Contato direto com a cidade (foto: Arquivo pessoal/ Fabio Zander)
No fim de 2008 eu sofri um pequeno acidente que tem grandes consequências para 2009.
Trabalhando como Bike Guide na República Dominicana, torci o meu pé. Nem dá para dizer que foi pedalando para deixar a coisa mais chique. Não, eu pisei em um buraco na areia e torci o joelho… e que dor!
Foi em uma parada de banho com os meus clientes em uma praia linda e no final ainda tive que voltar pedalando para o navio. Chegando lá, fui ao médico de bordo e no dia seguinte a primeira punção de duas que ainda faria a bordo.
Estou pedalando há dois anos com curtas férias entre os trabalhos. No passado sentia algumas dores nesse mesmo joelho e esquerdo, mas nunca fui ao médico. Dessa vez na República Dominicana ele resolveu reclamar.
Resultado: fui operado para repor o ligamento dianteiro do joelho esquerdo no início de março, aqui em Munique na Alemanha, onde moro.
O seguro tem colocado bons médicos da área esportiva à disposição e uma fisioterapeuta brasileira.
Estou aqui em casa, podendo pisar com, no máximo, 20 quilos na minha perna esquerda. Fico muito tempo parado com gelo no joelho e o pé para cima, aí resolvi escrever essa coluna, que já há algum tempo eu queria.
Ela descreve as minhas melhores pedaladas pelo mundo como guia em passeios de bicicleta (Bike Guide) da AIDA (www.aida.de) e como são muitas, resolvi mencionar as Top 5 e, quem sabe, inspiro o pessoal quando tiverem a oportunidade de conhecer esses lugares algum dia. São representantes em quatro continentes.
Caramba, foi difícil fazer essa seleção das cinco mais bonitas, acho que se fizer a seleção no futuro novamente, ela vem diferente. Pelos meus cálculos foram 54 lugares visitados pelo mundo, entre Europa, África, América e Ásia. Foram aproximadamente 33 países visitados.
Segue a lista das Top-5:
Pedalei por diversos roteiros e lugares na Noruega, mas o mais bonito e impressionante é o fiorde de Geiranger.
O fiorde é patrimônio Mundial da UNESCO e tem comprimento de aproximadamente 15 quilômetros. Ao final do fiorde chega-se na pequena vila de Geiranger com 240 habitantes permanentes.
Impressionante navegar pelo fiorde vendo inúmeras cachoeiras que despencam de grandes alturas. Esse corredor chega em alguns pontos a largura de poucos metros.
Da pequena vila de Geiranger, a nível do mar, inicia-se a pedalada com destino a uma montanha chamada Dalsnibba a 1500 metros de altitude. São 25 quilômetros só de subida. Prato cheio para os amantes das montanhas.
As paisagens são lindas e, a todo momento, tem-se vistas para o navio em Geiranger.
A pedalada é considerada Aktiv, isto é, uma pedalada que exige muito fisicamente, tanto que é considerada por todos os ciclistas da AIDA como a mais difícil de todos os roteiros que a empresa oferece.
Só para se ter uma idéia, apenas nesse passeio o cliente pode desistir no meio do caminho e voltar ao navio, sem avisar o guia responsável.
Imagine você como guia, tendo que cuidar de, no máximo, 20 clientes, todos com os seus ritmos diferenciados e acrescente o desnível. Dá para imaginar que nesse roteiro o trabalho é triplicado e ainda calcular que na temporada você faz pelo menos umas dez vezes o mesmo roteiro tendo que chegar no topo com os seus clientes. Na média são treze pessoas que fazem esse passeio de bicicleta e apenas cinco chegam ao final.
No final do inverno não é possível chegar ao topo do Dalsnibba por causa da neve acumulada, mas assim que essa se derrete é um prazer enorme chegar ao seu topo e curtir o mar de montanhas em volta.
A Top 1 eu não tiro tão fácil dessa lista!
Para a pedalada em Instanbul não é preciso grande condição física, só é preciso paciência, porque a cidade é um caos. Um caos de pessoas e carros pelas ruas. Uma mistura de cheiros e sons. Vale a pena a Top 2.
Gosto muito de pedalar em Instambul porque com a bicicleta vou em cantos que normalmente não vou de carro ou de ônibus ou até nem mesmo a pé.
A cidade é uma das maiores da Europa e da Ásia com aproximadamente 10 milhões de habitantes na região metropolitana. A ponte de Bósforo liga Europa a Ásia.
Aqui tem muita história para contar e o Bike Guide tem muita informação para passar aos clientes. Como a maior parte de sua população é mulçumana, existe diversas mesquitas espalhadas pela cidade. As mais conhecidas são: Mesquita (Basílica) de Santa Sofia e a Mesquita Azul.
