Webventure

Coluna do Deco: o Rally Dakar em 2010


Spinelli e Palmeiro foram os melhores entre os brasileiros (foto: Theo Ribeiro)

Após quase um mês do término da edição 2010 do maior rally do mundo, analisando tudo o que aconteceu no trajeto entre a Argentina e o Chile, podemos chegar a algumas conclusões sobre os 15 dias de prova.

A VW confirmou seu favoritismo, como única equipe oficial de fábrica, o time azul deu as cartas durante a competição e ficou com os três lugares do pódio, se dando ao luxo de não fazer jogo de equipe, deixando a disputa aberta até a última especial, com suas duplas principais se degladiando de forma emocionante, com uma vantagem final de pouco mais de dois minutos a favor dos espanhóis Sainz/Cruz sobre Al-Attiyah/ Gotschalk. O piloto do Qatar sofreu com a pressão de deixar escapar a vitória nas duas provas em que correu no ano passado, principalmente no Silk Way Rally, quando capotou na última especial com a prova praticamente ganha. Demorou demais para voltar ao seu ritmo quase insano e não conseguiu descontar uma desvantagem de pouco mais de dez minutos que tinha ao final da etapa dez.

Por outro lado Sainz fez a melhor troca de todo o grid, se livrando de Michel Perin e conseguindo um navegador confiável que não comprometesse a velocidade de “El Matador”. O espanhol pode enfim comemorar a vitória, após bater na trave por dois anos. Diferente das outras duas edições quando foi o maior vencedor de especiais da prova, este ano foram somente duas vitórias, mas a constância da dupla, trouxe o lugar mais alto do pódio.

Miller/ Pitchford demonstraram mais uma vez ser a dupla mais equilibrada do time germânico, numa prova sem erros e sem correr riscos, chegaram ao segundo pódio consecutivo para alegria do chefão Kris Nielsen. Com um pouco mais de ousadia por parte do piloto, podem ser candidatos a vitória nas próximas edições. De Villiers/ VonZitzewitz foram os azarados da vez e sofreram com problemas mecânicos, coisa rara nos Race Tuareg. Independente disso, em momento algum andaram no ritmo das duas duplas vitoriosas. Devem continuar no time, mas a sombra de Saiz e Al-Attiyah.

Maurício Neves perdeu uma grande oportunidade de se firmar de vez na VW. Ao lado do navegador Clécio Maestrelli, chegou a cravar o terceiro tempo no segundo dia, mas a capotagem nas areias do Atacama e o fato de não concluir a prova podem comprometer o futuro do piloto na equipe. Foi o único carro do time azul que não chegou ao final.

Potência – A BMW provou que está no mesmo nível de potência e velocidade da VW, mesmo o time não tendo o investimento e estrutura de seus compatriotas, visto ser um time semi-oficial, apenas com apoio da fábrica, mas falta resistência e confiabilidade aos carros da marca. O que mais pesou contra foi a estratégia adotada em 2009, enquanto o time azul priorizou as provas de longa duração (quando a resistência dos carros é testada ao extremo), a BMW priorizou as provas de Baja (com no máximo 3 dias de durações e menos de 300 km de especiais por dia).

Peterhansel/ Cottret venceram quatro especiais, com o piloto mostrando porque é o rei do Dakar, independente do local onde a prova aconteça, mas a quebra da tração nas areias do Atacama entre Copiapó e Antofagasta o tiraram a chance de brigar pela vitória.

De positivo no time também a confirmação da maturidade de Chicherit. O piloto francês ao lado da navegadora Tina Thoerner, mostrou que o titulo mundial de TT FIA em 2009 não foi por acaso e excluindo o problema mecânico do primeiro dia, fez uma prova fantástica. Ponto negativo na equipe a contratação de PERIN, que levou ROMA barranco abaixo, depois da dupla surpreender e vencer o primeiro dia.

Gordon/ Grider continuam a dar espetáculo, mas sem muita eficiência nos resultados. O Hummer vai muito bem na areia, mesmo com a tração 4×2 (graças ao peso muito inferior ao dos carros 4×4, permitido pelo regulamento) mas continua péssimo de curva e leva muita desvantagem em pisos rápidos e sinuosos. De Gavardo/ Rodriguez deixaram a prova logo no quarto dia e viram muita gente insatisfeita com o fim prematuro do investimento de um milhão de dólares que o governo chileno fez na dupla.

