Década de 90: homenagem à primeira excursão à Pedra da Gávea (foto: André Chaco)
O Centro Excursionista Brasileiro está completando 80 anos. Fundado no dia 1º de novembro de 1919, foi a primeira associação do gênero no Brasil e na América do Sul. Conheça algumas histórias do centro, escritas por Manoel Lordeiro, coordenador do Programa de Preservação e Memória do Montanhismo Brasileiro, especialmente à Webventure, em duas partes.
Até o inicio do século 20 foram registradas no Brasil, várias manifestações que poderíamos classificar como montanhismo, ainda que algumas delas tivessem conotação científica, como a conquista da Pedra do Sino (2.257m) pelo botânico escocês George Gardner, em 1841, e as tentativas de José Franklin Massena, em 1858, e de André Rebouças, em 1878, para alcançar o cume das Agulhas Negras (Pico do Itatiaiagu, 2.787m).
0 interesse cientifico estaria ainda presente na conquista do Monte Roraima pelo inglês Everard Im Thurn, em 1884. Na conquista do Pico Marumbi (l.540m), por Joaquim Olímpio de Miranda, em 1879, foi grafado o termo “marumbinismo”, para designar a atividade. Tal gesto foi repetido por Horácio de Carvalho que, em 1898, criou o termo “mantiqueirismo”, ao relatar sua tentativa de conquista do Itatiaiaçu.
O Dedo de Deus
Em 9 de abril de 1912, José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Acácio, Alexandre e Américo de Oliveira conquistam o Dedo de Deus (1.675m), dando um passo importante para a consolidação do montanhismo no Brasil. Mas esse esporte que aqui se iniciava carecia
de uma agremiação que reunisse os seus adeptos, o que viria a ocorrer somente sete anos depois.
Quereis conhecer o nosso torrão? Vinde em nossa companhia!
Lema do Centro Excursionista Brasileiro
Um grupo de jovens, constituído por funcionários públicos, empregados no comércio e na indústria e estudantes, cujas idades variavam de 18 a 23 anos, empreendeu uma caminhada do Rio de Janeiro a Petrópolis, via represas da Mantiqueira, em 4 de maio de 1919. Nessa ocasião, foi
lançada a idéia da fundação de uma sociedade que promovesse o excursionismo em sua forma mais abrangente. 0 grupo de pioneiros era composto por Alberto e Adolpho Fleischhauer, Alfredo B. Pinho, Isac
Cansanção, Guilherme Weiss, Hilton de Oliveira, Benedicto Braga Costa, Eschynes Guabyraba Monteiro, Bruno Moebius, Joao de Magalhães Carvalho e Moacyr de A. Leão.
O nome Centro Excursionista Brasileiro teria sido escolhido em Petrópolis na data de 4 de maio, como se depreende de relatório assinado por Eschynes Guabyraba, em 15 de maio de 1919. A primeira sede do C.E.B. foi o 1º andar, do número 4, do Largo de São Domingos, situado entre as ruas de São Pedro e General Câmara, que desapareceram para dar lugar à Avenida Presidente Vargas). A ata de fundação foi assinada pelos seguintes associados: Guabyraba Monteiro, Alberto Fleishauer, Adolpho Fleischhauer, Edgard Cerqueira, Ilton de Oliveira, João Magalhães de Carvalho, Lyses Melgaço, Romeu Moreira,
Armindo Martins e Antonio Flora Nogueira.
Emblema por Burle Marx
O lema “Quereis conhecer as belezas do nosso torrão? Vinde em nossa companhia! foi de autoria de Ilton de Oliveira. Já usado há algum tempo, foi adotado oficialmente em 1927, passando a figurar na capa dos boletins. 0 emblema tem também a sua história: em 31
de outubro de 1920, durante reunião realizada na Quinta da Boa Vista, foi aprovada a proposição de Ilton, na qual constava das iniciais CEB dentro de um círculo. Por decisão da Diretoria, o Dedo de Deus
passou a fazer parte do emblema do CEB em 26 de junho de 1931. Uma curiosidade: da comissão designada pela Assembléia para elaborar o novo emblema, fazia parte o notável pintor e paisagista Roberto Burle Marx.
0 Centro Excursionista Brasileiro foi a primeira associação do gênero no Brasil e na América do Sul, pois somente em 1931 seria fundado o Clube Excursionista Petrópolis e, logo depois deste, o Clube
Andino Bariloche. Outros mais foram, surgindo: o Clube Excursionista de Ramos(1933); o Clube Brasileiro de Excursionismo, atual Centro Excursionista Rio de Janeiro (1939); o Centro Excursionista Carioca(1946) e muitos outros.
Veja amanhã:
Parte 2 – As conquistas inesquecíveis
Este texto foi escrito por: Manoel Lordeiro
Last modified: dezembro 1, 1999