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Cavallari conta sua experiência no Press Team


Ao clarear nosso atleta se prepara para voltar ao Circuito no revezamento. (foto: Camila Christianini / Webventure)

O 12 Horas de São Paulo é uma das corridas de mountain bike mais esperadas do calendário. Sem exagero, ela mal acaba e eu já começo a esperar a edição do próximo ano. Por quê? Em primeiro lugar, porque, para quem ama pedalar, como eu, essa é a chance de uma overdose de pedal. Depois, essa corrida é uma verdadeira festa e a oportunidade de encontrar todos os amigos da “fraternidade dos batatudos” (vocês já repararam o tamanho das batatas das pernas dos mountain bikers por aí?).

Não é fácil encarar 12 horas de pedal. Não tem como não ficar cansado, com sono, dolorido, indisposto e se perguntar “que diabos estou fazendo aqui?”. Mas basta chegar a sua vez de correr, para quem estava numa equipe de quatro atletas, como eu, para a resposta explodir diante dos seus olhos. “Estou aqui para pedalar e me divertir!” E como a gente se diverte!

Este ano foram 454 inscritos. Um recorde. O circuito, de pouco mais de sete quilômetros, era bem técnico, com muitos singletracks (caminhos estreitos, por onde só passa uma bicicleta de cada vez), raízes de árvores expostas, valetas, erosões, degraus, quase nenhum terreno plano e, ao mesmo tempo, nenhuma subida muito forte. Um circuito rápido.

Um momento de distração – A largada, para mim, foi um dos pontos altos da prova. Além de linda, foi muito engraçada. Um show do Elvis Presley cover divertia os atletas (inclusive eu), que aguardavam ansiosos o início da corrida. Depois vieram uns filmes no telão, com imagens de corridas anteriores, que eu assisti bem de perto, de costas para a linha de largada. De repente, do nada, veio uma cortina de fumaça branca e luzes estroboscópicas que me cegaram completamente. Na confusão branca, eu ouvia a contagem regressiva, em inglês (não me perguntem por que)… Five, four, three, two, one… Go!

Para onde? Cadê todo mundo? Para que lado devo correr?

Segundos depois, a fumaça baixou e eu e um amigo estávamos sozinhos no meio da praça da largada. Todo mundo já tinha saído em disparada para suas bicicletas, comportadamente estacionadas para a largada em estilo Le Mans. Eu ainda não sabia para que lado correr. Tentei a esquerda, bloqueada. Direita, amontada de público. O locutor gritava coisas no microfone que eu não conseguia entender. Tentei atravessar um mar de gente que assistia, para chegar até minha bike. Impossível. Saltei uma cerca, passei por baixo de uma fita de isolamento, driblei um segurança enfurecido e, finalmente, cheguei no estacionamento das bicicletas. Minha magrela estava sozinha, caída no chão.

Afobado, quando coloquei as mãos nela, ouvi uma explosão. Cheguei a pensar, por meio segundo, que o segurança estava atirando em mim, ou algo parecido, mas não, claro que não, eram fogos de artifício. Minha pressa desapareceu e caminhei lentamente, empurrando minha bike em último lugar na fila de competidores, olhando para as estrelas e flores explosivas de luz que pintavam o céu. Espetacular!

Diversão – Ninguém havia treinado para a prova, nem eu. Nosso objetivo, enquanto equipe, era terminar a prova pedalando o melhor possível e fazer a cobertura do evento para a imprensa especializada, cada um para seu veículo. Minha avaliação final é que, se as matérias ficarem tão boas quanto o clima na nossa barraca, então teremos feito a melhor cobertura jornalística das 12 Horas de que se tem notícia.

Enquanto competidor, eu me diverti muito, isso é o que importa. A organização está de parabéns pela beleza, grandeza e constante melhoria da prova. Só o preço da inscrição é que merece críticas. Pô, moçada, 120 reais é muita grana!

Agora é só esperar para as 12 Horas de 2003, que promete ser ainda melhor. Quem quiser conferir, prepare-se! Monte sua equipe, treine um pouco, fique íntimo de sua bicicleta. Quem sabe a gente não se perde junto na largada do ano que vem os dois correndo que nem barata tonta sem saber para onde ir, felizes da vida!

Até lá!

Guilherme Cavallari escreveu especialmente para o Webventure. É diretor da Editora Via Natura e autor do Guia de Trilhas BBV Banco, com 25 roteiros planilhados para prática de mountain bike, trekking, direção 4×4 e motociclismo off-road próximos da Grande São Paulo (www.vianatura.com.br). Colabora regularmente para a revista Aventura e Ação como repórter especial e membro do conselho editorial.

Este texto foi escrito por: Guilherme Cavallari