Uma cidade sobre a cidade (foto: Fabio Zander/ Arquivo pessoal)
Estive pedalando entre os dias 10 e 31 de janeiro em Cuba, trabalhando como guia em uma viagem de bicicleta para uma agência alemã. Chamaram-me na última hora para guiar um grupo de quatro ciclistas. O detalhe: eu nunca estive em Cuba antes, por isso pedi para que fossem alguns dias antes para estudar um pouco o roteiro e me preparar melhor.
Cheguei em Cuba dia 10 de janeiro e me encontrei com os ciclistas do meu grupo no dia 14. Entre os dias 11 e 13 eu acompanhei outro guia e um outro grupo de ciclistas que fazem o mesmo roteiro que eu farei a partir do dia 16.
O meu grupo não terá carro de apoio, portanto levarão seus equipamentos em alforjes traseiros. As bicicletas serão fornecidas pela agência, chegarao com os ciclistas e eu as montarei em Havana. Esse é o tipo de viagem que eu gosto, sem depender de outros para seguir em frente, é claro que em uma viagem sem apoio é preciso estar preparado para tudo, principalmente para eventuais problemas com as bicicletas e demais equipamentos.
Pedalei pela parte oeste da ilha, saindo de Havana com direcao a Maria la Gorda. Nessa coluna transcrevo o diário de bordo dessa viagem maravilhosa por Cuba.
10/01/2010 Aeroporto de Varadero a Bainoa
Depois de uma viagem de aproximadamente dez horas direto de Munique (onde moro na Alemanha), cheguei às 17h40 no aeroporto de Varadero, próximo a Havana, mas só saí do terminal às 18h30, pois a bicicleta foi a última bagagem a ser liberada.
Meu chefe, o Manfred, me aguardava. Enfiamos tudo em seu Fiat Uno e do aeroporto seguimos direto para sua casa em Bainoa. Manfred que é alemão, se formou como agrônomo e já visitou diversos países na América Latina e foi aqui em Cuba que resolveu se estabelecer e viver com sua esposa cubana e uma filha.
Em sua casa conversamos bastante sobre o roteiro a ser percorrido com o meu grupo de ciclistas. Irei acompanhar um outro grupo de ciclistas que está fazendo o mesmo roteiro que percorrerei com o meu grupo a partir do dia 16. Fui dormir quase a meia noite.
Cuba está fria e choveu poucos dias atrás. Dormi mal com os pés gelados, sem contar o banho frio que tomei. Não são todos os cubanos que têm esse luxo. Sobre o frio, muitos cubanos dizem que a tempos nao fazia tanto frio na ilha. Temos uns 12 graus no momento.
11/01/2010 Bainoa a Soroa
Acordamos bem cedo. Manfred me deixou alguns quilômetros para fora de Havana e eu comecei a minha pedalada em terras cubanas. Até o dia 13 pedalo parte do meu roteiro e me encontro ainda hoje com outro grupo de ciclistas em uma pequena vila chamada Soroa.
As estradas são muito ruins e bem tranquilas quanto ao trânsito. Poucos cubanos tem carro próprio, dos 12 milhães de habitantes, 30 mil tem um carro. Sao muitas carroças puxadas a boi e cavalo. As primeiras imagens dessa república comunista.
O interessante em Cuba é que existe uma sociedade sem grandes diferencas sociais. Todos recebem praticamente um mesmo salário e uma cesta básica mensal, que nao dá para um mês. Aí entra o jeitinho cubano e o mercado negro. Quase todo cubano faz negócios por debaixo dos panos e assim consegue sobreviver um mês inteiro. Seja na troca de produtos ou venda de outros, etc.
Algumas vantagens em Cuba: os bons médicos, apenas 3% da populacao sao analfabetos, todos tem um teto para viver, taxas de criminalidade baixas…
Almocei no Hotel Moka em Las Terrazas. Aqui me hospedarei com os meus clientes nos próximos dias. Cheguei em Soroa no final de tarde e me encontrei com o outro grupo que tem o apoio de um pequeno ônibus. Lembrando que meu grupo irá pedalar sem esse apoio e carregados com alforjes traseiros. Dormi com frio nos pés, novamente. Os cubanos nao estao preparados para esse frio, nem eu!
