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Cicloturismo na Ilha de Creta

Redação Webventure/ Biking

Prato típico de Creta  caracóis (foto: Fábio Zander)
Prato típico de Creta caracóis (foto: Fábio Zander)

Nova série de textos na coluna do ciclista Fábio Zander traz passeios de Bike pela Grécia. O brasileiro, que mora na Ilha de Creta, descreve paisagens, clima, cultura local e caracóis para o jantar. Boa viagem.

O lado sul na ilha de Creta é bem menos povoado, mais seco, de vegetação rasteira e algumas praias desertas. Em alguns povoados se chega somente a pé ou de barco.

O impressionante é que a ilha tem umas vinte montanhas acima dos dois mil metros de altitude, e são elas que barram as nuvens na face norte e em conseqüência as eventuais chuvas. Não importam as condições: oliveiras, ovelhas, cabras e bodes agüentam o tranco em qualquer canto da ilha, como aqui no sul.

A maior cadeia de montanhas de Creta se chama Lefka Ori, as montanhas brancas, que ficam do lado oeste da ilha. Brancas por causa da neve, entre novembro e junho, e também por ter rochas calcárias que têm a cor esbranquiçada.

Por causa dessas montanhas temos do lado noroeste de Creta muito verde com muitas plantações de laranjas, abacates, melancias, bananas, etc. É raro faltar água, mesmo no alto verão, sem as chuvas e com as temperaturas girando em torno de 30 e 45 graus.

As montanhas funcionam como uma esponja, tem inúmeras cavernas cheias de água da neve e chuva. Essa água, ao encontrar no pé das montanhas uma dura camada de rocha, escorre para o lado noroeste.

Estou morando na pequena vila pescadora de Georgioupoli no noroeste de Creta e trabalhando como guia em diversos roteiros de bicicleta pela ilha. No meu dia de folga resolvi alugar um carro e ir a Hora Sfakion que fica no lado sul da ilha.

De Sfakion segui com destino a Anópolis, ainda de carro, por uma estrada estreita, sem “guard rails”, meio perigosa, mas com lindas paisagens e vistas ao mar. Som do dia: sinos presos em pescoços dos bodes e ovelhas que perambulam pelas montanhas. Acima dos 1400 metros é vento e silêncio.

De Anópolis comecei a minha pedalada rumo a base da segunda maior montanha em Creta, o Páchnes com 2453 metros de altitude. O pico mais alto da ilha é Timios Stavrós com 2456 metros, que se localiza no centro.

O Páchnes é uma grande pirâmide, um lindo formato para um pico.

De Anópolis já começo pedalando na subida e é assim o dia inteiro. Fisicamente estou muito bem, diria que estou em uma de minhas melhores fases físicas, devido ao trabalho de guia. Melhor fisicamente do que no passado, antes de minhas viagens pelos Andes, Atacama…

São aproximadamente 25 quilômetros em quase três horas de pedalada para se chegar ao passo de Rousiés a 1900 metros de altitude. De Rousiés segue uma trilha ao topo do Páchnes, que devido ao horário não fiz.

O visual por todo o caminho é de tirar o fôlego pelas alturas. Muitos desfiladeiros e paisagens com ciprestes, oliveiras e o Mediterrâneo ao fundo. Acima dos 1200 metros há presença da vegetação mais rasteira. A partir dos 1500 metros de altitude muitas pedras e rochas pelo caminho, e alguns trechos com neve. Lembrando que realizei essa pedalada em abril.

A descida a Anópolis, no fim de tarde, foi rápida, mas exigiu muito mais atenção na pilotagem devido as pedras e buracos.

Cada vez mais curto subir montanhas e morros de bicicleta. Gosto de sentir os músculos “queimando” e ter aquele alívio nas pernas ao chegar no topo. Papo meio “sadô”, mas gosto de sofrer um pouquinho para ter o meu objetivo concluído com sucesso, suar e merecer aquela paisagem ou aquela bela descida no fim do dia ou mesmo um jantar farto.

A mulher tinha acabado de lavar a comida e ela, a comida, já se movimentava para todos os lados da pia de metal. Rapidamente recolheu e jogou-os na panela sobre o fogo. Dentro da panela, água e sal.

– Ops, pega aquele ali no azulejo, por favor.
– Ok.

Começo a rir, pois não me lembro de ter acompanhado uma cena tão curiosa dentro de uma cozinha, onde o alimento literalmente foge para não ser comido. Salingária, um dos pratos típicos aqui em Creta. São caracóis, como esse suculento da foto. São recolhidos nas montanhas e cozidos. Scargot para o mais chiques.

Aqui em casa tenho um monte deles circulando pelas paredes do meu terraço, principalmente em dias úmidos ou de chuva (abril e maio). Já viu, em dia de fome e economia, sei por onde começar. (argh!)

Depois de cozidos são regados com óleo de oliva, um pouco de sal, orégano e servidos em um prato. Você recebe alguns palitos ou um garfo e vai pescando a carne da lesma. O gosto lembra um pouco de ostra, ou seria marisco?

Este texto foi escrito por: Fábio Zander

Last modified: setembro 6, 2007

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