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Cicloturismo de Franca (SP) até a Serra da Canastra (MG)

Redação Webventure/ Biking

Serra da Babilônia. (foto: Arquivo pessoal)
Serra da Babilônia. (foto: Arquivo pessoal)

O caminho convencional de Franca (SP) para a Serra da Canastra (MG) seria via Passos e Piumhi (SP), mas não é indicado para bicicleta, pois as estradas são muito movimentadas e perigosas. Escolhemos um caminho mais longo, porém mais tranqüilo e mais bonito, passando por Claraval, Ibiraci e Delfinópolis (MG).

É possível ir direto de Franca a Claraval por uma estrada de asfalto, mas nós resolvemos ir por estradas de terra desde o começo. Assim, pegamos uma estradinha que segue paralela ao asfalto em direção a Cristais Paulista (SP), e que começa próximo ao Horto Florestal de Franca.

De Cristais seguimos para Claraval, já no estado de Minas (também por terra). Vale a pena demorar algum tempo em Claraval, onde há um bonito mosteiro no alto da cidade. Passamos então por Ibiraci e chegamos à estrada de asfalto que vem de Cássia. Logo se alcança a balsa que cruza a represa formada pelo Rio Grande, e se chega a Delfinópolis. É sempre bom fazer travessias de balsa, o ciclista é tratado com o devido respeito, a bicicleta tem preferência sobre os carros na entrada e na saída, além de não pagar nada!

Mais bonito e mais difícil – Para cruzar a Serra da Babilônia, escolhemos um caminho que nos indicaram ser o mais bonito, porém o mais difícil também: a estrada do rio Bateinha. Zerando o odômetro em Delfinópolis você anda 2,4 km e chega ao trevo. À esquerda segue uma estrada larga que se chama Rodovia Ecológica. Nós fomos para a direita, em direção ao Claro, complexo turístico de cachoeiras. Aos 5,6 km passamos pela entrada do Claro (aproximadamente 640m de altitude).

Cerca de meio quilômetro depois do Claro passamos por uma ponte de concreto e logo pegamos uma entrada à esquerda (tem uma casinha depois de uns 300m). A partir daqui a estrada piora um pouco. Subindo, aos 7,5 km chegamos numa entrada secundária para o Claro. Aos 8,9km passamos reto pela porteira da cachoeira do Paraíso.

As casas já começavam a escassear. Pegamos mais um ponto de GPS próximo a uma das últimas casas, aos 11,7km (UTM 0314952 / 7747712). Já havíamos subido uns 200m de altitude desde o Claro. Uma bifurcação: à esquerda seguiria até uma garganta na serra, mas pegamos à direita. Ainda faltava subir bastante. Aos 13,5km chegamos à Cidade de Pedra ou Condomínio de Pedra (UTM 0317499 / 7747616 1080m de altitude).

Acampamento – Num entroncamento em “T”, num areão avermelhado, pegamos à direita (UTM 0317623 / 7748564). Durante o dia inteiro, desde que saímos de Delfinópolis, não passou ninguém por nós senão dois motoqueiros vestidos de “super-heróis japoneses”. Pegamos então um grande platô no alto da serra e começamos a avistar outras serras ao longe. Naquele ponto acampamos num gramado na beira da estrada. O nascer-do- sol, no dia seguinte, foi incrível, e descobrimos mais alguém em nossa companhia, uma égua, seu potrinho e alguns micuins (aqueles carrapatos minúsculos que têm apenas meio milímetro!).

Logo iniciamos a descida. A estrada começa a ficar intransitável em alguns pontos, comida pela erosão, principalmente nas partes mais íngremes. Isto nos custou a quebra de alguns raios da roda e de um cabo de freio. Mais adiante passamos por um portão de ferro, e logo depois uma bifurcação (não pense que haverá alguém para perguntar que rumo tomar). Pegamos à esquerda, pois já víamos o rio Bateia lá em baixo. Uns 300m depois mais uma bifurcação (UTM 0320530 / 7746259 alt 952m), onde tomamos à esquerda novamente. Pouco antes, dava para ver um povoado lá em baixo, à direita, possivelmente Olhos D’água.

