Yuri Sanada (foto: Daniel Costa/ www.webventure.com.br)
Um casal de brasileiros que se conheceu em Londres, no meio de uma viagem estilo mochileiro, não ia sossegar após o casamento. Para sobreviver, Yuri e Vera Sanada se especializaram em acompanhar viagens marítimas em veleiros. Geralmente quando um capitão quer transportar o barco em longas travessias ele precisa de tripulantes “alugados”.
Com isso o casal se acostumou a passar a vida em veleiros, tomou gosto, e já está há 13 anos vivendo a bordo. O primeiro barco do casal foi um veleiro de 30 pés. “É possível morar em qualquer tipo de barco, mas o veleiro ajuda nas travessias. Na nossa opinião, é preciso ter um veleiro de no mínimo 26 pés para morar bem”, disse Vera. Eles estão casados há 16 anos.
O estilo de vida curioso do casal, assim como vários outros casais no mundo que vivem em veleiros, desperta a curiosidade de quem aprecia o contato com o mar. Por isso Yuri e Vera já têm sete livros lançados, todos esgotados. “Anotávamos as nossas dúvidas e explicamos todas no Como viver a bordo, um livro que pretendemos relançar até o fim do ano”, disse Yuri.
Dia-a-dia – Assuntos como convivência, alimentação, estilo e o desafio de viver em um veleiro são abordados no livro e na clínica “Como viver a bordo”, ministrada diariamente pelo casal no estande do Team ABN AMRO na vila de Ilhabela. “Tudo gira em torno de transformar um sonho em um projeto, e realiza-lo”, disse Vera. Esse é o tema central do novo livro do casal, a ser lançado ainda na Semana de Vela de Ilhabela, o Sucesso nas Aventuras e nos Negócios.
Dúvidas elementares da maioria das pessoas que entram em contato com o casal, do tipo “como e possível viver em um veleiro e como é a vida de casado” são tiradas na hora: “É uma vida normal, uma casa normal, com a nossa personalidade, decoração e até ‘alma'”, diz Vera. “Veio até minha sogra morar conosco no primeiro barco”, comentou Yuri.
“Em um veleiro é preciso ter um comandante, esse posto ficou com o Yuri”, disse Vera. Além dos afazeres da vela, como costurar, consertar o motor, reparar o barco entre outros, Vera tem uma cozinha completa no veleiro. “Tem microondas, panela de pressão, panela elétrica, temos até chaleira elétrica”, conta. No livro e na clínica ela dá dicas de como uma mulher se torna mais prática na cozinha. “Temos que pensar em tudo que possa tornar nossa vida mais fácil dentro do barco. Guardar grãos em garrafas plásticas de refrigerante ajuda, assim como passar vaselina nos ovos e virá-los toda a semana ajuda a conserva-los por mais tempo”, disse,
E não é só para a boa vida no mar que o casal precisa estar preparado. “Quando vemos que vai chegar uma tempestade, fazemos sopa e colocamos na garrafa térmica, descascamos frutas, tudo para nos prepararmos para até três dias em condições extremas”, disse Vera.
Na vinda de Angra dos Reis, onde moram em uma marina, o casal teve um acidente que entrou para o caderninho de histórias de aventureiros. A chegada de uma frente fria deixou o mar revolto e o vento muito forte, que jogou a embarcação nas pedras. O acidente fez com que o veleiro inglês de 48 pés e 30 anos de idade tombasse. “Ele ainda está lá, na ponta da Joatinga, divisa entre o Rio e São Paulo”, conta Yuri.
“Saímos com o tempo ruim, em situações como essa teríamos voltado, mas tínhamos o compromisso com a Semana de Vela e não pudemos atrasar a viagem. Resolvemos enfrentar”, contou o velejador.
“Ao chegarmos perto da ponta da Joatinga, na divisa do Rio com São Paulo, já estava de noite – os problemas nunca acontecem de dia – e encontramos com a frente fria”, disse Yuri. O vento rasgou a vela Genoa do veleiro e o cabo dela enroscou no eixo do motor, que quebrou. Sem força no motor e sem poder subir as velas, o barco foi jogado contra as pedras e tombou.
Salvamento – “Os pescadores nos giaram com lanternas e fomos no bote salva-vidas até uma vila. Duas horas depois já estávamos sob um teto, comendo e descansando”, lembra Yuri. No dia seguinte a frente fria ainda não tinha acalmado e nenhum barco pesqueiro poderia sair da praia para levar o casal para alguma cidade. “Daí foi a vez de virarmos montanhistas, andamos um dia e meio até Laranjeiras, ainda no Rio, para podermos chegar até aqui de carro”, conta o aventureiro, sem perder nem um pouco da vontade de morar em um veleiro. “Faz parte da nossa vida de aventureiro, é normal.”
Este texto foi escrito por: Daniel Costa