12/01/2010 Soroa a Vinales
Hoje a pedalada foi bem gostosa e tranquila. Fisicamente cansativa e cheia de subidas. Comecamos a pedalada em San Diego de los Banos, depois de um transfer de Soroa. Antes da partida, uma visita a um enrolador de charutos.
Mais tarde, durante a pedalada, visitamos a caverna Cueva de los Portales onde Che Guevara tinha uma base militar na crise de 62. Nesse ano os russos estacionaram alguns mísseis nucleares em direção aos EUA. Chegamos em Vinales no fim de tarde.
Hospedei-me em uma casa particular de moradores locais, uma espécie de pousada autorizada pelo Estado. Dormi bem e comi melhor: arroz, tomate, pepino, sopa, frango, batata, mamão, abacaxi e o típico suco de goiaba que tem muito por aqui. O mais importante: a minha primeira noite bem dormida e no quentinho.
Avistamos durante a pedalada muita plantação de tabaco e um regiao cheia de montanhas de granito, conhecidos como Mogotes que lembram algumas formações geográficas da China e do sul do Vietna.
Tivemos problemas com uma das bicicletas. O parafuso que fixa o canote do selim de um dos clientes quebrou, nesse momento entra a criatividade e as gambiarras. Aqui em Cuba nao existem bicicletarias ou lojas especializadas, tudo deve ser resolvido com muita criatividade é assim que normalmente as pessoas resolvem suas coisas por aqui.
Realmente pedalar em Cuba é excitante, pois nao existe infra-estrutura, mas esse é o charme da pedalada por aqui. Tudo é uma surpresa e temos que estar preparados para tudo. Quem for pedalar por essas bandas, não esqueça de trazer o que puder, de ferramentas a pecas de reposição.
13/01/2010 Vinales a Pinar del Rio
Fizemos uma caminhada de cinco horas pela região de Vinales: entre casas típicas, conversas com moradores e também a oportunidade de entender um pouco de como funciona a plantação de tabaco e a fabricação dos charutos cubanos. Muito interessante!
Às 14 horas deixei o grupo e segui pedalando com destino a Pinar del Rio, 25 quilômetros adiante. Passo a noite aqui em Pinar e amanhã sigo de ônibus para Havana, pois dia 14 recebo o meu grupo de ciclistas.
14/01/2010 Pinar del Rio a Havana
Passei por alguns apertos hoje de manhã, pois não tinha mais bilhete para mim (nem mesmo ontem a noite ao passar na rodoviária), mas consegui chegar em Havana por meio de um táxi coletivo. Aqui turistas só podem andar com um ônibus de uma linha especial, chamada Viazul. Assim dei um jeitinho, meio ilegal e peguei esse táxi coletivo.
A viagem até Cuba durou aproximadamente duas horas. A bicicleta entrou facilmente no bagageiro traseiro do antigo carro. Agora estou hospedado no Hotel Kohly em Havana e às 20:30hs deve chegar o meu grupo de quatro ciclistas alemaes. Ainda não tive aqui em Cuba um dia inteiro com sol. Dias muito nublados e frescos. Amanhã, dia 15, vou montar as bicicletas do grupo e fazer um city tour por Havana. No dia 16 comeca a pedalada de Guanajay a Las Terrazas. Caramba, não é fácil encontrar internet por aqui.
15/01/2010 Havana
Os quatro ciclistas são dois casais alemães, super simpáticos, na casa do 45 e 60 anos. Ontem à noite me apresentei e já dei algumas informacoes importantes. De manhã montei parte das bicicletas. Às 11 horas saímos para conhecer parte da cidade de Havana. O centro velho está praticamente todo reformado, mas também vimos como a cidade é fora dessa zona turística.