O início do passeio é bem cedo. As ruas ainda estão vazias e sossegadas e com o decorrer do trajeto a cidade vai acordando e se transformando. Ponto alto na minha opinião é quando chegamos em um mirante com uma linda vista para a cidade. A dica aqui é chegar nos momentos em que as mesquitas, e seus potentes alto-falantes, cantam as suas orações.
Destaque também para os inúmeros bazares e mercados, entre eles o Grande Bazar. Aqui comprei um lindo tabuleiro e pecas de xadrez. Não se esqueça de negociar, eles abaixam o preço, às vezes até pela metade.
A ilha vulcânica de Santorini na Grécia oferece uma pedalada forte. A pequena ilha, antiga cratera de um vulcão, é banhada pelas águas do Mar Mediterrâneo e as pequenas vilas equilibradas no topo das encostas impressionam.
Via as fotos de Santorini em revistas, ou mesmo na época em que morei e trabalhei na Ilha de Creta, ouvia a fama da linda ilha, mas nunca imaginei que estaria nela algum dia.
A pedalada começa forte por uma estrada cheia de curvas íngrimes com destino ao topo com lindas vistas para o mar. Não tem como não fazer paradas para tirar fotos e aproveitar para pegar fôlego.
A ilha é toda voltada ao turismo. Inúmeras hospedagens e restaurantes espalhados pela ilha. Essa pedalada dura todo o dia e percorremos a ilha de ponta a ponta.
Na parada de almoço não esqueça de comer o típico Gyros Pita com o delicioso molho Tzatziki. A volta para o navio é feita algumas vezes pelo caminho das mulas, pois é, existe um serviço em que mulas carregam os turistas e suas bagagens para a vila em cima, mas sugiro o teleférico que sobe ao topo, poupando os animais de subir as centenas de degraus que lá existem.
Em Tanger, no Marrocos, não dá para se sentir realmente na África (como Tunísia ou Egito), mas é curioso e impressionante pensar que em tão pouca distância existe tantos contrastes sociais.
Mais uma daquelas pedaladas light que gosto. A primeira parte é pela movimentada parte velha da cidade, lá existe um grande mercado aberto e se encontra muitos produtos artesanais feitos de couro, prata e madeira.
Dica importante, antes de tirar fotos de pessoas, pergunte ou você poderá ter problemas e palavrões! Depois do city tour, segue-se pedalando para fora da cidade com destino ao Estreito de Gibraltar. No caminho, dromedários, carneiros e muita agricultura. A região é verde e não se percebe a presença próxima do Deserto do Saara.
Estreito de Gibraltar, do ponto onde estamos, avista-se do outro lado a Europa (Espanha), a aproximadamente 20 quilômetros.
O estreito, ponto estratégico que liga Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo, durante toda a história foi muito disputado. Hoje em dia, Espanha e Grã-bretanha pensam na possibilidade de se construir um túnel ligando Europa a África, parecido com o Canal da Mancha.
Que vista e muita história para contar! A volta ao porto quase sempre foi coroado com um lindo pôr do sol dourado nas águas do Atlântico.
Saint John´s é a capital das ilhas de Antigua e Barbuda, que são constituídas por três ilhas: Antígua, Barbuda e Redonda que estão banhadas pelo Mar do Caribe.
Antígua e Barbuda é um estado independente ligado ao Commonwealth, isto é, a rainha Isabel II é a chefe de Estado que é representado por um governador geral. Virei especialista em ilhas do Caribe. Pela AINDA, sempre fui mandado para o Caribe. A lista vai de Aruba, Curacao, St. Vincent, Jamaica, República Dominicana, Barbados, Grenada, Bonaire, Grand Cayman, Tortola, Saint Maarten e também em Isla Margarita, Cozumel, Costa Rica, Colômbia e Panamá.
Aqui a escolha da pedalada mais bonita foi difícil, destaque para St. Vincent e Tortola, mas escolhi Antígua, pois ela une de todos um pouco, isto é, natureza tropical e belas praias. Um longo passeio.
É uma pedalada forte. Primeiro uma volta pelas ruelas da cidade e contato com os seus moradores sempre sorridentes e prestativos. Depois, segue-se pedalando para o interior da ilha com suas matas tropicais e montanhas.
Por fim, chega-se às praias… e que praias! Com certeza está incluso uma parada de duas horas para curtir o mar azul turquesa. As águas por aqui impressionam pela cor.
Gosto dos lugares e das pessoas no Caribe, elas tem uma vida tranquila. Parece que pouco é muito por aqui e isso é suficiente. Aqui passei o meu Natal de 2008.
Este texto foi escrito por: Fabio Zander
Last modified: março 12, 2009