Bouwe Bekking na regata Rolex Transatlantic Challenge (foto: Carlo Borlenghi)
O velejador holandês Bouwe Bekking assumiu a responsabilidade de comandar o Movistar, o barco espanhol na regata Volvo Ocean Race. Além de skipper do barco de 70 pés, Bouwe vai mediar discussões, apartar brigas e colocar a tripulação de 11 homens em um único rumo: a vitória, depois de nove meses dando a volta ao mundo.
O barco espanhol está no Brasil desde 22 de abril passado, quando aportou na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Sob olhares curiosos dos velejadores e amantes do mundo náutico, o Movistar foi um “segredo público” que todos queriam desvendar. Nem a assessoria de comunicação da Telefonica em São Paulo tinha informações claras de sua chegada quando a redação do Webventure entrou em contato no fim do mês de abril.
O barco saiu da Austrália no final de março e aportou no Rio para reparos. Uma operação de guerra foi montada na Marina da Glória para retirar o V70 da água na maior discrição possível, às vésperas da Rio Boat Show, a feira náutica que aconteceu na Marina da Glória durante uma semana. Bekkinig e a tripulação do Movistar nem chegou a pisar direito em solo brasileiro e já retornaram para seus países residentes após meses de treino em alto mar.
Segredo de 70 pés – Por que tanto mistério? Fontes na Marina da Glória confidenciaram que o barco estava sem mastro e com a quilha lacrada, e mais: não permitiram a gravação de reportagem para TV antes que a tripulação retornasse. Medo de espionagem? O barco não participou da Rio Boat Show e nem a patrocinadora master, a Telefonica, teve estande na feira.
De volta ao Brasil no fim de semana, quando se deu o fim da Rio Boat Show, o skipper concedeu uma entrevista exclusiva ao Webventure. Aos 42 anos, Bouwe, que mora na Dinamarca, vai passar todo o tempo da regata longe da esposa e da filha de sete anos. Mas sempre pensando na vitória, afirma ele. Na entrevista, ele também fala da quebra do recorde mundial em velocidade em milhas navegadas durante 24 horas, da não-participação na Rio Boat Show e do convite que fizeram ao brasileiro heptacampeão mundial, Robert Scheidt, para estar na tripulação do Movistar.
Webventure – Como foi a viagem até o Brasil?
Bouwe Bekking – Foi eletrizante porque mal conhecíamos o barco e ele se mostrou muito rápido, bem mais rápido que os V60. Parece um grande 49er, rápido como um foguete, por isso foi muito excitante.
Webventure – A passagem pelo Cabo Horn foi a parte mais difícil?
Bouwe – Cruzar o Cabo Horn foi muito difícil porque foi no meio da noite. Tínhamos ventos de 49 nós e o frio e a neve atrapalharam muito. Foi uma situação típica dos mares do sul: ondas enormes e ventos fortíssimos.
Webventure – Algumas pessoas da sua tripulação, o cruzaram pela primeira vez. Vocês fizeram uma festa?
Bouwe -Temos dois medalhistas olímpicos na tripulação. São espanhóis e venceram as últimas olimpíadas, mas é a primeira vez que eles cruzam o mar aberto e também foi a primeira vez deles no Cabo Horn. Sim, claro, fizemos uma pequena festa a bordo.
Webventure – O que você achou desse teste para a tripulação?
Bouwe – Tentei misturar pessoas experientes com promessas da vela. Com certeza é bom ter pessoas que já cruzaram o Cabo antes, mas é muito importante lançar jovens para essa tarefa, para gerar expectativa e experiência. Com certeza foi o melhor momento da viagem para eles, sempre digo que cruzar o Cabo Horn é a melhor experiência para um velejador, para ver como reagem aos ventos fortes e como se adaptam em condições pesadas. E eles foram muito bem, sabemos que precisam de tempo para treinar, e até a Espanha tem mais cinco mil milhas, é tempo de sobra. Talvez quando chegarmos lá, eles estarão no mesmo nível que nós.
Webventure – Quando foi que vocês descobriram que tinham quebrado o recorde mundial de velocidade?
Bouwe – Sabíamos que o barco ia muito rápido, até quando nosso navegador disse: Meu Deus, estamos perto de quebrar o recorde! Nos esforçamos mais ainda e, quando vimos que havíamos conseguido, todos gritaram, foi muito bom. Sabíamos que era possível quebrá-lo porque observávamos os números no computador e calculávamos. Mas daí até conseguir é outra história. Foi muito bom para nós, o barco era muito novo e alguns alertavam para tomarmos cuidado, mas ele tem agüentado muito bem.
Webventure – Você já esteve no Brasil?
Bouwe – Acho que é quinta ou sexta vez que venho.
Webventure – O que achou do país?
Bouwe – Estou muito feliz, as pessoas aqui no Rio e na Marina da Glória têm feito um trabalho fantástico para nós. Não posso reclamar, as coisas foram muito bem, até mesmo com o Rio Boat Show por aqui. As coisas correram super bem, estou muito feliz.
Webventure – Como foi a viagem até aqui?
Bouwe – Foi eletrizante porque mal conhecíamos o barco e ele se mostrou muito rápido, bem mais rápido que os V60. Parece um grande 49er, rápido como um foguete, por isso foi muito excitante.
Webventure – A passagem pelo Cabo Horn foi a parte mais difícil?