Arquitetura colonial linda, mas muita coisa caindo aos pedaços. A cidade foi muito rica na época dos espanhóis com sua cana de açúcar e mais tarde com os americanos que passavam suas férias por aqui. À tarde retornamos ao hotel e eu continuei a montar as quatro bicicletas. Faltaram algumas peças para montar um bagageiro e tive que usar com muita criatividade outras peças que tinha a disposição. 100% gambiarra! Às 22 horas fim da montagem. Arrumei rapidamente os meus alforjes para a partida amanha cedo.
16/01/2010 Havana a Las Terrazas
O ônibus deveria sair às 10 horas e só saímos 11h30hpara Guanajay. Um rolo só: veio apenas uma van, nao cabia todo mundo mais bicicletas, entao esperamos outra van e só fomos chegar às 12h20 em Guanajay. As coisas em Cuba são meio enroladas, mas de um jeito vai.
A pedalada até Las Terrazas foi boa. Muito vento durante o trajeto, por sorte nao contra. No final da pedalada o tempo estava bastante nublado com sinais de chuva, mas nada caiu do céu. Foram 35 quilômetros para os clientes se acostumarem com as bicicletas e as condicoes das estradas cubanas. Las Terrazas fica dentro da Sierra del Rosario que também é uma reserva de proteção ambiental. Estamos hospedados no Hotel Moka.
17/01/2010 Las Terrazas
Choveu a noite toda e a manhã inteira. Saímos ao meio dia para fazer uma caminhada até os Banos de San Juan. Depois, à tarde, foi curtir o sossego do hotel e a região, preparando os alforjes para a partida amanhã. À noite fomos jantar em um restaurante vegetariano. Interessante mesmo foi a boa discussão sobre socialismo/comunismo e capitalismo. Meus clientes fizeram no passado parte do partido comunista na Alemanha e viveram na época da DDR e as comparacoes com Cuba foram muitas.
Fazer ligações ou acessar a internet é difícil e caro por aqui. Nao imaginei que fosse tao difícil ter acesso à rede ou mesmo telefonar.
18/01/2010 Las Terrazas a San Diego de los Banos
O dia foi perfeito com algumas nuvens para fazer sombra durante a pedalada. Saímos de Las Terrazas às 8h30 e chegamos em San Diego às 17h30. Tivemos boas subidas no caminho a Soroa e parte da estrada sumiu com um deslizamento. Em Soroa visitamos um orquidário e fizemos uma parada para café. Por sinal o café cubano é muito bom.
De Soroa saímos da Sierra del Rosario com destino a Carretera Central por onde pedalamos até San Diego de los Banos. A Carretra Central é uma estrada que liga leste a oeste na ilha. Pedalamos 78 quilômetros com 657 metros de ascensao total. No final da pedalada choveu, mas foi bom para refrescar. Em San Diego visitamos um enrolador de charutos que ensinou toda a técnica e depois fomos jantar em uma casa particular. Comida deliciosa!
Estamos hospedados no Hotel Mirador. As refeições têm sido melhores em casas particulares do que nos hotéis.
19/01/2010 San Diego de los Banos a Vinales
Partida às 8h30 de San Diego e chegada às 17h30 em Vinales. Pedamos 61 quilômetros e tivemos 914 metros de ascenção total. Pedalada mais curta que ontem, mas fisicamente mais desgastante por causa das subidas do trajeto. Parada para visita e tomar algo em Cuevas de los Portales. Tive que trocar um pneu furado, o primeiro da viagem.
Os ciclistas têm dado conta do recado. Algumas vezes ajudo uma das ciclistas em subidas. Chegando Vinales fui conversar com o guia local para marcar uma caminhada em Vinales e redondezas para amanhã. Tive um pouco de receio ao chegar no Hotel La Ermita, pois às vezes tem o risco deles te mandarem para outro hotel da rede, aqui nas redondezas, e os meus clientes já estavam no fim de suas forças. O hotel tem uma linda vista para a cidade e os Mogotes ao fundo.
20/01/2010 Vinales
De manhã fizemos a caminhada de aproximadamente 4 horas e depois à tarde livre para os clientes. Durante a caminhada acompanhamos o dia a dia dos moradores, o cultivo do tabaco, as plantações de milho, feijão, arroz e cana de acucar, além de curtir a natureza regional.
