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Centro Excursionista Universitário (CEU) pode fechar por falta de pessoas para assumir a administração


Espeleólogos na Caverna de Santana no Petar em 1971 (foto: Arquivo Osvaldo de Oliveira)

No último sábado (31), começou a circular em grupos de discussão de montanhismo a notícia de que o Centro Excursionista Universitário iria encerrar completamente suas atividades. O CEU é um dos clubes de atividades ao ar livre mais antigo de São Paulo ele foi criado em 1970, na Universidade de São Paulo (USP) e foi, durante muitos anos, um dos mais atuantes.

A entidade, que nasceu com o objetivo de organizar passeios e cursos nas áreas de escalada, espeleologia e mergulho, chegou a ter 280 sócios ativos, mas hoje reúne apenas 40 membros. A principal causa da crise atual do CEU, segundo Milton Dines, presidente do clube, é a falta de renovação do quadro de sócios e o aumento na idade média dos membros ativos. “Em poucas palavras, a turma envelheceu”, afirmou ao Webventure.

Mas Milton disse que o fechamento deverá ser apenas formal. “Isso não quer dizer que as pessoas não continuem praticando as atividades, que continuem ligadas, inclusive pela lista de e-mails do clube. O CEU deve acabar apenas enquanto pessoa jurídica”, explicou.

Ele também contou que deve ocorrer, em fevereiro ou março de 2012, uma assembleia de sócios, que irá decidir sobre o futuro do centro. “Na última assembleia tentamos montar uma nova chapa para mudar a diretoria do clube, mas não havia nem pessoas suficientes para votar. Pelo estatuto, se não temos diretoria, temos de fechar”, explica Milton. Mas, caso o cadastro de pessoa física do CEU seja cancelado, isso não impede que ele seja retomado futuramente.

Atualmente o clube não possui mais sede própria, realizando suas reuniões em um bar chamado Tito Liro (Rua Cotoxó, 1185), em São Paulo. Até a década de 1990, a sede do clube sempre foi dentro do campus da USP.

Os fundadores. Para Isaac Chvaicer, fundador do CEU junto com Osvaldo de Oliveira, “o grande problema de hoje é a parte administrativa, porque ninguém quer assumir toda a responsabilidade da tramitação burocrática, que é cheia de pré-requisitos com os quais ninguém tem paciência”, explica Isaac, que hoje não faz mais parte do clube. “O CEU precisou se formalizar para poder ter sede na USP, poder fazer publicações, esse tipo de coisa”, relembra.

Já Osvaldo, que continua como sócio, se manifestou contra a proposta de fechamento. “O centro tinha uma finalidade inicial que se modificou. Ele era voltado para os universitários, não impedindo a participação de outras pessoas, até porque na academia existe uma renovação frequente dos alunos”, afirma Osvaldo.

Segundo ele, com o tempo os participantes acabaram formando nichos dentro do próprio centro, sem divulgar as atividades para os novos alunos. “A renovação acabou sendo em torno dos amigos de quem já era membro, e não de um trabalho para chamar pessoas de todas as unidades da USP. Durantes os 15 primeiros anos ele se renovou com esse espírito, e depois continuou muito forte”.

Herança. A importância do legado construído pelo CEU ao longo de sua história é tida por Osvaldo como o principal motivo para não se fechar o clube. Desde os primeiros anos, a entidade criou cursos que ajudaram muitos alunos de áreas como biologia e geologia a pesquisarem material para suas pesquisas. Há, inclusive, diversos trabalhos acadêmicos, de doutorado e mestrado, que têm o centro excursionista como referência.

“Os primeiros cursos formais [de técnicas verticais para montanhismo e espeleologia], com apostilas, tinham vários professores, e os grupos treinavam no interior de São Paulo e até no Rio. Depois, apareceu um grupo forte de espeleologia. Um grupo de membros do CEU chegou a descobrir um furo (uma caverna vertical). Inclusive, um ex-membro da entidade chegou a ser presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia”, contou Osvaldo.

Além da atuação na universidade, o CEU é responsável, junto com o Clube Alpino Paulista, pela criação da Federação de Montanhismo e Escalada de São Paulo. O centro ainda foi uma das entidades pioneiras na criação de programas de defesa do meio ambiente, com o Pega Leve, um programa que ensina e incentiva práticas de baixo impacto para os esportes de aventura.

Em seus mais de 40 anos e cerca de 1.000 pessoas filiadas nesse período, o CEU recebeu nomes importantes das atividades ao ar livre, como Paulo Coelho, Helena Coelho e Alfredo Bonini, que fizeram parte da primeira expedição brasileira ao Everest, o escalador Makoto Ishibe, o excursionista Sérgio Beck e a biker Renata Falzoni.

“Gostaria de mostrar a importância do CEU para quem não conhece e lutar para que ele continue. Eu sei que quem administra o clube hoje nem mora em São Paulo. E ninguém quer pegar a administração, porque exige responsabilidade. Assim, por causa disso, acabam sugerindo a extinção”, afirmou Osvaldo.

Já Isaac sintetiza o problema. “Se alguém puder continuar tocando, será ótimo. Mas para isso, é preciso renovação. O CEU acabou se tornando um grupo idoso, com gente afastada da universidade. É preciso retomar esse contato, mas pra isso, precisa divulgar e receber o pessoal novo”.

Este texto foi escrito por: Pedro Sibahi