Mais um pouco e um novo entroncamento em “T”. Pegamos à esquerda. Já estávamos no vale do rio Bateia e entramos numa estrada melhor (UTM 0320751 / 7746692 902m). Logo adiante, na segunda ponte, há uma cachoeirinha à direita. Serve para um banho e para reabastecer de água (melhor clorar, há um pouco de gado nas proximidades).

Atenção: não pegue uma ponte maior à direita (UTM 0321067 / 7747147). É somente caminho para algumas fazendas, apesar da estrada ser grande também. Seguindo reto, uns dois quilômetros depois, chegamos a uma fazendinha na beira da estrada (pelas informações que tínhamos, achávamos que seria um vilarejo…).

Empurra-bike – De longe, há várias horas, avistávamos uma risca branca cortando a serra em zigue-zague. Enfim ela chegou, e foi terrível! Coisa como nunca tinha visto igual: areão na subida. Uma areia branca muito fofa, parecendo polvilho, que afundava até as canelas. Com as bicicletas muito carregadas, precisávamos os dois empurrar uma de cada vez, quase carregá-las. Acho que ficamos mais de uma hora até acabar esse empurra-bike (UTM 0324093 / 7748189 1161m). Então chegamos numa grande placa. Para a direita Serra Branca, Casca D’anta e Barreiro. Para esquerda Gurita e Faz. Água Limpa. À direita, então.

Aqui pegamos o trecho mais bonito de toda a travessia. Uma serra de cada lado e os vales com um rio serpenteando lá em baixo. Um visual e tanto (UTM 0325742 / 7747350 1205m).

Mais 8km após a placa, uma bifurcação (UTM 0332102 / 7742391 1310m) onde pegamos à esquerda. Cuidado: a da direita é tão batida quanto, dá para confundir, mas ela volta para Ponte Alta. Depois passamos próximo a uma casa amarela vazia e um riozinho sem ponte. E depois, mais dois riozinhos, também sem ponte. Com a chuva forte que caiu estavam pela altura da coxa. Nos abrigamos da chuva na providencial casa do seu Nenê, cerca de 11km depois daquela placa.

A estrada chega numa bifurcação à casa do seu Zezito. É famoso na região por ser muito hospitaleiro e dar pouso aos viajantes. Mas quando nós passamos somente o filho estava lá, e assim, infelizmente não o conhecemos.

Morro acima – Pegamos a esquerda pela porteira e mais um trecho de empurra-bike morro acima. Talvez uma hora de penúria para chegar ao topo (UTM 0335111 / 774652 1318m). Logo em seguida, um ponto com duas bifurcações e placas confusas. Ficamos ali algumas horas sem saber que rumo tomar. Aproveitamos então para fazer nosso lanche e dar uma regulada nas bicicletas. Não queríamos arriscar qualquer caminho, pois poderíamos levar muito tempo para descobrir o engano. Finalmente passou alguém para nos dar a informação que precisávamos. Na primeira bifurcação tomamos à esquerda e na segunda também (UTM 0336082 / 7748628 1308m).

Logo começamos a avistar a Casca D’anta, um fio muito branco cortando a serra. Foi emocionante conseguir identificá-la de tão longe. Uma bifurcação com placa: Casca D’anta à direita (UTM 0333734 / 7751500 1282m). Mais uma bifurcação com placa: à esquerda Vão dos Cândidos e à direita Casca D’anta a 8km. (UTM 0335428 / 7754189 1163m). Estávamos chegando!

Alcançamos uma Igrejinha, ainda no alto da serra (UTM 0335980 / 7753806 1225m). Resolvemos passar a noite ali, abrigados num telhado ao lado da igreja. Apesar de ainda termos algumas horas de luz, ficamos lá para aproveitar a vista panorâmica. Descendo no dia seguinte, já chegamos na portaria da Casca D’anta (UTM 0340217 / 7753000 806m).

