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Carrapatos, o incômodo furtivo

Andando por uma pradaria ou por um campo rupestre, admirando aquele tapete amarelado se espalhando para além da linha do horizonte, passamos por entre moitas de flores brancas em suas molduras de folhas verdes balançando com o vento, acompanhando o movimento do capim alto. Absorvido pela beleza desta paisagem mal nos damos conta do que nos aguarda.

Escondidos entre as folhas, presos nos pedúnculos embalados pela brisa estão vários, inúmeros, incontáveis micuins, minúsculos carrapatos que juntos, às centenas, esperam ansiosos a passagem de um tamanduá ou de um cervo para grudarem em seu pelo. Mas ao final de mais um dia de espera eles encontram apenas a perna da calça de quem se aventurou a resvalar na sua moita. Em poucos minutos estão todos espalhados, procurando uma brecha para o calor que vem de baixo daquela armadura. Com sorte encontram logo o fim da meia, por baixo da perna da calça ou a abertura na cintura. E apertados na barra da meia ou sob a costura da calça mal sentimos suas picadas, continuando nossos afazeres. Com sorte são dezenas, mas normalmente são centenas de pequenos carrapatos menores que a cabeça de um alfinete, fincados na nossa pele, sugando nosso sangue. Uma boa refeição, talvez sua primeira, antes de caírem ou serem arrancados e jogados novamente na vegetação, prontos a próxima vítima.

Porém, muitas vezes eles não conseguem encontrar a pele que procuram, protegida embaixo de tantas roupas. Meias cobrindo a barra da calça e camisas para dentro reduzem a má sorte do azarado que esbarrou neles. Muitas vezes têm que passar a noite naquela calça jogada em um canto ou no cano da bota do lado de fora da barraca. Entretanto, no dia seguinte, provavelmente vestiremos a bota e a calça infestadas e toda nossa prevenção vai por água abaixo. Agora boa parte dos minúsculos carrapatos estarão do lado de dentro. Quase invisíveis contra o tecido escuro, sua sorte mudou e agora poderão passar um bom tempo se alimentando e nos picando.

Mas então o que fazer? Quem carrega tudo a ser usado no campo nas costas sabe que muitas vezes é inviável ter roupa limpa e seca todos os dias. Trocar as roupas íntimas e meias tudo bem. A camisa? Talvez. Mas em geral é impossível trocar a calça e as botas. Neste caso, o melhor é prevenir.

Usar roupas bem fechadas, com a calça enfiada para dentro da meia e camisa para dentro da calça, acompanhado de uma eventual checada ajudam a diminuir as picadas durante o dia. Ao se recolher, o melhor é desinfestar as roupas a serem usadas no dia seguinte. Como os carrapatos respiram ar é possível matá-los com alguns anestésicos voláteis de artrópodes como o éter e o acetato de etila. Ao fim do dia basta colocar a roupa em um saco plástico, despejar um pouco do líquido dentro e vedar bem. Durante a noite o anestésico se espalhará por todos os cantos dentro do saco. No dia seguinte, se por um acaso houvesse algum carrapato nas suas roupas ele estará morto. Mas lembre-se: estes produtos são fortes e se inspirados podem provocar dores de cabeça, tonturas e até nos apagar. Quando tirar a roupa do saco é bom estendê-la alguns minutos para que o éter ou do acetato se espalhe e seu cheiro forte saia da roupa.

Atenção: Nunca inspire os concentrados!

Carrapatos: existem várias espécies que se alimentam de sangue. Os que mais encontramos por ai são os de vacas que encontramos nos pastos e redondezas e os de porcos do mato, capivaras, cervos e outros mamíferos.

Micuins: em geral é como chamamos os filhotes de carrapatos. Quando nascem ficam sobre uma folha, às centenas ou milhares, esperando que alguém esbarre na sua moita e os leve de carona para seu primeiro lanche. Costuma picar várias vezes seguidas, fazendo uma seqüência de pontinhos vermelhos. Em geral saem com um bom banho de esponja e sabão. No norte do país chamam de micuim o ácaro do lagarto.

Ácaros: ao contrário dos famosos que vivem em tapetes, algumas poucas espécies de ácaros também alimentam-se de sangue. Os que nos incomodam são os ácaros de lagartos, também chamados de micuins no norte do país, que eventualmente podem nos atacar. Quando isto acontece, encontramos na picada um minúsculo pontinho vermelho no meio. São eles. Em geral não se alimentam bem do nosso sangue e saem sozinhos após uma leve refeição. Mas isto pode ser adiantado com um bom banho, sabão e esfregão.

A boa notícia é que os carrapatos não são uma praga o ano todo. Os micuins, filhotes de carrapatos, somente costumam nos encontram no período seco, de junho a agosto no Brasil, quando a fêmea está dando sua cria. Fora deste período é muito difícil ser atacado por eles, sendo praticamente impossível no verão. Como são os micuins quem nos causam as piores tormentas, devido ao seu minúsculo tamanho e por aparecerem de turma, podemos até considerar que carrapatos são a praga do meio do ano. No restante do ano é sempre possível pegarmos os carrapatos já crescidinhos, mas estes em geral não aparecem em grandes números e são mais facilmente encontrados, e eliminados.

Já os ácaros de lagartos também podem ser encontrados o ano todo. Mas como eles nos deixam facilmente não chegam a ser um grande tormento. Mas é por causa deles que é bom se precaver o ano todo. Calça comprida coberta pela meia e camisa para dentro sempre.

As picadas e a coceira não são o único desconforto que estes bichos nos causam. São apenas os mais freqüentes. Eles também podem nos trazer outros problemas.

É comum a ferida do carrapato arrancado de qualquer maneira infeccionar devido a permanência de resíduos do aparelho bucal. Estes resíduos podem infeccionar como qualquer corpo estranho. Podem se formar pequenas feridas que tem que ser limpas e tratadas.

Alguns carrapatos podem ainda servir de vetores de algumas doenças. Bactérias, vírus e protozoários. Dentre elas estão as bacterioses. No Brasil a mais famosa é a febre maculosa, que se assemelha ao tifo, mas é transmitida pelo carrapato. Em geral as infeções bacterianas sistêmicas podem ser tratadas pelos médicos com antibióticos específicos. Se você ficar doente depois de ser picado por carrapatos, comunique isto ao seu médico para que ele possa averiguar.

Algumas pessoas tem reações alérgicas ao anticoagulante que o carrapato usa para conseguir sugar melhor nosso sangue. Estas alergias podem ser identificadas pelo médico, que pode tratá-las ou prescrever-lhe medicamento anti-alérgico.

Outro problema que é comum em animais e pode ocorrer eventualmente com o homem, especialmente em crianças, é uma forma de paralisia. Esta paralisia caracteriza-se por flacidez motora crescente, febre, dificuldade na respiração, na fala e em engolir. Se o carrapato ou carrapatos forem removidos os sintomas costumam ir diminuindo até desaparecerem.

Para quem anda em ambientes naturais, especialmente nos campos e matas é praticamente inevitável ser encontrado pelos carrapatos. O que podemos fazer é diminuir as chances de nos picarem. Para isto eu sugiro uma série de precauções, algumas já mencionadas anteriormente:

Este texto foi escrito por: Cláudio Patto