Eu tentei e consegui acessar a internet para enviar alguns emails e atualizar o site. À noite vamos ter comida típica na casa de uma cubana. Do Hotel La Ermita até o centrinho de Vinales são aproximadamente 1,5 quilômetros que feitos a pé demoram uns 20 minutos. A cidade é bem turística. Quando chegamos ontem, nao a pausa, muitos cubanos ficam às margens da estrada/rua oferecendo hospedagem.
Estive discutindo com um dos clientes e chegamos a seguinte conclusão que: se um dia o bloqueio comercial do EUA cair, Cuba se transformará em um grande point turístico, principalmente para americanos. Mais turismo, mais dinheiro, melhores estradas, hotéis e etc., o povo cubano deve perder sua identidade e simplicidade por dinheiro e lucros. O fim da república comunista.
O cubano é simples, sorridente e sempre pronto para ajudar. As criancas se alegram quando passamos de bicicleta e cumprimentam, bem diferente de outras ilhas do Caribe onde algumas gritam: – Money, money, give me money!
21/01/2010 Vinales
Mais um dia livre aqui em Vinales. Os clientes sairam com bicicleta para pedalar pela região. Eu fiquei no hotel, mais tarde saí para atualizar o site e enviar alguns e-mails. Ajeitei para mais tarde um jantar na casa de um cubano. As comidas têm sido um dos pontos altos da viagem, melhor do que as refeições do hotel é comer na casa dos cubanos.
22/01/2010 Vinales a Pinar del Rio/Finca Guabina
Saímos de Vinales às 9:15hs e chegamos em Finca Guabina umas 14 horas. Pedalada curta de 46 quilômetros e 439 metros de ascencao total, debaixo de sol forte. Os clientes sofreram um pouco com o calor.
Passamos por uma área bastante protegida por militares depois de Pinar del Rio, local onde poderia estar Fidel Castro. Ninguém sabe dizer onde vive o comandante y jefe atualmente. Nao se sabe, pois Fidel sofreu muitos atentados, dizem que por volta de 600, de charutos envenenados a golpes e assassinos.
Pinar del Rio é a capital da província de mesmo nome. A regiao é muito conhecida pelas plantacoes de tabaco. O tabaco dos melhores charutos cubanos vem dessa regiao. Portanto plantacoes de tabaco para tudo que é lado!
Finca Guabina fica a aproximadamente 12 quilômetros de Pinar del Rio. A partir de Pinar, o trajeto é novo para mim, o negócio é ler o mapa e sair perguntando pelo caminho.
As últimas noites têm sido bem estreladas, a lua está crescente. O MP3 player é uma boa pedida nessas horas. Finca Guabina é um rancho de criacao de cavalos. 1920 uma família espanhola era a dona da área com muita agricultura. Em 1947 uma família cubana (Ferro) comprou o rancho e introduziu a criacao de cavalos e galos de briga. Depois da revolucao os Ferro sairam de Cuba, a área hoje é do estado e também faz parte de uma área de protecao ambiental.
Amanhã teremos um dia livre por aqui, nos preparando para o dia 24, a nossa mais longa etapa para a cidade de Sandino.
23/01/2010 Finca Guabina
Mais um dia de folga na viagem. Pela manha cavalgamos com direito a nadar em um rio que abastece a represa que existe em frente e em volta de Finca Guabina. A represa fornece água para Pinar del Rio e os agricultores da região. Faz pelo menos uns seis anos que nao andava a cavalo é como andar de bicicleta, a gente nao esquece.
À tarde fomos conhecer as instalacoes de criacao de galos de briga e os cavalos que também sao treinados por aqui. Os galos de briga sao um capítulo a parte, pois oficialmente eles só podem ser criados por aqui e nao podem ser usados para apostas, mas existem muitas rinhas por aí. Anualmente existe uma exposiçãoo de cavalos em Cuba onde sao eleitos os melhores, Finca Guabina tem alguns prêmios.