Pausa – Fizemos de Delfinópolis até a Casca D’Anta em dois dias e meio (dois pernoites), mas porque fomos muito devagar, curtindo bastante e também porque estávamos bem carregados (comida para 15 dias e roupas de inverno). Talvez dois dias sejam suficientes.

Passamos dois dias secando as coisas e limpando as bicicletas no camping da Casca D’anta, o único local permitido de se acampar no Parque Nacional da Serra da Canastra, e por sinal com ótima estrutura.

De lá seguimos pela estrada principal. Saindo do parque, com 8,7km, passamos a entrada para São José do Barreiro e a bifurcação para Vargem Bonita (UTM 0345020 / 77500100 876m). Aos 21,2km Passamos por Vargem Bonita. Aos 34,4km chegamos a São Roque de Minas. Ouvimos falar de uma outra estradinha da Casca D’Anta para São Roque, que passa mais próximo à serra, mas por causa de uma roda com alguns raios quebrados acabamos usando a estrada principal por precaução.

Estrada de São Roque – Chegando a São Roque não é difícil conseguir infomação sobre o Parque nas pousadas, agências e no escritório central do Ibama. Caso não vá realizar a travessia do Parque, utilize a cidade de São Roque como base para conhecer os atrativos da parte alta, em passeios de um dia. Vale lembrar que há uma subida de sete quilômetros entre a cidade e o Parque.

Se quiser fazer a travessia do Parque, uma boa opção é dormir no vilarejo de São João Batista, pois não é permitido permanecer no Parque após as 18 horas. Dali, siga até a saída pela Portaria Sacramento e desça a Serra das Sete Voltas, que completando o circuito. O caminho o levará de volta a Delfinópolis ou à Franca, como foi nosso caso.

Nota da autora: Se tiver alguma alteração ou sugestão em relação a este roteiro por favor entre em contato.

  • Evite os feriados, os pontos mais turísticos costumam lotar e o movimento de carros fica muito intenso nas estradas principais;
  • Quem tiver menos tempo, pode ter como ponto de partida e chegada Delfinópolis (acessível de ônibus a partir de Ribeirão Preto);
  • Leve bastante água, em cima das serras quase não há nascentes ou rios;
  • Use óculos escuros e protetor solar, a vegetação rasteira nos deixa o tempo todo expostos ao sol e ao vento;
  • Não conte com recursos de bicicletarias da região, leve ferramentas e peças de reposição;
  • Respeite as épocas de chuvas, de outubro a março, pois as chuvas são implacáveis e as estradas ficam uma lástima;
  • Ao acampar, faça sua parte, siga as recomendações e regras de mínimo impacto. Jamais faça fogueiras. Nesta região o fogo se alastra facilmente;
  • Respeite a cultura local e aproveite para aprender bastante, lembre que cada lugar tem seu tempo e ritmo próprios;
  • Para saber mais sobre a Serra da Canastra leia o livro do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, chamado “Viagem às Nascentes do Rio São Francisco” (Ed. Itatiaia).

    * Eliana Garcia: Bióloga, completou mais de 10 mil quilômetros em cicloviagens, desde 1988. Dentre estas destacam-se: Expedição Parques del Sur (em que percorreu 4200 km passando pelo Chile, Argentina, Uruguai e Sul do Brasil), Expedição Titicaca, Sertão Nordestino, além das travessias do Pantanal, das Chapadas Diamantina, dos Guimarães, dos Veadeiros e da Serra da Canastra. É fundadora e coordenadora do Clube de Cicloturismo do Brasil e fabricante dos alforjes Arara Una (www.ararauna.esp.br).

    Este texto foi escrito por: Eliana Garcia*

    Last modified: março 24, 2004

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    Redação Webventure
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