Viagem terminou no outro extremo da ilha (foto: Arquivo pessoal)
Rodrigo Grego, Ezequiel Pulcinelli, Regina Freitas e eu, Helen Cardoso. Os meninos formados em geografia (claro… para eu não me perder), a Regina em Educação Física (claro, para ter sempre um incentivo). Junção perfeita de confusão, aventura, amizade e diversão.
No princípio a ideia era cruzar a ilha de leste a oeste, pois disseram que os ventos eram melhores, a favor. A ilha é praticamente plana, só em alguns lugares específicos que existem algumas montanhas e lomas, como dizem os cubanos.
Chegamos em Havana um pouco decepcionados com a companhia aérea, porque nossas bicicletas chegaram um pouquinho diferente de quando nos despedimos delas no aeroporto de Guarulhos, mas nada que um jeitinho cubano de resolver as coisas não arrumasse, lixando e desentortando nossas bicicletas. O custo de todo esse trabalho: um chocolate. Pois é, o cara não cobrou nada. Mas claro que demos um regalo, um chocolate e uma pasta de dente (levamos um mooooooonte de pasta de dente, li num artigo que eles não tinham nem pasta de dente e nem sabonete).
Realmente é um pouco escasso os produtos de higiene, mas não vi faltar, só ouvi reclamações que era de má qualidade.
Tomamos um taxi incrível, era um carro muito antigo de 1950 e tralalá, mas que cabiam pessoas e bicicletas. Descobrimos já ali no taxi que os cubanos amam os brasileiros; primeiro, pelas novelas, segundo, pelo futebol e, terceiro, pelo carnaval. Quando falávamos que éramos brasileiros, realmente éramos tratados de outra maneira, com muito mais hospitalidade.
TurismoChegamos ao apartamento que reservamos pela internet; é normal as pessoas alugarem seus quartos, é mais barato para aqueles turistas que não querem gastar muito, como nós! Muito confortável e agradável. Essas casas são alugadas e uma boa parte do dinheiro vai para o governo. Eles realmente ganham o lucro no café da manhã e no jantar que nos oferecem.
No outro dia fomos conhecer os principais pontos Turísticos de Havana: Museu da Revolução, El Malecón, o Bar Bodeguita Del Medio, Hotel Nacional, a feira de livros usados, bairro chino, a Catedral, o forte de Havana, o Capitólio, Havana Velha, Havana Clube e a Casa de La Rumba.
Experimentamos a culinária cubana, uma dieta bem parecida com a nossa: arroz com feijão, que eles chamam de Moro, tudo misturado, salada de repolho, tomate e carne de porco frito. Nas cidades litorâneas, peixes, lagostas e camarões também foram uma boa pedida.
Estávamos perto da virada do ano, perguntamos para vários cubanos onde ia ser a festa. Nada de encontrar a resposta, todos falavam que iam passar com a família e aproveitavam e nos convidavam para passar juntos o ano novo. Pelo menos umas cinco pessoas nos convidaram quando ficavam sabendo que nós éramos brasileiros. Quando foi às 18h da tarde, encontramos Wilfredo: um cubano que estava relaxando, tomando seu Havana Club, vendo o pôr do sol na orla do Él Malecon, depois de uma reflexão sobre a economia do país e suas festividades. Nos rendemos, descobrimos que todos os cubanos passam o ano novo com suas famílias dentro de suas casas. Pegamos o endereço e dissemos que às 21hs estaríamos na casa dele para festejar.
Aproveitei o convite e convidei também o equatoriano Marco Cordova que conhecemos numa pizzaria. Todos nós, rumo à casa do Wilfredo. Achamos a casa, era bem no centro velho de Havana, conseguimos entrar por entre aquelas portas sinuosas e estreitas. Anda, sobe escada, corredores, desce escadas, encontra um monte de famílias e até que enfim chegamos à sua casa, e uma família enorme. Chegando lá, nos receberam muito bem com a tradicional comida e bebida cubana, arroz Moro, carne de porco e o famoso run Havana Club.
Conversamos, rimos e dançamos salsa, até as 23:50, quando de repente todo mundo para e começam a encher baldes de água, sim, baldes de água. Quando deu meia noite, todo mundo encheu um balde de água e jogou na rua. Perguntei se era simpatia, mas eles não entenderam a palavra simpatia em português. Aí, nem tentei prolongar a conversa, era Ano Novo. Estávamos em festa!!!
Revolução – No outro dia tomamos um ônibus, próprio para turista de uma companhia da Via Azul que em 14hs de viagem nos deixou em Santiago de Cuba, um lugar que respira revolução. No lugar de outdoor e propaganda de consumo, havia frases de revolucionários como José Martin, Cinfuegos, Che ou do próprio comandante Fidel Castro. Sempre incentivando a política socialista.
