz com sete pessoas. Se faz com duas ou três pessoas. Mas em função da dificuldade, do isolamento, da altitude, achamos por bem irmos em sete para a Trango. Assim poderemos revezar. O chefe da expedição é o Waldemar, mas todos os escaladores que estão na equipe têm condições de guiar.
Este texto foi escrito por: André Pascowitch