24/01/2010 Finca Guabina a Sandino
A etapa mais longa tivemos hoje: 89,9 quilômetros e 918 metros de ascencao total. Uma das clientes queria pegar um táxi/carona, mas consegui convencê-la a ir pedalando até Sandino. A pedalada comecou às oito da manha com duas longas subidas no início. Depois dessas subidas o trajeto segue num sobe e desce gostoso por vales cercados de montanhas verdes e plantacoes de tabaco.
Hoje é domingo, as pequenas lojas e bares estao fechados. Muito movimento de caminhões-táxi pela estrada são pessoas passeando ou se encontrando com a família. No horário do almoço, quando o sol estava a pino, fizemos uma parada de uma hora em um pequeno riacho. Descanso e com oportunidade para nadar um pouco. Depois de atravessar a pequena cidade de Isabel Rubio, retornamos a Carretera Central que corta toda Cuba de ponta a ponta. Chegamos em Sandino às 17h15.
Sandino é uma cidade diferente e estranha. São diversos prédios velhos, uniformes e enfileirados, todos parecidos uns com os outros. Nao existe um centrinho ou algo do tipo. Nos hospedamos em uma casa particular (Sunso e Gina).
25/01/2010 Sandino a Maria la Gorda
Pedalada monótona com muito vento contra. A Carretera Central termina em La Fe, daqui parte uma estrada bem ruim até Maria la Gorda, nosso destino final. A estrada a partir de La Fe segue dentro de uma reserva de protecao ambiental (UNESCO), há mata por todos os lados e poucos ranchos. Diversas vezes avistei porcos selvagens e até um cobra atropelada, a terceira da viagem.
A parte monótona da viagem foi pedalar 33 quilômetros com o vento contra, o tempo inteiro, mesmo em descidas. Hoje o grupo se dividiu. Um casal pedalou comigo e outro seguiu mais lento atrás (um está com dor de barriga). Faltando 15 quilômetros resolvi pedalar forte até o hotel, me afastando do casal, com intuito de fazer o check in dos clientes. Acomodei minha bagagem no quarto e voltei pedalando ao último casal para ajudar a carregar os alforjes da mulher.
Esses últimos 15 km sao por uma estrada que beira o mar azul turquesa, lindo! O hotel é o único na região. Ao final o dia foi bastante puxado para mim. No total foram 81,1 quilômetros com 209 metros de ascencao total e muito vento contra, esse sim, tirou energia.
26/01/2010 Maria la Gorda
Agora sao três dias aqui em Maria la Gorda, curtindo o sol, a praia, mergulhando e pedalando pela região. À tarde, curto o pôr do sol, os mosquitos (tipo pólvora) atacam, pequenos e doídos, piores que os pernilongos.
O meu quarto fica ao lado da praia, curto um super visual. O conforto aqui me deixa pensativo, pois o contraste é grande entre eu, hospedado nesse hotel, e as pessoas que vivem fora dele. Sao realidades bem diferentes e contrastantes.
Se estivesse por minha conta, provavelmente estaria acampado em algum lugar como nos velhos tempos. Liguei para o nosso contato em Havanna, a Clotilde, e a lembrei que temos cinco bicicletas e cinco ciclistas para serem transportadas de volta a capital cubana. Espero que eu nao tenha problemas com esse transfer como o de Havanna a Guanajay. Abaixo seguem os números da pedalada com os clientes:
Distância total: 395 km
Ascencao total: 3597 metros
Eu acabei pedalando em geral em torno de 650 quilômetros e ascencao total de 5400 metros.
27/01/2010 Maria la Gorda
Pedalamos até La Bajada que fica a 14 quilômetros do hotel para fazermos uma caminhada pela mata. O guia, muito bom, tinha bastante informacao sobre a regiao e sobre a península que estamos e que se chama Guanahacabibes.
Caminhando pela trilha se vê muita rocha, conchas e antigos corais, sinais de que alguns milhoes de anos atrás tudo isto estava debaixo d`água. Ao fim visitamos diversas cavernas interligadas (Cueva de las Perlas), verdadeiras galerias.
Nas cavernas avistamos morcegos, corujas e até mesmo uma cobra. Existem também muitos e grandes caranguejos pela mata. No fim de fevereiro eles migram da mata para o mar. A estrada beira-mar se enche de milhares de caranguejos.