A JMB Stradale foi a outra grande “vitoriosa” da prova. Com os mesmo carros que a equipe oficial da Mitsubishi usou em 2009, quando apenas Roma/ Cruz conseguiram completar a prova “aos trancos e barrancos”, literalmente, levou os cinco Racing Lancer, agora com motor a gasolina até o final, com a dupla principal do time Souza/ Baumel garantindo o sexto lugar na geral, como melhor dupla privada da competição. Destaque também para a velocidade/arrojo de Terranova/ Maimon (314).

Guilherme Spinelli ao lado do navegador português Filipe Palmeiro (322) fez uma prova de chegada e muito bem planejada. O piloto conseguiu superar o trauma das dunas de San Rafael e conquistou um ótimo 10º lugar na geral. Muito bom para quem está em seu segundo Dakar. Com algumas melhorias principalmente no motor (o carro ainda tem menos potência que seus concorrentes), os Lancer podem incomodar logo, logo.

Triste a quebra da Nissan de Holowczyc/ Fortin (308) quando ocupavam o sexto lugar na geral. A dupla andou entre os primeiros desde o começo da prova e sucumbiu a três dias do final com uma quebra na suspensão traseira. Zapletal/ Ourednicek (309), com uma Mitsubishi Triton não repetiram o desempenho de 2009 e abandonaram logo nos primeiros dias. Outra grande decepção foi os holandeses Van Deijne/ Rosegaar (317) que com a Pajero Evo, que era de Luc Alphand, andaram sempre lá traz, passando muito longe do desempenho do ano passado.

O brasileiro Jean Azevedo (321) foi talvez o grande destaque desta edição. Ao lado do navegador Emerson Cavassim, brigou contra um carro ultrapassado e cheio de problemas, mas com muita técnica e inteligência, chegou ao final ficando com a 27ª colocação geral. Uma vitória, dada suas condições. Com um carro melhor, estaria tranquilamente entre os 10 melhores.

As demais duplas brasileiras sucumbiram ao deserto argentino no terceiro dia de prova em Fiambalá. Reinaldo Varela/ Erlei Ayala (363), Julio Bonache (355), Sven Fischer/ João Stal (390) e Sergio Williams/ Rodrigo Konig (422), tiveram problemas mecânicos, quebras e erros de estratégia, coisas que não são permitidas no Dakar. O regulamento rígido demais obriga todos os competidores a completarem todas especiais. Cortes de caminho e perdas de waypoints do trajeto são punidos com a desclassificação e o investimento alto e os sonhos de vida de seguir na prova acabam ficando pelo caminho.

2011 – O futuro da prova ainda está indefinido entre o retorno à África e a permanência na América do Sul, mas algumas fontes dizem que devemos ver o evento por mais um ano por aqui. E mais uma vez ficam algum exemplos e destaques de mais uma edição do maior rali do mundo:

– a grande decepção foram os Subaru Forester. Falou-se e mostrou-se muito o carro de quem se esperava um bom desempenho, mas os carros sequer conseguiram sair do território argentino;

– O público argentino e chileno é absolutamente fanático pelo Dakar e o apoio dos governos dos dois países a prova e de dar inveja a qualquer nação, uma verdadeira aula de como se deve apoiar o esporte;

– O TDI da Volkswagen consome 25 litros a cada 100 km, já o Racing Lancer consome 68 litros. Só a diferença de peso com que os pilotos partem para as etapas é gigantesca…

– Em terrenos de areia o VW TDI consome cerca de 40 litros/100 km e o Racing Lancer chega aos 100 litros… para 100 km.

– Robby Gordon chegava a descarregar o stress ao fazer zerinhos em pleno trecho de deslocamento;

– Em 12 participações foi o primeiro Dakar que o piloto português Carlos Sousa correu com ar condicionado, fato que somado a única vez que jantou no bivouac levaram a que este fosse o único Dakar em 12 participações em que Carlos Sousa não emagreceu. Em 14 etapas, Sousa mudou 11 vezes de set-up de suspensão.

Este texto foi escrito por: Deco Muniz