Finalmente o Alasca (foto: Arquivo pessoal)
No último relato para a Webventure sobre a etapa americana da expedição Cinco Continentes, Karan recorda a chegada de moto ao Alasca.
Dawson City foi a última cidade que estive antes de chegar ao Alasca. Parti numa bonita manhã por uma estrada chamada de “rodovia do topo do mundo”.
Geralmente as estradas são construídas em vales, paralelas a rios ou no pé das montanhas, sempre procurando terras mais planas, baixas e com menos acidentes geográficos. Esta, no entanto, foi feita sobre uma cadeia de montanhas e ao percorrê-la, se tem uma maravilhosa vista do horizonte por sobre o cume de outras montanhas mais baixas.
Finalmente cheguei à última fronteira da viagem. Fui recebido por um cordial agente da aduana americana de Poker Creek que, após carimbar meu passaporte com a figura de um caribu, tirou várias fotos de mim, fazendo pose em frente a placa que dizia: “Welcome to Alasca”.
Logo na primeira noite no tão sonhado Alasca, acampei próximo à cidade de Tok. Assim que cheguei ao camping, vi algumas Harley Davidson estacionadas e seus proprietários em suas respectivas barracas. Fui chegando e já cumprimentando todos mas, para minha surpresa, um deles, assim que viu as bandeiras do Brasil e do Canadá na traseira da moto, caminhou próximo a mim e fincou na terra a bandeira dos EUA. Fiquei parado, completamente sem ação por alguns instantes e logo após, com o sorriso que me é peculiar, disse a ele que estava justamente a procura de uma bandeira de seu Pais, porém como havia acabado de chegar ao Alasca, ainda não havia tido tempo de comprar.
Onde a noite é dia – No dia seguinte eu cheguei em Fairbanks, o ponto mais ao norte de minha viagem, a apenas 320 km do círculo ártico e a 22 mil quilômetros da minha casa em São Paulo, de onde parti. Há vários dias eu necessitava tapar os olhos com uma meia por causa da luz do sol. Só percebia que era hora de dormir, quando olhava para o relógio. O céu já não escurecia mais e a claridade das noites nas terras do norte, anunciavam o verão. Tirei uma foto do céu atrás de umas árvores, exatamente à meia noite, e o resultado foi uma fotografia em tons de cor de laranja e rosa.
Fiquei em Fairbanks por três dias e pude assistir as olimpíadas da “First Nation” (maneira educada de se referir aos índios ou esquimós). As competições eram surpreendentes. Uma espécie de cama elástica circular feita em couro de algum animal e sustentada por umas cinqüenta pessoas que começam a puxar e afrouxar sincronizadamente, projetando o atleta para cima. O resultado é que a pessoa sobe aos ares a uma altura de pelo menos vinte metros. O vencedor é o que voa mais alto.
Outra modalidade é só para mulheres. Sentam no chão, uma de frente para a outra, pegam um barbante forte, com as pontas amarradas, uma na outra, põe atrás da orelha de ambas e começam lentamente deitar o tronco para trás, o barbante se retesa pressionando as orelhas. A vencedora é a que suporta a dor por mais tempo…
Dois cartões-postais – Iniciei o caminho de volta indo para o mais famoso parque nacional do Alasca, o Denali, onde esta a maior montanha da América do norte, o Mackinley, com mais de 6.200 metros de altura sobre o nível do mar. Dentro do parque não se pode entrar com o próprio veículo. As visitas são feitas em pequenos ônibus de onde pude ver bem próximo, ursos, caribus, raposas, águias e muitos outros animais e aves que habitam essa imensa área de preservação.
Anchorage, é a maior cidade do Alasca e como toda grande cidade, não oferece muitos atrativos para amantes da natureza, porém foi no hotel Hilton que vi, apesar de empalhados os maiores ursos de toda a viagem. Um polar, que foi caçado na Sibéria com mais de três metros, do nariz ao rabo e pesava quinhentos quilos e um marrom também muito grande, com seus dentes enormes à vista, dava a impressão de não ter sido muito simpático quando vivo.
Certa manhã liguei para minha esposa e o que se seguiu mudaria o rumo da viagem. Eu já estava a muito tempo longe de casa e acredito que deva ser mais difícil a solidão de quem fica do que de quem parte. Era uma manhã de frio, caia uma garoa fina e incessante. Tinha acampado atrás de um posto de combustível e dormido mal. Devia estar um pouco cansado, fragilizado talves e então respondi que voltaria.
Tudo que vi e senti neste tempo foi uma prova de que o sonho é possível de ser realizado. De que os obstáculos nunca são tão grandes que não se possa pelo menos tentar.
A expedição Cinco Continentes tem apoio de Webventure, Berlitz, DHL, Morumbi Shopping, Michelin, Leather Way, Braitner, Mercearia, Eldorado FM e revista Motociclismo.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira