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Ciclistas de 11 países fazem roteiro do Rally Dakar

Redação Webventure/ Biking, Offroad

Rod e Douglas na Mauritânia (foto: Arquivo Pessoal/ Rob van der Geest)
Rod e Douglas na Mauritânia (foto: Arquivo Pessoal/ Rob van der Geest)

O ciclista holandês Rob van der Geest é um dos organizadores do Paris-Dakar by bike, expedição que seguiu um dos roteiros do maior rali do mundo no fim do ano passado. Veja abaixo o relato da viagem

Mais de 7200 quilômetros em dez semanas de bicicleta. A jornada incluiu culturas fascinantes, paisagens de tirar o fôlego e climas extremos. Nós pedalamos das passarelas de Paris até as barraquinhas abaixo das árvores Baobá no Senegal. Sol ardente, colinas e dunas de areia íngrimes, estradas com fossas, chuva torrencial, temperaturas muito baixas durante a noite e ventos fortes no deserto, montanhas, ventos que sopravam de todos os lados, cascalho como seda, terrenos planos intermináveis, downhills espetaculares, desertos infinitos. Nós passamos por tudo isso.

Um grupo de 27 pessoas de 11 países diferentes começou a viagem da Torre Eiffel numa manhã de domingo ensolarada de setembro. A partir daí muita coisa aconteceu. Nos acertamos facilmente em Paris, conseguimos estabelecer um ritmo de pedalada, alimentação e horas de sono. Durante a primeira semana foram sete dias seguidos de colinas. Nós descansamos em Gorges du Tarn e Cascassonne.

Depois das colinas vieram as montanhas chamadas de Pyrenees, mais especificamente Andorra. Foi o ponto alto da viagem, mas não para todos. Alguns cortaram caminho em um caminhão passando por um túnel escuro. Os que chegaram ao topo do Port d’Envalira, a 2408 metros, chegaram a conclusão que eles não só tinham chegado ao ponto mais alto da viagem, como o mais gelado.

Um dia depois, já tinham mudado completamente de idéia. Este se tornou um dia memorável, com neblina, chuva, frio no Coll del Canto, um trecho de mais de 1700 metros. No downhill o frio era terrível e todos, com exceção dos mais rápidos, acabaram num bar espanhol tentando se aquecer com um expresso, mas devido a tremedeira não sobrou nada nos copinhos. Voltamos ao normal, sem tremedeiras, apenas duas horas depois e assim conseguimos continuar até Ager, onde tivemos um merecido dia de descanso.

Na Espanha – A passagem pela Espanha foi complicada, com manhãs e noites geladas, tardes agradáveis, estradas calmas, colinas e montanhas que nunca acabavam e, de vez em quando, uma brisa bem no rosto. Mas também encontramos paisagens espetaculares na Espanha, rochas e cidades históricas fascinantes, como Ceuta, Ronda e Alhambra, em Granada, onde pode se encontrar o principal foco de cultura Moorish.

O pessoal mais veloz, o “Hawaii Express” do Báltico, Rob, o pequeno Rob e Eric, passaram a maioria do tempo juntos. Algumas vezes arrancavam e outras pegavam o caminho errado. Não foram só as pessoas da frente que conseguiram atravessar a Europa pedalando, a maioria obteve sucesso e pedalou todos os dias. Eles tomaram um café, uma coca ou um sorvete durante o caminho e continuaram, cada um no seu próprio ritmo, durante todo o caminho, até o balançar das bandeiras Bike-Dreams no local do acampamento.

Na África não foi apenas o cenário que mudou, mas também a cultura. Não tínhamos que tomar cuidado apenas com os carros, mas também com camelos, burros, macacos e cabras, com quem tínhamos que dividir o espaço das estradas. Eram vielas estreitas como labirintos, pequenas praças, ruas encobertas repletas de cheiros, gostos e cores diferentes, o que nos fez ter a sensação de que estávamos entrando em um outro mundo. Passamos uma noite em Kasbah of the Gorge du Ziz, onde o couscous era servido acompanhado de uma apresentação ao vivo de percussão com Berber (membro de povo caucasóide originário da África do Norte).

Algumas pessoas precisaram consultar nosso médico, dr. Franziska, mas não era nada com o que se preocupar. Atravessamos o Col du Zad, no “Middle Atlas” e depois duas vez o mais complicado “High Atlas”, com Tizi-n-Tichka e Tizi-n-Test. Todos chegaram a mais de 2000 metros de altura, pedalando praticamente todos os dias sem problemas.

Depois que atingimos a costa do Atlântico em Sidi Ifni, a viagem ganhou mais uma pitada de aventura. As distâncias a serem pedaladas não eram mais fixas e tivemos que acampar em algumas regiões da costa. Um dia na base de uma duna de areia, o próximo na beira de uma rocha em decomposição no oceano ou uma área infinita de areia no meio do Saara.

As condições da rota e do tempo mudavam a cada dia no oeste do Saara, mas as temperaturas se mantinham terrivelmente altas. O consumo de água atingiu seu máximo e o calor estava praticamente insuportável, mais adiante enfrentamos tempestades de areia e até um dia de chuva. Mas os ciclistas persistiram e se mantiveram firmes, eles queriam chegar até Dakar sem perder sequer um centímetro. Definitivamente não foi fácil, mas suas ambições foram mais fortes que as condições de tempo e rota no Saara.

Sul do Saara – Alguns deles ainda estavam competindo e terminaram o dia de 160 quilômetros em quatro horas, outros precisaram de mais tempo para finalizar a etapa, após terem bebido uma coca em um dos estabelecimentos no caminho, mas, definitivamente, seus esforços não foram menores do que o do pessoal mais rápido.

Na última semana passamos pelo sul do Saara, chamado de Black Africa, onde os trechos se tornaram mais curtos e as temperaturas mais baixas. Os ciclistas relaxaram depois de passarem por cabanas, pequenas lojas e pessoas retornando para o camaninho onde passávamos. Depois de um dia interessante pelos pântanos verdes com lagartos, crocodilos e porcos do mato, entramos no Senegal. No último dia, pedalamos por uma savana inclinada, com árvores baobá enormes até chegar em Dakar, a maior e mais agitada cidade do oeste da África.

O forte casal estoniano, Priit Salumã e Margus Püvi, terminaram em primeiro e segundo lugares, seguidos de Rob van den Heuvel, um holandês valente. No final todos os participantes são vencedores, do jovem Douglas Brain, de 23 anos, a Ruud Veken, de 62. Sem esquecer de Hanneke Breebaart, uma holandesa apaixonada que conseguiu pedalar todos os dias, do começo ao fim. Todos os participantes podem olhar para trás com muita satisfação e orgulho pelo que conseguiram conquistar de Paris a Dakar.

O “Paris-Dakar by Bike 2007” irá começar no dia 9 de setembro. Para obter mais informações acesse o site www.bike-dreams.com.

Este texto foi escrito por: Rob van der Geest

Last modified: janeiro 9, 2007

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