Filmagens foram feitas em várias partes do país (foto: Arquivo pessoal)
O primeiro filme de escalada a ser produzido no Brasil com o intuito de ser distribuído foi o Terra de Gigantes (1999). Produzido pela produtora V Filmes, este documentário foi resultado da parceria dos escaladores, produtora e canal a cabo SporTV, que na época pagou a maior parte dos custos do filme.
Impulsionados pelo sucesso de vendas do VHS, iniciei com o diretor Wiland Pinsdorf, o que até hoje é a única série de filmes de escalada brasileira, a série Lobotomia, que entre 2000 e 2003 rendeu três filmes que são testemunhas de uma época recente do montanhismo e da escalada em nosso país, numa qualidade de captação e edição no mesmo nível dos melhores vídeos produzidos no exterior. As regras da parceria consistiam em eu me responsabilizar pela captação e corte seco, e o Wiland e equipe finalizarem o filme.
Lobotomia 1 – Este primeiro filme teve o subtítulo de Escalada Brasil e demorou quase um ano para nascer. Viagens por São Paulo (Baú, Cuscuzeiro), Minas Gerais (Cipó), Rio de Janeiro (Rio, Salinas, Teresópolis), Paraná (Marumbi, Anhangava) e muitos outros foram bem demoradas, mas valeu a pena. Foi muito gratificante receber e-mails de todo o Brasil de escaladores que diziam ter assistido 20 vezes ao filme. O significado e valor histórico deste filme é enorme, pois pela primeira vez a escalada mostrava sua face em um filme que juntava alguns dos melhores montanhistas e escaladores esportivos da atualidade.
Lobotomia 2 – Filmado e finalizado em 2001, esta produção tomou outro rumo: resolvemos investir em uma visão mais regional, e o laboratório de testes seria a região da Pedra do Baú, por uma questão de logística, uma vez que é a região onde moro, e facilitaria demais a captação. Então, após oito meses do início das filmagens, fizemos o lançamento do filme durante o segundo Festival de Escalada BloX.
Apesar da qualidade do filme, um grande inimigo mostrou pela primeira vez a sua cara: a pirataria. Não a dos camelôs, é claro, mas a promovida pelos próprios escaladores que copiavam o filme para seus amigos, achando estarem tirando vantagem.
Produzir filmes no Brasil nunca foi fácil. Produzir filmes de esporte então, é um suicídio financeiro. Você já começa o projeto sabendo que não vai lucrar, mas quando os prejuízos são muito pesados para se arcar, você tem que refletir até onde vale a pena continuar, ou que rumo tomar para acertar suas contas.
Lobotomia 3 – O intitulado Porcos Voadores (2003), buscou achar uma alternativa para a sobrevivência da série. Após dois anos sem conseguir produzir, tentamos driblar a escassez de verbas pedindo a colaboração de vários escaladores de diversos estados, para que nos mandassem tomadas de escaladas representativas. Com imagens do Rio Grande do Sul a Pernambuco, podemos mais uma vez fazer um filme rico e representativo de nossa visão do esporte. O resultado não poderia ter sido melhor, pois a galera colaborou, tivemos um ganho significativo na pluralidade das imagens e conseguimos baixar pela metade nossos custos. Mas mesmo assim não cobrimos os custos, a pirataria mais uma vez nos sugou as forças e resolvemos terminar a série.
Desde o início, apesar de na época ter sido comercializada em VHS, a captação de imagens da série foi em formato digital. Por acreditarmos ter sido este um trabalho de grande importância, tanto no incentivo e motivação para a prática da escalada como na documentação de uma época, resolvi disponibilizar a série no formato DVD para quem tiver curiosidade de conhecer e assim entender melhor o mosaico que é a escalada no Brasil.
Boas escaladas.
Este texto foi escrito por: Eliseu Frechou