Youssef e Guiga foram campeões do Sertões 2010 (foto: Stefan Susemihl)
Em 2010, Guilherme Spinelli conquistou seu terceiro título do Rally dos Sertões. Impulsionado pela vitória no segundo maior rali do mundo, o piloto encara agora o Rally Dakar, que acontece entre os dias 1º e 16 de janeiro, na Argentina e no Chile. Apesar da boa temporada no Brasil, Guiga, que estará ao lado de Youssef Haddad na disputa, não acredita que poderá repetir o feito da prova nacional e conquistar o maior rali do mundo no próximo mês.
É sempre bom vencer o Sertões, mas eu tenho bastante consciência de que o Dakar é outro nível de concorrência, tanto de equipamentos quanto de duplas, com os melhores pilotos e navegadores do mundo. Então, hoje ainda não dá para sonhar em disputar a vitória do Dakar, mas, sem dúvida nenhuma, a vitória no Sertões motiva a ir mais seguro. Anima mais, mas nós sabemos que são ralis e concorrências diferentes e que lá o objetivo é outro, disse Guiga.
Apesar de não acreditar em título, o piloto está animado para largar da cidade de Buenos Aires no próximo mês. Em um ano em que os desafios do Dakar serão totalmente novos, o piloto vê o projeto do Mitsubishi Racing Lancer evoluindo aos poucos e encarando com qualidade uma disputa renovada, perdendo apenas para os carros movidos a diesel.
Então estou feliz por poder ir pela terceira vez, mais uma com o Racing Lancer, um carro fantástico e projetado para o Dakar. O Lancer é um projeto fantástico de chasi, de centro de gravidade, de suspensão. Ele só não consegue andar mais rápido na geral por causa de uma restrição no regulamento FIA, que permite mais preparação para um motor a diesel do que para um motor a gasolina. Então, na categoria gasolina, ele é super competitivo, mas, na geral, ele perde um pouco por ser movido a gasolina, explicou.
Equipes oficiais – Em quase todos os anos, observa-se, no Dakar, um domínio total das equipes de fábrica. Com mais recursos, times como o da Volkswagen e da BMW sempre andam bem a frente dos demais competidores, quase que dividindo a disputa em duas totalmente diferentes.
Guiga entende isso e sabe que a situação de sua equipe é muito complicada. É sempre difícil competir contra uma equipe oficial. Eles têm todos os recursos financeiros e técnicos. O meu carro, apesar de ter sido construído pela equipe oficial Mitsubishi, depois que ela saiu, o desenvolvimento do carro não continua no mesmo ritmo que era antigamente. Nós sabemos que andar na frente dos oficiais pode acontecer, mas não é o normal, afirmou.
Mesmo com as dificuldades, assim como quaisquer equipes, as duplas oficiais podem também sofrer com problemas mecânicos durante as especiais. Sabendo disso, Guiga aposta em Youssef como seu navegador por este ter trabalhado durante muitos anos na parte de desenvolvimento da Mitsubishi. Pelo mesmo motivo e por todos os estudos que vem fazendo do Racing Lancer, Haddad tem confiança que ficar parado no meio das especiais não será um problema.
O Lancer é um carro que está em um nível diferente do que nós temos de melhor no Brasil. Depois da primeira experiência no Marrocos, eu vi como o carro é impressionante. Eu ainda não consegui entender qual o limite do carro. Ainda, estou fazendo um trabalho de preparação junto com a equipe da França. Bastante treinamento na parte mecânica de como resolver problemas. E eu acho que, até a largada do Dakar, eu conseguirei ter a certeza de que parar lá dentro será muito difícil, disse.
No Dakar deste ano, Guiga teve ao seu lado uma grande estrutura de equipe ao lado de outro três pilotos na JMB Stradale. Em 2011, o brasileiro contará mais uma vez com um apoio de respeito. Desta vez, no entanto, todo o suporte será específico para seu carro junto à Mitsubishi Brasil.
Esse ano nós iremos com uma equipe dedicada apenas ao nosso carro, mas tecnicamente muito boa, com toda a base técnica do ano passado. O chefe de equipe é o Thierry Viardot, que foi diretor técnico da Mitsubishi Japão nos últimos vinte e poucos anos. Então foi ele quem projetou todos os carros da Mitsubishi e fabricou os carros. Ele tem uma experiência gigante não só no Dakar, mas na construção dos carros. Além disso, teremos quatro mecânicos franceses e também um pessoal do Brasil que cuidará da parte de logística”, contou.
Ao contrário de Spinelli, Youssef competirá pela primeira vez com a equipe da Mitsubishi. O navegador está confiante para uma experiência que, segundo ele, será única. A equipe é muito bem estruturada, com pessoas muito experientes. Para mim será uma experiência que eu nunca tive oportunidade de viver com uma estrutura tão impressionante e profissional como será no Dakar, afirmou.
Objetivos – Assim como a maioria dos pilotos, o objetivo de Guiga/ Youssef será completar o maior rali do mundo. Segundo o piloto, ainda não é possível almejar passos mais largos, já que, para ele, arriscar tudo poderia ser perigoso demais em termos de colocar todo seu investimento em risco.
O completar é sempre o primeiro passo para ter algum resultado. É claro que nós andaremos em um ritmo melhor do que no ano passado e eu vou poder forçar um pouco mais por já ter experiência, mas ainda não me sinto preparado para andar forte como eu ando nos Sertões, explicou. Para isso, o lado psicológico será tão importante quando o lado físico e o lado técnico. É impossível fazer o Dakar sem problema nenhum. Então, temos que saber lidar com os problemas que possam acontecer e também com os bons resultados para que não nos atrapalhemos e achemos que estamos pronto para algo que não estamos, finalizou.
Este texto foi escrito por: Caio Martins
Last modified: dezembro 24, 2010