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Cinco Continentes: a realização de um sonho

Redação Webventure/ Expedições

Após apenas dormir em Guadalajara, cheguei a Mazatlam, que é uma bela cidade à beira mar totalmente invadida por turistas americanos pelo fato de ser próxima da fronteira com os EUA. Obviamente, a moeda americana é muito mais valorizada do que o peso mexicano.

Dormi num hotelzinho próximo da praia. De manhã, quando acordei, abri a porta do quarto e não pude acreditar no que via: centenas, talvez milhares de pelicanos voando muito baixo em direção ao mar. Atrás do tal hotel existe uma grande lagoa onde residem estas simpáticas aves.

Dois dias depois eu estava cruzando a fronteira com os EUA. Para minha surpresa, foi mais tranqüilo do que passar do Brasil para a Argentina. Nem olharam a moto, menos ainda a minha bagagem. Também não foi necessária permissão para entrar com a moto no país. Só conferiram o visto.

Diferença gritante – A diferença de asfalto, sinalização, maneira de dirigir, limpeza é muito grande (tentei achar um buraquinho na estrada e não consegui). Mesmo sem saber ler ou falar inglês, qualquer um com um mapa na mão percorre os EUA inteiro sem problemas.

Conheci Phoenix e Las Vegas mas o que me fascinou mesmo foram as pequenas cidades com suas belas paisagens.

Estava indo para Flagstaff, no Arizona, conhecer o famoso Grand Canyon quando num posto me avisaram que estava nevando naquela região. Mudei minha rota então para o Yosemite Park na Califórnia mas quando ainda estava no estado de Nevada, policiais me avisaram que a estrada para lá estava fechada pela neve. Isto porque já era primavera!

Fui então conhecer a mais apreciada montanha para esqui da Califórnia, a Mammoth Lake. Linda, toda coberta por neve, cheia de pinheirinhos , emoldurada por um céu azul de brigadeiro.

Congelando – Subi por um teleférico até o cume. Lá em cima, a vista era deslumbrante. Fazia – 5ºc mas como o vento chegava a 50 milhas por hora, a sensação era de que fazia – 10ºc! Eu gosto muito mais do frio do que do calor, mas assim já é exagero.

Tive que comprar luvas especiais de gore-tex para esqui pois mesmo os três pares que eu tinha, minhas mãos estavam quase congelando enquanto eu pilotava. Tratei também de comprar uma espécie de ciroula de esquiar, além de meias.

Ao entrar no estado de Oregon foi que me dei conta de que faltavam apenas 1.500 km para chegar ao Canadá. Como estava rodando aproximadamente 500km por dia, faltavam apenas três dias.

Realizando um sonho – Senti-me feliz por ter conseguido realizar meu grande e antigo sonho, mas também me bateu uma sensação estranha. Estava há quase três meses na estrada, viajando quase todos os dias, dormindo em lugares diferentes, conhecendo pessoas e culturas distintas. Era estranho pensar em ficar três meses parado, muna mesma cidade.

Seguindo sempre por rodovias nacionais e fugindo das largas e rápidas interstates, atravessei o Oregon e Washington por entre florestas de pinheiros, montanhas e vulcões cobertos por neve, sentindo um frio de doer.

Passei por uma pequena cidade nas montanhas chamada Leaven Worth. Todas as construções em estilo anchaimel, exatamente como nos Alpes e nos Pirineus, lembram demais as estações de esqui européias.

Etapa cumprida – Após a apresentação do visto, algumas perguntas e mais nada, eu atravessava a fronteira dos EUA com o Canadá. Depois de 17km em exatos dois meses e vinte dias, eu via meu sonho se completar. Agora, mais do que nunca, penso que devemos acreditar neles.

Agora, me preparando para a próxima etapa desta aventura, penso em tudo que vi e senti. Penso nas tantas dúvidas que tive tentando adivinhar se a gasolina do tanque daria para chegar na próxima cidade, se conseguiria chegar ao final da viagem ou se viveria até lá. Como seria a próxima fronteira.

Penso nas tantas vezes que, na solidão do meu capacete, chorei lembrando da minha despedida, da minha família da vida que eu deixava para trás.

Nas intermináveis canções que eu durante o dia todo cantava na estrada, cheguei à conclusão de que Deus nos dá vida e nos permite fazer dela o que desejamos. Nós, porém, devemos lutar por isso.

A expedição Cinco Continentes tem apoio de Webventure, Berlitz, DHL, Morumbi Shopping, Michelin, Leather Way, Braitner, Mercearia, Eldorado FM e revista Motociclismo.

Este texto foi escrito por: Raphael Karan

Last modified: julho 26, 2000

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