Alerta de Tornado (foto: Reprodução)
O meteorologista Daniel C. Zacharias é responsável pelo curso de meteorologia do Clube Alpino Paulista. Aqui ele conta o objetivo do curso e fala da importância desse conhecimento para o sucesso de uma expedição. Confira!
O Curso de meteorologia (CM) surgiu como um complemento técnico para o CBM (Curso Básico de Montanhismo) visando atender um dos requisitos obrigatórios na formação de qualquer montanhista que almeje a titulação de Guia pela Escola de Guias do CAP (Normativo EGCAP).
A idéia do CM é capacitar o montanhista para avaliar as condições atmosféricas antes e durante as suas expedições, aumentando assim a probabilidade de sucesso da expedição e minimizando as chances de risco às pessoas devido a mudanças de tempo.
Embora o curso seja recente no CAP (está em sua segunda edição) é crescente o número de pessoas que se interessam, sendo que uma fração significativa dessas pessoas não são montanhistas e sim praticantes de outras atividades (espeleologia, canoyng, balonismo, rafting, etc). Para atender essas novas demandas, que na verdade são apenas outras formas de interagir com a montanha, logo tão legítimas quanto o montanhismo tradicional, o conteúdo do curso foi expandido e aprimorado, assim como o número de horas-aula.
Durante todo o curso, os alunos aprendem sobre os detalhes da atmosfera e encaram o desafio de olhar para o mundo sob uma ótica diferente, buscando através das pequenas pistas que a natureza nos dá, interpretar as surpresas que nos aguardam.
O conhecimento adquirido durante o curso auxilia no planejamento de expedições e aumenta as chances de sucesso nas atividades planejadas. O simples fato de conhecer a diferença entre tempo e clima e saber analisa-los, já evita grandes possibilidades de fracasso e risco à vida.
Uma pessoa com entendimento do clima, jamais pensaria em realizar uma travessia longa de alguma caverna do Petar, que encha de água em janeiro, ou então realizar uma travessia do Saara sem um bom e quente saco de dormir, pois historicamente, sabe-se que, em janeiro chove muito no SE do Brasil e que no Saara, faz frio durante a noite.
Falou-se de clima, por que não falar também de tempo?
Uma pessoa com entendimento de tempo quando ouve no rádio a previsão dizendo: Temperatura mínima de 0º C e máxima de 38º C, ao invés de amaldiçoar o meteorologista, se prepara para uma noite muito fria e um dia extremamente quente e seco, pois sabe que a temperatura mínima é aquela que ocorre instantes antes do sol nascer, temperatura máxima é aquela que ocorre às 15h e grandes diferenças de temperatura só são possíveis em ambientes muito secos.
No Brasil, em geral, a atmosfera é desprovida de fenômenos capazes de gerar catástrofes (furacões, tornados, nevascas e etc), isso faz com que as pessoas se tornem negligentes ao considerar as condições do tempo no planejamento de suas atividades. O resultado disso aparece todos os anos nos jornais. Quem não se lembra das mortes por afogamento que culminou no fechamento de algumas cavernas do PETAR? Quem nunca ouviu uma notícia de algum grupo de turistas desaparecidos na cachoeira devido a uma tromba dagua que nunca mais foram vistos? E recentemente, sobre os barcos de pesca que sumiram no meio do Catarina?
O curso aborda todas essas questões e conscientiza as pessoas de que o problema não é a ocorrência de fenômenos extremos e sim a falta de cuidado no planejamento da atividade.
A teoria é oferecida em quatro aulas totalizando 8 horas de discussão, nas quais são abordados, inicialmente, os conceitos básicos da meteorologia, o funcionamento das principais estruturas atmosféricas (nuvens, brisa, frentes frias, etc) e por último, os conhecimentos necessários para interpretar uma previsão do tempo, cartas sinóticas e os resultados de modelos numéricos.
Este texto foi escrito por: Daniel Zacharias