E se fechar acabou a brincadeira (foto: Edson Batista Rosa)
Em seu retorno como colunista do Webventure, Renato Furmann, o Jeca Jóia, debate um ponto essencial para todos: o respeito. Da visão de quem faz trilhas, ele critica àqueles que não tem respeito pelas comunidades rurais por onde passam. Acompanhe.
Muito se discute, ao longo dos anos, da necessidade dos treieiros serem sempre cordiais com os proprietários de terras por onde passam com suas motos. É sabido que a maioria dos praticantes é respeitoso e educado, parando para cumprimentar e conversar, porém, alguns poucos afetados passam com suas motos a 900km/h nas portas das casas rurais, assustando gado e crianças.
Felizmente posso falar com autoridade, pois faço trilha há quase de 15 anos, e infelizmente já observei cenas destas pessoalmente. Me lembro, certa vez, quando eu ajudava num trabalho do Trail Clube Minas Gerais àquela época presidido por Helvécio Ribeiro. Estávamos num grupo de 10 pessoas, consertando o Subidão da Perdidas, famosa trilha de Belo Horizonte.
O trabalho consistia em utilizar pás e picaretas para abrir sulcos laterais na trilha, para que a água escoasse nos dias de chuva, evitando que a erosão aumentasse. Aliás, este é um trabalho que há décadas vem sendo desenvolvido pelo TCMG, ora com mais empenho, ora mais brandamente.
O Roia – Pois não é que, em certo momento, de onde estávamos, ouvimos um rôia* tentando descer outra trilha próxima a onde estávamos. O rapaz era tão ruim de moto, que demorou quase méis hora para descer um trecho que a maioria faria sem a mão esquerda no guidão… Pois então, passado o sufoco, o final da trilha ficava dentro de um condomínio fechado, na região de Belo Horizonte.
Transformava-se em estradinha de terra, com muitas residências. E não é que o mau motociclista, que passou um perrengue danado para descer o morro, resolveu acelerar justamente em frente as casas? E fez um barulho enorme, gerou riscos, enquanto o xingávamos com todos os palavrões possíveis, à distância. Claro que ele não ouviu, mas foi mais um que queimou o filme de todos os bons motociclistas.
*rôia = aquele que definitivamente não sabe andar de moto, ou que comete alguma trapalhada eventual na trilha
No início de fevereiro recebemos um e-mail, enviado de Tijucas, litoral de Santa Catarina, por Edson Batista Rosa. Junto ao e-mail, uma foto que mostra o quanto atitudes como as descritas acima podem prejudicar o esporte. Leiam a mensagem enviada por Edson:
Cumpadi Jeca, em anexo lhe envio uma foto tirada de uma placa colocada em nossas trilhas de Tijucas, litoral catarinense. Nela o proprietário mostra um vocabulário meio que um tanto defasado, mas o que vale é o conteúdo. Nossa turma é do bem, e temos as chaves dos cadeados das porteiras, ou seja, temos autorização do dono da terra para passar pelo local. A placa é direcionada aos não colaboradores, que estragam as trilhas, não fecham porteiras, espantam os gados, etc…
Moral da história – É bom cada grupo de treieiros, em todo o país, se organizar, mostrar-se formado por pessoas corretas, estabelecer um contato amigável com os donos de terra, oferecendo-lhes garantia que a passagem pelas trilhas em sua região não irá provocar prejuízo.
Eu, Jeca Jóia, moro na área rural de minha cidade, e sei o quanto uma paradinha, ou um simples cumprimento, nos transforma, de antes vilões, para amigos instantâneos. O pessoal do interior, em geral, é muito humilde, e simples, e esta é a única qualidade que eles pedem aos passantes, respeito!
Este texto foi escrito por: Jeca Jóia
Last modified: março 6, 2008