Rodrigo Raineri no cume do Everest em 2008 (foto: Arquivo pessoal)
Três montanhistas brasileiros partem dia 27 deste mês para o Nepal, afim de escalar o Everest (8.850m) em uma expedição que reúne experiência na montanha e uma série de ineditismos. Rodrigo Raineri, montanhista de 41 anos e líder da expedição, foi um dos oito brasileiros que já chegaram ao topo do mundo, em 2008.
Desta vez, o desafio maior estará no retorno. Raineri pretende saltar de Parapente do cume da montanha, em uma descida que deve durar meia hora ao invés dos normais três dias de trekking. Se conseguir, será o primeiro brasileiro a saltar do Everest. Ao lado dele estarão seu atual sócio na empresa Grade 6, Carlos Eduardo Santalena, de 24 anos, que pode se tornar o mais jovem brasileiro no topo da montanha, e Carlos Eduardo Canellas, cliente da empresa que treina há dois anos para escalar o Everest, após um acidente de trabalho.
Raineri e Santalena estiveram presentes no treinamento de Carlos Canellas, seus cursos de escalada em gelo, trekkings e montanhas na América do Sul. Próximo da viagem, foram convidados a subir a o Everest em equipe. Não havia premeditado essa volta, mas quando o Carlos me convidou, foi como oferecer doce para criança! A montanha faz parte de mim, sempre tive vontade de voltar, conta Rodrigo Raineri. Mas já avisei aos dois, estarei junto na subida, mas quero descer sozinho, e voando.
Maior desafio – Desde 2009 o brasileiro realiza treinos para saltos de Parapente em alta montanha, como no Mont Blanc (4.810m). Para ele, o desafio de saltar do topo do mundo é maior do que atingir o cume do Everest. Caso as condições não estejam perfeitas, será preciso descer a montanha pelo caminho normal, com o peso extra do Parapente, cerca de cinco quilos.
Com certeza voar é mais difícil que chegar ao cume. É uma região muito técnica para fazer um voo, vou decolar com vento contra, de altitude, em uma região cheia de montanhas e ventos de vales, rotores que já derrubaram diversos helicópteros, e tem o ar rarefeito que prejudica a sustentação e aumenta a velocidade, prevê o montanhista. Ainda assim, de acordo com Raineri, se tudo correr bem a descida deve durar pouco mais de 30 minutos, e chegar em um vilarejo próximo do Acampamento Base, o que representa uma economia de três dias em um momento chave da escalada o retorno.
Ainda tem os riscos do pouso. O local fica a 5.100 metros de altitude, mais alto do que o cume do Mont Blanc onde eu decolei. Vou chegar muito rápido, será um pouso técnico, assim como todo o voo. Se tudo ocorrer como o plano normal, quando eu pousar a dupla que ficou não vai estar nem no cume sul (8.748m), completa.
Com a experiência de quem já fez o Everest, Aconcágua no inverno, Kilimanjaro, saltou do Mont Blanc e perdeu as contas das horas de voo em Parapente, Rodrigo Raineri se sente preparado na medida certa para encarar o novo desafio.
Tudo na vida eu acho que deveria treinar muito mais, sempre, tanto a parte técnica quanto física. Mas também não tenho como postergar tudo e chegar a um momento que eu ache ideal. O ótimo é inimigo do bom, em tudo. Poderia sim estar melhor, mas tenho confiança que estou bem para subir a montanha e descer voando com segurança. Até porque, a decisão de decolar ou não vai depender das condições do clima. Pensando nisso, é até bom eu ter uma postura conservadora para decolar, melhor do que ser mais agressivo e estar com confiança demais, que pode causar um acidente, avalia Raineri.
Segundo ele, o dia do ataque ao cume será decisivo para a escolha sobre o salto ou retorno de trekking pela rota normal. Condições de clima como velocidade e inclinação do vento tanto no cume como no vale , nuvens, hora do dia, além da própria condição do escalador, são fatores chave para a decolagem. Preciso de um dia abençoado para conseguir voar, resume o montanhista.
Companhia – Os dois montanhistas que irão acompanhar Raineri podem ser considerados seus discípulos . Carlos Santalena passou de cliente a sócio da Grade 6 e já tem no currículo o posto de guia de expedição para trekkings ao Aconcágua e acampamento base do Everest. Ele já tinha conhecimento de escalada em rocha, e tem condições de ir para a montanha, explica Rodrigo.
Já Carlos Canellas fez praticamente todo o treinamento de montanha com a dupla da Grade 6. Quando o Canellas me procurou para prepará-lo para o Everest, o plano não era eu ir junto. Ele fez um trekking até o acampamento base do Aconcágua comigo, e vi que ele é um cara resistente, super bom astral, não tem problema com privação de banho, sono, frio. Enfim, tem o perfil de alcançar o Everest. Já dei esse feedback para ele na primeira viagem. Ia depender do treinamento dele para fazer com segurança, já que a idéia não é ir para ser arrastado lá em cima. Quando estava pronto, ele me convidou para ir junto, lembra o montanhista.
O Webventure irá acompanhar a temporada dos brasileiros no Everest, com fotos e boletins exclusivos da equipe brasileira, além de relatos das expedições estrangeiras na montanha e no Himalaia. Acompanhe!
Este texto foi escrito por: Daniel Costa