Além dos desafios naturais, o Rali Paris-Dacar-Cairo 2.000 está trazendo uma nova preocupação para os 400 competidores inscritos:
a possibilidade de ficar a pé no deserto, consequência dos assaltos
que ocorreram nos dois últimos anos durante a travessia dos quase
11 mil quilômetros do percurso.
Pioneiros entre os brasileiros no Paris-Dacar, Klever Kolberg e André Azevedo, da Equipe BR Lubrax, lembram que pequenos furtos sempre ocorreram, mas nunca houve nada com a intensidade nem a frequência constatada nas duas últimas edições do Rali. Nesse ano, aconteceu o maior roubo dos 21 anos da competição: guerrilheiros emboscaram e roubaram 50 concorrentes. Levaram dinheiro, alimentos, roupas, ferramentas, pneus, combustível, além de dois caminhões, dois carros, uma moto e um quadriciclo. Mesmo sem ter nenhum participante molestado, o incidente poderia ter consequências fatais se eles não tivessem conseguido se comunicar imediatamente com os organizadores.
Sinal de emergência – “Foi esse contato imediato que impediu que ocorresse uma tragédia, já que ficar a pé no deserto é um perigo seríssimo”, preocupa-se Klever. Por isso, tanto o Mitsubishi Pajero quanto o caminhão Tatra T815 da Equipe BR Lubrax contarão com um sistema de monitoramento via satélite Controlsat que, além de permitir a localização do veículo, dá aos participantes a possibilidade de emitir um sinal de emergência que pode significar a diferença entre a vida e a morte. “Isso já nos deixa bem mais aliviados, mas ainda vamos ficar preocupados com o Juca Bala, já que nas motocicletas não há espaço para instalarmos o sistema Controlsat.” A Equipe BR Lubrax é a única que terá representantes nas categorias de carros, caminhões e motocicletas.
O checo Tomas Tomecek, que vai dividir com André a pilotagem do caminhão Tatra, já viveu essa desagradável experiência. Ele fazia parte da tripulação de um dos caminhões que lideravam o Paris-Dacar de 1998 e que foram atacados por guerrilheiros numa região de dunas, na fronteira da Mauritânia com o Mali. Seu caminhão foi roubado e ele e os outros dois membros da equipe foram resgatados pela organização.
O assalto forçou os organizadores a mudarem completamente o roteiro da prova, que dessa vez ligará Paris a Dacar e ao Cairo, com a constante
preocupação de evitar as regiões mais perigosas. André lembra que
já estava acostumado aos pequenos furtos, uma constante desde suas primeiras participações no Dacar, mas eles nunca haviam atingido essas dimensões.
Miséria – “Crianças e adultos, por questões de sobrevivência, saqueiam até os latões de lixo em busca de alimentos”, conta o experiente piloto. “Na África, atravessamos regiões de grande miséria. Quando estamos dormindo, os ladrões cortam as barracas e puxam o que podem lá de dentro. Normalmente, os exércitos locais protegem os acampamentos, mas é melhor colocar tudo em uma mochila ou no carro. Mas nos dois últimos anos, eles chegaram armados e todo mundo teve de entregar tudo para sair vivo”.
“O pior é que isso já está virando hábito”, lamenta Klever. “O deserto
é terra de ninguém, serve de abrigo para guerrilheiros, exilados,
rebeldes, todo tipo de pessoas armadas e organizadas para a luta.
Nas duas ultimas edições do Dacar, tivemos de conviver com este
problema, e por mais que nos preparássemos para os riscos de uma
competição como o Paris-Dacar, ninguém esperava um assalto”.
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: dezembro 9, 1999