A dupla da Troller (Varela – esq. – e Fadigatti – dir.) na coletiva de hoje. (foto: André Pascowitch)
A dupla da Troller, vice-campeã da categoria T3 Diesel do Rally Paris-Dakar 2001, Reinaldo Varela e o navegador Alberto Fadigatti, desembarcou hoje cedo em São Paulo. E logo após o almoço, recebeu a imprensa na revenda da montadora cearense para contar as aventuras do maior evento off-road do mundo.
Foram 10.739 km de desafios desde a largada em Paris, 1º de janeiro, a Dakar, capital de Senegal (África), no dia 21. Com apenas um carro de competição, um mecânico próprio e dois caminhões contratados de fora, em conjunto com outras equipes, o Troller T5 completou o percurso sem quebra, vencendo o trauma da primeira participação, ano passado, quando Fadigatti fissurou duas vértebras há três etapas do final e tiveram que abandonar.
Dessa vez, Varela e Fadigatti terminaram o rali na 22ª colocação na classificação geral, o melhor resultado de um carro brasileiro em 23 edições. Mas não foi nada fácil conseguir o feito. Neste meus 32 anos de rali, nunca fiz uma prova tão difícil. Uma etapa pior que a outra, comentou Fadigatti. Varela também concordou. Não há nada mais difícil que o Dakar. Há muito perigo, abismos, pedras, velocidade alta com uma surpresa que pode acontecer. Ele se torna perigoso por estes motivos.
O segredo que levou o Troller cearense a terminar o Paris-Dakar está no entrosamento da dupla, atual campeã brasileira de rali off-road e do Rally Internacional dos Sertões categoria T3, aliado à força do carro e à paciência da dupla em terminar cada etapa. Foi um jogo de xadrez, com bastante cautela, analisou Varela.
O piloto compara sua técnica de pilotagem ao dos tricampeões de Fórmula 1, Nelson Piquet e o francês Alain Prost, considerados perfeitos quanto ao uso de estratégias mais ponderadas. Minha pilotagem é mais com cabeça, buscando o resultado. Na hora que preciso, sei andar forte e devagar. Principalmente nas pedras, era muito devagar. Éramos várias vezes ultrapassados, mas tínhamos que ter sangue de barata. Depois você sabe buscar a diferença. Eu sei administrar muito bem isso, mas vou aprender a passar por cima de tudo.
Com relação ao carro, ele é muito forte. Por isso, é mais difícil de quebrar e ainda andamos na cautela. Sempre foi meu estilo de dirigir. Quando a nova suspensão, que estamos trabalhando, estiver pronta e assim poderemos passar por cima de tudo eu vou ter que aprender a arriscar, completou.
Sustos – Fora as dificuldades de enfrentar os mais variados terrenos, o calor, a poeira e as grandes distâncias das etapas, a dupla passou por maus bocados em duas ocasiões. Há três etapas do final, um boi cruzou a estrada, à frente do carro, dando o primeiro susto. Estávamos em uma especial, a 140 km/h, em um retão. Foi assim muito rápido. O boi tirou a cabeça, eu passei e o Fadigatti só viu o vulto, contou Varela
Outro fato marcante desta etapa foram as cólicas que Varela sentiu ao final do dia. Uma coisa que nunca tinha acontecido e pensei em parar. Mas como é que vou contar para outros que tive que parar para ir ao banheiro. Isso é coisa de mulher. Faltavam 19 km e eu estava azul. O Fadigatti gostou porque comecei a andar mais rápido. Quando terminou a especial, andei mais vinte metros e corri para o mato.
No segundo susto, mesmo em baixa velocidade, eles se sentiram acima do ar. Era uma valeta sinalizada. O Fadigatti me avisou mas estava em cima dela e eu bati, voei muito alto. Um outro carro até capotou lá, relembrou.
Felicidade – A maior lembrança da dupla ao longo de todo o rali foi a chegada em Dakar. E de terem comprido a missão. Uma verdadeira vitória A maior alegria foi terminar, sem ser no hospital, brincou Fadigatti. Porém, mais desafios estarão por vir. Reinaldo e Alberto irão disputar, durante todo o ano, o mundial de rali cross-country, sendo a primeira dupla a representar o Brasil neste tipo de competição. Com a performance no Dakar, eles já somam 24 pontos.
Este texto foi escrito por: André Pascowitch
Last modified: janeiro 24, 2001