por Claudio Patto
Você já reparou que os mais severos desertos ficam na mesma latitude que a nossa maior área de Mata Atlântica, um dos ambientes mais úmidos e chuvosos do planeta? Podemos encontrar em torno dos 30º de latitude os desertos do Saara, do Mojave, da Arábia Saudita, da Austrália, entre outros. Já aqui no Brasil, onde poderíamos ter também um grande deserto, temos a Juréia, o Petar, a Fazenda Intervales entre outras grandes reservas contíguas de esplendorosa Floresta Tropical Úmida.
Em linhas gerais, florestas com características da nossa Mata Atlântica (Floresta Tropical Úmida) são muito mais comuns em torno do Equador, enquanto as áreas áridas costumam ocorrer em torno dos 30º. O que acontece é que, no Equador, o ar quente se eleva (“ar quente sobe”), vindo a se resfriar com a altitude (em geral 1ºC a cada 300 metros). Como o ar frio retém menos umidade na forma que o ar quente, ao subir, ele perde grande parte da sua umidade, que precipita em forma de chuva. Este ar então mais frio e seco se move para longe do Equador, vindo a descer apenas em torno dos famosos 30º. Nestas latitudes, o ar frio, que deixou quase toda sua umidade lá pelo Equador, desce, tornando o clima nestas regiões mais árido.
Acontece que a latitude em que uma a Mata Atlântica se encontra é apenas uma das influências sobre as suas condições climáticas. Mesmo sendo um dos mais importantes, outros fatores também têm sua cota de contribuição.
O deserto do Saara, sofre a influência da convecção dos ventos secos de grande altitude. Entretanto ele se estende até bem além das áreas sob esta influência. Uma grande parte das suas áreas áridas sofre por estar longe dos grandes oceanos, no interior de um grande continente. A umidade proveniente deste oceano é dispersada na costa e dificilmente chega até o interior do continente.
Da mesma forma, o clima na Serra do Mar sofre a ação de fatores mais localizados, que neutralizam os efeitos da descida do ar seco nestas latitudes. O primeiro e mais importantes dele é a proximidade do oceano atlântico. As correntes Atlânticas que banham nossa costa são em sua maioria provenientes do equador e consequentemente quentes. Por causa delas o ar na costa brasileira é úmido mesmo a 30o de latitude sul. E isto não é exclusividade nossa. As costas orientais dos continentes costumam ser banhadas por correntes equatoriais e consequentemente o clima nestes lugares costuma ser mais quente e úmido. Ao mesmo tempo as costas ocidentais dos continentes costumam ser banhados por correntes polares, tornando o clima nestes lugares mais frio e seco.
Mais chuva que na Amazônia
A proximidade do litoral com suas correntes quentes pode até explicar porque não temos aqui o Deserto Atlântico ao invés da Mata Atlântica. Mas porque nestas mata chega a chover até mais que na Amazônia em pleno Equador? A resposta para esta pergunta é a Serra do Mar. O ar úmido empurrado do oceano em direção ao interior do continente encontra esta parede de quase 1000 m e se eleva. Ao ganhar altitude este ar esfria (1o a cada 300 m) e como o ar frio retém menos umidade, ele perde água. É a chuva que cai incessantemente na Mata Atlântica. É por causa desta chuva, chamada de chuva orográfica, que temos uma floresta tropical muito úmida onde poderíamos encontrar apenas um grande deserto.
Este texto foi escrito por: Cláudio Patto
Last modified: maio 19, 2000
