Foto: Pixabay

Classe Snipe prepara velejadores para diversas categorias do esporte

Redação Webventure/ Vela

Trabalho em dupla fortalece amizade e respeito no barco (foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Inácio)
Trabalho em dupla fortalece amizade e respeito no barco (foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Inácio)

Dentro dos 190 barcos participantes da 35ª Rolex Ilhabela Sailing Week encontravam-se velejadores de todas as idades. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e até mesmo os que já beiram a aposentadoria no esporte, participaram do maior evento de vela Oceânica da América Latina entre os dias 6 e 12 de julho, na Ilhabela, litoral norte de São Paulo.

E o começo da maioria na vela é quase sempre o mesmo: desde muito novo, passando por diversas classes, mas uma das mais importantes passagens é pela classe Snipe.

Em um barco de 4,72 metros com duas velas, a buja, controlada pelo proeiro, e a principal ou grande, controlada pelo timoneiro, a disputa na Snipe é sempre igual, já que todos os barcos têm as mesmas medidas, ou seja, é um monotipo, comandado por duas pessoas, apenas.

E esta classe pan-americana teve vários representantes na Semana de Vela de Ilhabela, como a dupla Marcelo Bellotti e Eduardo Molina, o Duda. Fazendo parte da tripulação do Timberland/ Montecristo, da classe ORC Internacional 500, durante o evento na primeira semana de julho, os garotos começaram na classe Optimist, embarcação usada para iniciação na vela, ainda crianças, e após dez anos na Snipe, compartilham alguns momentos na vela Oceânica.

“Nós começamos a velejar separados. Eu com sete anos e o Duda com treze, ainda na Optimist, e quando eu tinha 15 anos deixei a classe e fui para a Snipe. Era proeiro e fui aprendendo a velejar até comprar o meu primeiro barco”, relembrou Bellotti.

Ele conta que Duda Molina tinha certo destaque na Optimist quando mais novo, e ele já estava alcançando bons resultados no esporte quando uniram suas forças na Snipe, considerada uma das mais técnicas classes, já que a competição é de igual para igual. Todos os barcos têm as mesmas medidas e a disputa é vencida por quem termina em primeiro, e não como na vela Oceânica, em que os barcos divergem muito em suas dimensões e potência e o vencedor é tido após uma correção de tempo, de acordo com cada categoria.

Força brasileira – E o Brasil tem uma das maiores flotilhas do mundo na categoria, tornando-se uma referência de qualidade em formação de velejadores. “No mundial, entre os dez primeiros sempre tem cerca de cinco duplas brasileiras”, comentou Marcelo.

Juntos há dez anos, Bellotti e Duda Molina foram campeões sul-americanos de Snipe, em 2003, Brasileiro, em 2004, terminaram dois Mundiais entre os dez primeiros, além de terem sido vice-campeões do Mundial da categoria Lightning. “A Snipe, por ser forte no Brasil, prepara para diversas categorias. É a melhor classe para treino”, explicou o tático do Montecristo.

Duda ressalta que todas as teorias e técnicas da Snipe podem ser aplicadas na Vela Oceânica. “A regulagem de vela, a forma de velejar, a largada, enfim, dá para trazer tudo da Snipe e aplicar aqui”, disse ele sobre os grandes barcos da ORCi 500.

Mas a Rolex Ilhabela Sailing Week tinha outros representantes da Snipe disputando no mar de Ilhabela. Rodrigo Inácio, grinder do barco campeão da ORCi 500 no evento, o Mitsubishi Motors/ Gol, e Rafael Gagliotti, trimmer e tático do Cauê, que correu pela HPE25, têm história na categoria tida como a formadora de todas as categorias.

“Eu comecei a velejar aos seis anos, mas aos 14 iniciei na Snipe, por influência do Rafael, que me apresentou o barco”, conta Rodrigo, hoje com 20 anos, que é vice-campeão brasileiro na categoria Junior, velejando ao lado de André Couto, companheiro de Rafael na HPE25, durante a Semana de Vela de Ilhabela. Ele lembra que a maioria dos grandes velejadores do país já conquistaram títulos mundiais na Snipe, como Torben Grael e Robert Scheidt.

Há sete anos na Snipe, com Henrique Gomes, Rafael e seu companheiro inciaram há dois anos também na classe 49er, que é uma classe olímpica desde Sidney-2000. Na Snipe, a dupla já foi vice-campeã brasileira em 2008, medalhista de bronze no sul-americano de 2007 e terceira colocada na seletiva dos Jogos Pan-americanos.

Dois barcos – “Infelizmente na vela não conseguimos com o mesmo barco participar do Pan-americano e da Olimpíada, mas são objetivos muito fortes do patrocinador, então temos que partir para dois barcos diferentes e ambos de dupla”, disse Gagliotti.

Rodrigo destaca sua preferência por regatas de Snipe pela competitividade entre os velejadores e pela qualidade técnica das disputas. “O monotipo acaba se tornando mais gostoso porque todos os barcos são iguais e quem chegar na frente, vence. E além disso, é mais difícil controlar tudo dentro do barco em duas pessoas e por isso, por essa dificuldade, a classe acaba formando velejadores de alto nível, que o oceano não forma”, completou Rafael.

E além de toda técnica e preparo que a classe Snipe exige dos velejadores, há mais coisas importantes que a dupla precisa ter dentro do barco para que realizem sempre um bom trabalho: amizade e paciência.

“Eu sou muito nervoso, explosivo, e o Duda é mais calmo e sempre consegue me acalmar, usa um bom jogo de palavras e, às vezes, é uma virtude maior do que saber velejar muito, é usar a cabeça, ser um cara inteligente”, ressaltou Marcelo Bellotti.

“A gente precisa falar algumas coisas, mesmo que não seja verdade, temos que dar um jeitinho de acalmar”, completou Duda Molina.

Bellotti diz ainda sobre o complemento que os velejadores fazem dentro do barco. “Um entende mais de manobra, outro de shape de vela, e assim vamos nos completando”.

Para a dupla, todo o trabalho realizado dentro da Snipe, no que diz respeito à tolerância, amizade e responsabilidade, pode ser usado dentro das outras categorias também, como a vela oceânica. “Precisamos fazer eles (tripulantes do Timberland/ Montecristo) acreditarem que vai dar certo, confiarem no nosso trabalho, e também fazerem o trabalho deles”, explicou Molina.

“Lá (Snipe) são duas pessoas, aqui (Oceânica) são doze. Temos que chamar a nossa responsabilidade na hora certa para que todos possam confiar no nosso trabalho. Temos que saber ser agressivos e brigões e também ser os caras gente boa, que concordam com todo mundo. Dá para comparar com o dia-a-dia de uma empresa”, finaliza Belloti.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: julho 15, 2008

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure