No total foram 456 quilômetros pedalados (foto: Fabio Zander)
Eu a minha esposa Daniela Zander pedalamos em nossas férias de verão de 2011 pelo sul da Alemanha, na região da Baviera, onde moramos desde 2009.
A viagem durou nove dias com sete etapas. No total foram 456 quilômetros pedalados e aproximadamente 3.700 metros de ascensão. A viagem também serviu de preparação para a nossa viagem no final deste ano para Cuba.
Essa pedalada é um clássico no meio cicloturístico alemão, seguindo por ciclovias asfaltadas e muitos trechos de terra e cascalho no meio de grandes florestas e lagos, na região alpina que faz fronteira com a Áustria.
Saímos de Munique de trem, com as bicicletas equipadas com alforjes e barraca, com destino à cidade de Lindau, às margens do lago de Bodensee, próximo da fronteira de Suíça e Áustria.
Nosso objetivo era pedalar pela região alpina no sul da Alemanha, de oeste a leste, até o lago de Königssee. O diário a seguir foi escrito e preenchido em meu site pela Daniela, durante a pedalada.
Ainda em Lindau. Ontem à noite arrumamos nossos alforjes e resolvemos levar menos peso de comidas. Nosso objetivo é ir acampando até o Lago Königssee.
Estamos em Lindau, às margens do Lago Bodensee, e de dentro da barraca escrevo essas linhas. Hoje acordamos e lá fora estava chovendo. Por sorte o tempo logo abriu e tivemos um dia maravilhoso.
Nosso primeiro dia foi bem tranquilo. Apenas a viagem de trem e uns poucos quilômetros para conhecer Lindau. A cidade me lembra, de certa forma, o Guarujá, no litoral de São Paulo, com muitos turistas aproveitando o verão. Estamos na alta temporada por aqui. Amanhã pretendemos sair cedo, pois o dia promete ser um bom aquecimento para o que virá.
Acompanhe na próxima página o 1º dia de Lindau a Aach
>> Distância percorrida: 56,70 quilômetros
>> Ascensão total: 646 metros
Estamos num camping em Aach. Esta pequena cidade está um pouco fora de nosso roteiro e faz fronteira com a Áustria.
Hoje foi o primeiro dia de pedalada. Saímos de Lindau às 9 horas. O dia foi marcado por subidas, umas bem tranquilas e outras nem tanto, mas no final das contas chegamos bem cedo e sem problemas.
Também vimos lindas paisagens, típicas dessa região dos Alpes, e encontramos outros ciclistas (por aqui passam vários roteiros de pedaladas). Tivemos um dia de sol forte, como há muitas semanas não tínhamos, e não me lembro quando foi a última vez que suei tanto!
Também tivemos um breve encontro, nessas coincidências da vida: na parada do almoço fizemos um piquenique. Depois de um tempinho, chegaram dois casais alemães, também querendo entrar no restaurante ao lado, que estava lotado. Eles acabaram sentando do nosso lado e puxando papo. Não é que um deles tinha uma grande conhecida que trabalha no Instituto Goethe de São Paulo, e conhecia um pouco da cidade? Simpáticos!
Amanhã a pedalada promete ser um pouco mais puxada, tanto em relação à quilometragem quanto às subidas chegaremos aos 1.000 metros na cidade de Haag. Mas, para isso, passaremos por diversos lagos e, se o tempo continuar assim, certamente daremos um mergulho neles.
Acompanhe na próxima página o 2º dia de Aach a Hopfen am See
>> Distância percorrida: 73 quilômetros
>> Ascensão total: 809 metros
Hoje, como previsto, tivemos um dia puxado. Começamos pedalando de volta para a rota e pegamos um atalho de cascalho em meio a um bosque muito bonito, mas tivemos que empurrar as bicicletas logo de cara, pois as subidas eram muito íngrimes e o terreno muito instável.
No final desse trecho, um acontecimento digno de nota: enquanto o Fábio, meio desanimado, empurrava sua bicicleta (bem mais pesada que a minha por causa dos alforjes extras), resolvi pegar fôlego e sair pedalando. Não é que essa foi a primeira vez que deixei ele para trás!
Depois, veio um longo trecho de sobe e desce em meio a paisagens maravilhosas, com o paredão dos Alpes de um lado e os campos que parecem cenários de filme do outro!
Enfim, logo depois da parada do almoço (com mais de 40 quilômetros já pedalados) passamos pelo passo mais alto de nossa viagem, com direito, mais uma vez, a uma vista linda do Alpes e do Lago Rottach.
A partir daí, achávamos que as piores subidas do dia tinham passado, mas era engano. No final da tarde, quando a vontade de chegar já era bem grande, tivemos mais algumas subidas bem puxadas, parecidas com aquelas no começo do dia de tirar o fôlego!
Deu vontade de parar por lá mesmo. Como não dava, seguimos viagem até o camping às margens do Lago Hopfensee e, de presente, fomos recompensados com uma vista para o conhecido Castelo Neuschwanstein, que foi construído pelo Rei Ludwig II entre 1869-86, e serviu de inspiração para o famoso castelo do Walt Disney.
Acompanhe na próxima página o 3º dia de Hopfen am See a Kochel am See
>> Distância percorrida: 86,40 quilômetros
>> Ascensão total: 414 metros
Hoje foi o dia que percorremos mais quilometragem nessa viagem, mas nem de longe um dia tão cansativo como o de ontem.
Também deixamos a região do Allgäu e entramos na área de Garmisch-Partenkirchen, sem entrar na cidade propriamente dita. Essa região é bem bonita e escrever que passamos por trechos bonitos seria chover no molhado. Mas tanto eu quanto Fábio achamos que hoje foi o dia mais bonito de todos! Tivemos trechos no meio de bosques, passamos por pastos e cidadezinhas de cartão postal.
Vira e mexe reencontramos pessoas que estão pedalando o mesmo roteiro que o nosso ou parte dele. Às vezes, ultrapassamos e somos ultrapassados.
Acompanhe na próxima página o 4º dia de Kochel am See a Schliersee.
>> Distância percorrida: 62,20 quilômetros
>> Ascensão total: 578 metros
Schliersee é um dos muitos lagos da região dos Alpes e, como não podia deixar de ser, muito bonito e relativamente pequeno.
O camping fica à beira dele e hoje, pela primeira vez, arriscamos um banho, que foi muito refrescante e valeu a pena engraçado ver a expressão das outras pessoas vendo as nossas marcas de sol nas coxas, costas, pés e, no meu caso, no rosto por causa do óculos de sol.
Todos esses dias tem feito muito calor. Quando muito há uma névoa no começo do dia e, depois, sol e mais sol. Temos tido mais de 30 graus nas tardes e hoje agradecemos pelo fato de termos grandes trechos no meio de bosques e com as sombras das árvores.
Quanto à pedalada, foi tudo tranquilo. Ainda antes da parada de almoço tínhamos percorrido mais de 40 quilômetros e, assim, aproveitamos uma pausa maior às margens do Tegernsee.
Dessa vez não tivemos subidas sem fim, como no segundo dia, mas de tão inclinadas que elas eram, tivemos de empurrar as bicicletas algumas vezes. Numa delas, num terreno de cascalho, vi que a inclinação era de 20%. Aliás, hoje pedalamos bastante por estradinhas de cascalho.
Nos primeiros dois dias havíamos pedalado mais por pastos e campos. Desde ontem percebemos que a paisagem mudou um pouco. Agora estamos por partes mais isoladas, de vez em quando cruzamos uma vila. Esses dois últimos dias foram ainda mais lindos!
Acompanhe na próxima página o 5º dia de Schliersee a Aschau
>> Distância percorrida: 63,40 quilômetros
>> Ascensão total: 379 metros
Nosso destino hoje é Aschau. Pela segunda vez não dormiremos à beira de um lago. Mas a cidade é bem simpática e bem perto dos Alpes.
Aliás, só vimos os lagos cedo e no final da tarde. De resto, tivemos uma pedalada bem calma, sem grandes subidas e umas poucas descidas. Um descanso para a etapa de amanhã, que promete novamente subidas pesadas no final do dia.
Hoje praticamente não encontramos outros cicloturistas. Será que nossos amigos estão fazendo um dia de pausa?
O calor também deu uma acalmada e agora, à noite, até choveu um pouco. Estava prevista uma tempestade de verão. Espero que a gente fique nessa chuvinha e só!.
Amanhã passaremos perto do Lago Chiemsee, mas infelizmente não teremos tempo para dar uma volta nele. Nesse lago fica outro famoso castelo construído pelo Rei Ludwig II e, dizem, vale uma visita.
Acompanhe na próxima página o 6º dia de Aschau a Piding
>> Distância percorrida: 77,10 quilômetros
>> Ascensão total: 482 metros
Estamos em Piding e hoje foi difícil acharmos o camping. Depois de quase 8 quilômetros pedalando de um lado para outro, finalmente encontramos o lugar, muito aconchegante por sinal. E depois descobrimos que ele ficava bem ao lado da nossa rota. Pelo visto, a indicação no mapa estava errada.
Estamos em um vale de onde vemos os Alpes austríacos de o alemão do outro. A paisagem parece um quadro ou aqueles quebra-cabeças de 10 mil peças.
Durante o dia fez novamente muito calor. Em um dos trechos, por volta da hora do almoço, até teríamos uma vista linda dos Alpes, porém, tudo ficou nebuloso, talvez por causa do calor (me lembrei daqueles dias de inversão térmica em São Paulo).
Essa região onde entramos hoje é muito conhecida pelas minas de sal. Estamos muito perto da cidade austríaca de Salzburg, aliás.
Amanhã teremos um trecho curto de pedalada e, enfim, o Lago Königssee! Mesmo curto, o trecho, a princípio, pode ser resumido da seguinte forma: subidão + subida + outro subidão e uma descidinha leve!
Hoje novamente encontramos outros casais que estão fazendo esse mesmo roteiro. E até tem um clima de euforia coletiva no ar com a grande chegada de amanhã.
Durante essa viagem, decidimos preparar todos os dias o nosso café da manhã. No almoço comemos normalmente um lanche e no jantar comemos em um restaurante. Hoje, por sinal, foi o melhor deles!
Acompanhe na próxima página o 7º dia de Piding a Königssee
>> Distância percorrida: 32,50 quilômetros
>> Ascensão total: 345 metros
Chegamos ao Lago Königssee! E é preciso dizer que o guia (caderno) nos enganou mais uma vez, pois não tivemos apenas um subidão e uma subida, mas um último subidaço que uau!
Enfim, por volta das 12 horas chegamos ao camping, Já montamos nossa barraca e fomos passear. Primeiro subimos 1.800 metros de teleférico e, depois, ainda tivemos mais uma subida andando até o topo da montanha Jenner, de 1.874 metros de altitude. A vista para o lago e para as montanhas ao redor é maravilhosa.
Depois fomos andar na vila, que tem bastante artesanato, e chegamos às margens do Königssee, conhecido por suas águas claras e frias. Alugamos um barco a remo e fomos explorá-lo. O Fábio até se aventurou em um mergulho, pois hoje foi um dos dias mais quentes de toda a viagem.
O Königssee é o terceiro lago mais profundo da Alemanha, chegando a 190 metros. E é o mais limpo, com água potável.
E a vista é realmente impressionante. Ele fica cravado no meio das montanhas, sem praias, e os corajosos que entram na água precisam pular direto das pedras. Até então, todos os outros lagos que tínhamos conhecido ficavam um pouco mais afastados das montanhas.
Amanhã ainda faremos um passeio de barco até sua outra extremidade e, depois, voltaremos pedalando para Berchtesgaden. Dessa cidade pegaremos um trem para casa, em Munique.
Certamente conhecer o Königssee entrou na nossa lista de dicas de passeios para os que vêm nos visitar. Claro que também é possível chegar aqui de carro.
Acompanhe na próxima página o último dia de Königssee a Munique
>> Distância percorrida: 4,76 quilômetros
>> Ascensão total: 21 metros
Durante a noite o tempo deu uma virada radical e choveu e fez frio o dia todo. A temperatura baixou 16 graus.
Com isso, desmontamos rapidamente a barraca, e fizemos o passeio de barco no Königssee.
Por causa do frio, acabamos ficando menos tempo na água e voltamos pedalando debaixo de chuva (a única vez em toda a semana).
O trem parou em várias cidadezinhas por onde tínhamos passado de bicicleta. Mas a viagem acabou e valeu muito a pena. Ela também serviu de preparo para o nosso próximo destino: Cuba!
Este texto foi escrito por: Fabio Zander