Bouwe – Cruzar o Cabo Horn foi muito difícil porque foi no meio da noite. Tínhamos ventos de 49 nós e o frio e a neve atrapalharam muito. Foi uma situação típica dos mares do sul: ondas enormes e ventos fortíssimos.
Webventure – Algumas pessoas da sua tripulação, o cruzaram pela primeira vez. Vocês fizeram uma festa?
Bouwe -Temos dois medalhistas olímpicos na tripulação. São espanhóis e venceram as últimas olimpíadas, mas é a primeira vez que eles cruzam o mar aberto e também foi a primeira vez deles no Cabo Horn. Sim, claro, fizemos uma pequena festa a bordo.
Webventure – Quais são as expectativas para a Volvo Ocean Race?
Bouwe – Com certeza todos os participantes vão para a vitória. Acho que não posso fazer nenhuma exceção. Mas com certeza nós queremos isso muito. Junto com o barco do ABN Amro fomos os primeiros a ir para a água e temos aprendido muito nesse tempo. Acho que será muito difícil vencer a corrida, mas é óbvio que depois que começar, subir no pódio será um prazer. Mas com certeza vamos trabalhar duro para conseguir a vitória.
Webventure – Vocês consideram-se dos favoritos?
Bouwe – Não posso achar isso, porque sabemos que o Torben [Grael] e muitas outras equipes também vão vir com os barcos da Farr Yacht, que são muito parecidos. Acredito que agora estamos um pouco a frente porque já velejamos bastante, mas todos eles virão para a água com uma performance bem parecida. Não me considero favorito, não quero cobrar tanto de nós.
Webventure – Por que o Movistar não participou do Rio Boat Show?
Bouwe – O que eu sei é que uma parte da Vivo [patrocinadora master do veleiro Brasil 1] está se fundindo com a Telefônica [patrocinadora do Movistar] e fica um pouco contraditório porque aqui um compete com o outro [nota do editor: a Telefonica é uma das acionistas da Vivo, junto com a Portugal Telecom, desde 2003]. Então acho que foi uma questão de marketing. Acho que é melhor ficar um pouco de lado e a Vivo ficar com a maior parte aqui. Mas as pessoas podiam andar por aqui e ver o barco. Ao mesmo tempo, temos um monte de coisas para fazer e preparar, não podíamos perder tempo.
Webventure – O que você acha dos rumores de espionagem que sempre rondam esse tipo de competição?
Bouwe – Para a Volvo Ocean Race se gasta muito dinheiro. Mais ainda para se ter alguém espionando. As equipes preferem gastar dinheiro com coisas reais e acreditam em si mesmas. Acho que provavelmente o pessoal da Vivo veio até aqui e andou em volta do barco, mas os barcos da Farr Yachts parecem muito um com os outros. Acho que sobra mais para o pessoal do ABN Amro saber o que está acontecendo.
Webventure – O que você conhece do barco Brasil 1 e sua equipe?
Bouwe – Conheço o Torben muito bem. Acho que além dele, a equipe forma um time muito bom de velejadores e atletas olímpicos. Ele parece ser muito bom na individualidade. Como navegador, por exemplo, é provavelmente um dos melhores do mundo. Acho que eles irão bem.
Webventure – Conhece o Torben pessoalmente?
Bouwe – No passado competimos juntos, já corri muitas vezes contra ele, mas será interessante ver como ele vai tocar esse projeto do Brasil 1.
Webventure – Como foi o convite para que Robert Scheidt participasse da sua tripulação?
Bouwe – Tive uma conversa com o Robert Scheidt logo no começo do projeto Movistar e convidei-o para se juntar a nós. Ele disse que preferia se concentrar nas próximas Olimpíadas, que também tinha sido convidado pela Vivo, mas que queria cuidar de mais uma campanha olímpica. Isso foi em novembro de 2004. Seria muito bom para balancear o barco, ele é muito rápido em barcos pequenos, e com certeza o será em barcos grandes.
Webventure – O que sabe sobre o Team ABN Amro?
Bouwe – Não sei muito porque estamos sempre em locais diferentes do mundo nos treinos. O que sei é que eles vem com um outra abordagem. Eles contrataram novatos para correr em um dos barcos, mas normalmente isso é um trabalho do comandante. No outro barco Mike Sanderson assumiu o comando. Sei que o barco dele teve problemas e terá que passar mais dois meses em Newport. Eles têm um bom time, um bom design. Mas não sei como está o barco, porque eles apostaram em um segmento diferente da maioria, do nosso. Eles parecem estar indo na direção correta, mas acho que será duro para eles se não forem bem. Porque se você for bem, todos vão olhar para você como herói. Mas, se não for, sempre vão te olhar nos olhos e perguntar porque você quis fazer diferente? Mas o barco é bom e tem bons velejadores.
Webventure – Por que escolheram a Farr Yachts?
Bouwe – Provavelmente eles têm um dos maiores projetistas do mundo, foi o estaleiro que venceu mais corridas. Sempre achamos que quanto mais barcos foram da Farr Yachts, mais eles serão parecidos e cada vez mais a decisão da prova ficará com quem são velejadores e de como eles se prepararam para ela.
Webventure – Você tem algum ídolo?
Bouwe – Não. Sempre achei que temos que saber da nossa posição e respeitar todos que estão aqui. Pensar porque está aqui. Não importa com quem você compete e contra quem você compete, se é um herói ou um qualquer, tem que se esforçar da mesma forma.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa
Last modified: maio 11, 2005