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Carta para a Revista Veja

A revista Veja de 1º de outubro de 2003, edição 1.822, ano 36 número 39, página 107, trouxe um artigo de Diogo Mainardi sobre as palestras motivacionais, onde o piloto Klever Kolberg, da equipe Petrobras Lubrax, é mencionado.

Como Diogo Mainardi não assistiu a palestra antes de escrever o artigo e, dessa maneira, para que o artigo não dê margem a dúvidas ou opiniões erradas, Klever escreveu a seguinte resposta, enviada à Veja:

Prezado Diogo Mainardi,

Demorei, mas acabei morrendo de rir desse seu artigo de humor “Palestrando e Motivando” – Revista Veja edição 1.822, ano 36 nº 39, de 1º de outubro de 2003, página 107.

Demorei a entender, puxa vida!!! O seu humor é diferente, a ficha demora a cair.
Já imaginou alguém só trabalhar por dinheiro, ou indo mais longe como na sua imaginação “finge que trabalha mais por dinheiro”?

Lógico que você não é um mercenário. Aliás vou ficar chateado se alguém não compreender e afirmar que você é incapaz de uma ação solidária. Isso é mau humor.

Como você não assistiu a nossas palestras, e isso é muito importante deixar claro, pois o artigo não esclarece este ponto muito importante, vou fazer uma pequena presença do nosso conteúdo, repito, que você não teve a oportunidade de conhecer.

Em nossas palestras falamos da importância de sonhar e acreditar que é possível.
Tão importante quanto isso é montar uma equipe, e portanto é preciso gerenciar pessoas de diferentes interesses, estabelecendo acordos, ética, respeito e outros valores que você julgar importante para sua equipe. É preciso tolerar erros, aprender com eles e aprender a controlar os mesmos. É necessário criar um ambiente, motivar pessoas, multiplicar forças, aperfeiçoar qualidades, criando líderes e talentos num ambiente criativo e inovador. É fundamental comprometer, provocar, envolver nos dois sentidos: compartilhando responsabilidades e reconhecendo os esforços ao compartilhar os sucessos.

Também tão importante como tudo isso é dar o exemplo, estimulando saudáveis, criativas e diferentes imitações. Mostre que é preciso enfrentar os desafios e que neles estão as oportunidades ricas de crescimento em todos os sentidos.

Remuneração é importantíssimo, não há o que discutir, mas quem é fera já está nessa, com certeza, mas busca outras formas de qualidade de vida e de trabalho. Não adianta o diabo me pagar o salário do Michael Schumacher da F1 no inferno ou ao lado do demônio. Assim eu não trabalho.

Tão importante quanto isso é se preparar, planejar, estabelecer estratégias, metas, objetivos e indicadores de performance.

Também falamos da importância de planejar, estabelecer estratégias, metas, objetivos, indicadores de performance e se preparar, treinar. Pessoalmente desconheço atividades onde o treinamento não resulte em inúmeros e rentáveis benefícios.

Lógico que você se preparou bem para essa matéria. Apesar de não assistido à nossa palestra, acredito que você deve ter lido os importantes artigos das revistas Exame e Você S/A da própria Abril, que destacam e dão mais detalhes a estes temas e a outros que compartilhamos com nossa platéia. As duas inclusive abonam estas idéias, já que criaram dois importantes prêmios: “Melhores e Maiores” (revista Exame) e Melhores Empresas para se trabalhar (Revista Você SA).

Mainardi, como tudo na vida, não há uma regra ou fórmula que seja 100% eficaz para 100% dos casos, até por isso o conteúdo de nossas palestras é flexível, formatamos para cada cliente e estamos em constante atualização. Posso afirmar, tenho plena convicção, que vale a pena conhecer o nosso trabalho. Não se preocupe com custos, te convido a assistir uma ação social a qual participamos. E, se você se dispuser, será maravilhoso o ver ali colaborando com sua apresentação.

Também te recomendo um livro do professor Marins, que você cita no artigo. O título da obra é “Livre-se dos corvos”.

Abraços

Klever Kolberg

Para quem não se lembra, segue o artigo abaixo.

“A técnica preferida dos palestrantes motivacionais é estabelecer paralelos entre dois campos que não têm nada em comum. Depois tem gente que se espanta quando Lula compara a reforma previdenciária a uma jabuticabeira”

Uma grande empresa do setor informático quer que eu faça uma palestra motivacional. Pagando bem, faço qualquer coisa. A única motivação que eu conheço é o dinheiro. Aliás, se o propósito da grande empresa do setor informático é motivar seus funcionários, sugiro dar-lhes um aumento salarial. Pode ser que os funcionários não trabalhem mais, mas certamente serão motivados a fingir que estão trabalhando mais.

Para preparar minha palestra motivacional, fui ver o que oferecem meus concorrentes. Um deles promete melhorar o amor-próprio de secretárias “maltratadas pelo chefe e abandonadas pelo marido”. Outro ensina a controlar o peso. Outro estimula corretores de seguros a vender mais apólices a seus clientes. Até a prefeitura de Sinop, em Mato Grosso, contratou um palestrante motivacional para seus “motoristas, merendeiras e trabalhadores braçais”. Antigamente essa gente era motivada na base do chicote. Agora é obrigada a assistir a palestras motivacionais com trechos do filme Fernão Capelo Gaivota.

Além de projetarem filmes como Fernão Capelo Gaivota, os palestrantes motivacionais dispõem de muitos outros recursos para animar a platéia. Fábio Puentes apresenta um “show de hipnose”. Adroaldo Lamaison toca violão. Eduardo Botelho fala sobre seu tumor de medula. O professor Gretz distribui brindes. O professor Marins relata a parábola da caverna de Platão. Roberto Shinyashiki manda pisar em brasas. Marilu Martinelli, antiga jurada do Show de Calouros de Silvio Santos, louva o guru indiano Sathya Sai Baba. Lair Ribeiro consegue tornar todo mundo mais inteligente.

A técnica preferida dos palestrantes motivacionais é estabelecer paralelos entre dois campos que, aparentemente, não têm nada em comum. Helena Artmann mostra que participar de um campeonato de balonismo é igual a administrar uma empresa. Sergio Arno assegura que não há diferença entre preparar uma macarronada e tocar uma grande indústria. Klever Kolberg argumenta que obter sucesso num empreendimento comercial é a mesma coisa que chegar em oitavo lugar no rali Paris Dacar. Thomaz Brandolin cria uma analogia entre a atividade profissional e um encontro com ursos selvagens no Pólo Norte. Depois tem gente que se espanta quando Lula compara a reforma previdenciária a uma jabuticabeira.

Alguns dos mais requisitados palestrantes motivacionais atuam em família. Os membros da família Schürmann deram a volta ao mundo num veleiro. Contam anedotas de suas viagens para ilustrar temas como planejamento estratégico, liderança, administração de risco, relacionamento interpessoal. Já os membros da família Goldschmidt percorreram a América do Sul num motor home. O patriarca da família afirma que sua maior aventura foi largar tudo em 1987 e ir morar em Londres, ganhando a vida como garçom. Eu também trabalhei como garçom em Londres. A principal lição que tirei da aventura é que nunca mais quero ser garçom.

O Espantalho, inimigo do Batman, aproveitou uma palestra motivacional para espalhar seu gás do medo. Eu admiro o Espantalho.”

Este texto foi escrito por: Webventure