Santiago de Cuba que presenciou a prisão de Fidel Castro em 1956 no quartel Moncada, onde há até hoje há um monte de buracos de tiros e tranquilamente crianças de ensino fundamental tem aulas. Em Santiago percorremos pelos museus históricos e conhecemos histórias incríveis de revolucionários que não fizeram tanto sucesso como Che Guevara, mas que também tiveram sua participação e sua contribuição para os acontecimentos históricos dos cubanos.
Conhecemos um grande cozinheiro, Martín, e sua esposa dona Esperanza, que fez a lagosta mais top de Cuba e com um preço justo. Não chegou a R$20,00 convertendo. Fomos a algumas praias perto de Santiago, mas não tão bonitas quanto as que ainda iríamos conhecer.
Partimos para Ciego Avila e de lá saímos bem cedo sentido Cayo Coco, uma ilha. Percorremos uma estrada de 32km de uma reta só, sensacional a paisagem. Apreciamos a vida agrária dos cubanos, tomamos muito caldo de cana, servida no fundo de uma garrafa.
Chegando lá, descobrimos que era uma cidade bem turística e que tinha muitos Resorts. Dona Esperanza reservou para nós uma pousadinha bem barata, que ficava a 10km da praia. Conhecemos bem a região, águas cristalinas, horizonte azul e sem ondas, piscina, lugar maravilhoso, resolvemos ficar um dia a mais.
Conversamos com alguns poucos cubanos que trabalhavam na ilha, todos eles tinham curiosidade de saber nossos salários, quanto cada profissão ganhava aqui no Brasil; não sei, mas acho que eles queriam saber se valia a pena fugir de barco! Eles são proibidos de sair do próprio país! E reclamam muito da economia.
Voltamos e paramos numa cidade chamada Moron, ficamos no único Hotel da cidade que era o mesmo preço se ficássemos em casa de família. Enfim, curtimos uma piscina de dia e uma pizza à noite.
Na estrada e nas ruas das cidades, os cubanos respeitam muito a sinalização. Bicicletas não podem circular na contramão, somente levando na mão. Os caminhões na estrada não ultrapassam enquanto a faixa central permitir, chega dar aflição aquele caminhão enorme atrás de você. Eles estão acostumados com isso. As estradas não têm acostamento e existem muito ciclistas e charretes, o índice de acidentes é baixíssimo.
Saímos do Hotel e fomos para Sancti Spiritus, cidadezinha com não boas lembranças, lá encontramos uma casa de família, mas achamos estranho, porque não pediram nosso passaporte e nem assinamos nada. Acordamos na manhã seguinte e pegamos a bike, só nos demos conta no meio do caminho que tinha sumido um canivete do Ezequiel e a luz dianteira da Regina, pois é, nos furtaram.
Seguindo viagem um pouco triste com a história, fomos para Trinidad, uma cidadezinha histórica e colonial. Demos sorte porque chegamos na semana cultural, então assistimos shows muito bons de salsa. Fomos também numa cidade próxima Cinfuegos, de lá fomos de táxi à Santa Clara, onde estão os restos mortais do Che Guevara, onde está também um trem descarrilado.
Sucesso – Percorremos muitos lugares com as bicicletas. Em todos os lugares elas foram muito cobiçadas, queriam comprá-las de qualquer jeito. O preço mais alto por elas foram vinte dólares. Eu dizia que não largava da minha bike de jeito nenhum!!! Ela veio pra Cuba, eu dizia.
De Cinfuegos fomos para Varadero, a cidade mais turística de Cuba, onde estão os melhores e maiores redes de Resorts do Mundo, mas claro que ficamos numa casa alugada. Conhecemos de ponta a ponta, (Varadero é uma península) ficamos encantados com tanta beleza. Viemos conhecendo toda a costeira até Havana, conhecemos praias e um campismo incrível chamado Los Cocos em Matanzas, um lugar tranquilo com vários chalezinhos, piscina, baile de salsa e reggaeton à noite. Muito divertido.
Total da viagem foi de aproximadamente 820km. Com a ajuda de ônibus e táxis, não daria tempo de conhecer tudo que conhecemos. Rodrigo e Regina ainda continuaram a viagem participando de um evento importante que acontece anualmente, o Congresso de Educação, e depois eles ainda conheceram Piña Del Rio e Viñales.
Conhecemos os dois lados de cuba e os quatro lados da moeda (Cuba tem duas moedas circulando, o CUC que é moeda turística que equivale a um dólar e o peso nacional que equivale a 24 pesos cubanos). Conhecemos o lado turístico que é fantástico e conhecemos também o lado cubano, como eles vivem, no que eles acreditam, como é sua cultura, suas crenças e suas músicas. Percebemos que os cubanos são bem semelhantes aos brasileiros, por isso eles nos acolheram tão bem, temos muitas afinidades. Um povo sofrido, mas que procura sempre a felicidade.
Foram vinte e cinco dias de muito autoconhecimento e experiência.
Foram quatro pneus furados.
Valeu a pena.
Este texto foi escrito por: Helen Cardoso