Na pedalada de volta ao hotel, o grupo se separou. Eu fiz inúmeras paradas para curtir o visual das praias e fazer fotos. Impressionante a quantidade de conchas e corais nas praias. Caramba, como faz falta uma internet ou bons telefones para comunicacao com os entes queridos!
28/01/2010 Maria la Gorda
Três dias em Maria la Gorda é muito tempo, acho que dois dias bastariam para conhecer a região, mas fazer o quê? A programação dos clientes é essa. Eu preferia um dia a mais em Havanna.
Estou lendo um livro bem interessante sobre o Che (Guevara). Sao alguns recortes dos diários que ele escrevia desde os tempos de moleque até os dias finais na Bolívia. Che tem uma história bem interessante e nao só ele como Fidel Castro também. Essas leituras nas horas livres tem tirado alguns de meus pré-conceitos sobre estes dois revolucionários.
Amanhã temos transfer para Havanna entre 9 e 10 horas. Ficamos o dia 30 em Havana e no dia 31 à noite, embarco de volta para casa (Alemanha). Hoje está meio nublado e a brisa está meio fria, achei que ia mergulhar hoje, mas estou desistindo da idéia. Já ontem no final de tarde estava esfriando. Ah, os mosquitos-pólvora continuam atacando quando podem. Incrível como sao chatos e doloridos!
29/01/2010 Maria la Gorda a Havana
Saímos de Maria la Gorda às 10 horas da manhã em duas vans e chegamos em Havana no Hotel Parque Central às 15 horas. Antes do hotel, passamos rapidamente na casa de um conhecido do meu chefe para deixar as quatro bicicletas dos clientes. As bicicletas sao da agência Profil Cuba.
O check in só foi feito às 16 horas, pois ainda estavam arrumando os quartos. Enfim consegui acesso a internet com o meu notebook, só não consigo o skype, mas já deu para ler e responder alguns e-mails, e claro, atualizar o site. Fui jantar na cobertura do hotel, que tem uma boa vista para a cidade. A cidade não é tao iluminada assim para tirar algumas fotos, provavelmente as pessoas economizando energia por aqui. Linda noite com lua cheia.
Às 21 horas escutei o canhão do forte Castillo de los Tres Reyes. Esse canhao relembra a época em que os espanhóis puxavam uma corrente de um lado para o outro na entrada da baía de Havana para que navios inimigos nao entrassem. O canhao era o aviso de que a baía estava sendo fechada.
Mais um hotel chique e o contraste com os arredores. Amanhã faremos um city tour a pé pela cidade. Também devo receber a caixa para empacotar a minha bicicleta. Ainda hoje tenho que resolver o transfer para o aeroporto que está complicado por causa da distância e dos carros a disposicao.
30/01/2010 Havana
Nossa caminhada city tour por Havana Vieja (velha) comecou às 10 horas da manha. Depois de uma conturbada manha, tentando resolver os transfers para o aeroporto Varadero. Na verdade só consegui resolver tudo em definitivo às 22 horas.
A volta pela cidade valeu a pena. Em alguns lugares até lembra um pouco de Parati. Há muita pobreza e muito mais prédios caindo aos pedacos do que os reformados. Hossanna a nossa guia cubana mostrou muita coisa e contou um pouco do dia a dia em Cuba, muito interessante e difícil.
Muitos dos antigos prédios tem pé direito bem alto, por isso, as pessoas criam mais um andar na casa, criando mais espaco. Também existe uma cidade sobre a cidade. Coberturas, isto é, telhados/lajes de prédios sao vendidos e as pessoas constroem pequenos barracos sobre esses prédios. Essa cidade de barracos só é vista de cima de algum prédio e em determinados bairros da cidade.
Hosanna também falou que muita gente vem do campo para tentar a vida na capital cubana, por isso a cidade está se tornando populosa, hoje com aproximadamente 2,2 milhoes de habitantes. À noite fui com os clientes jantar. Voltei para o hotel sozinho, andando pelas ruas menos turísticas da cidade que tem pouca iluminacao, vale a experiência de ver o corre-corre dos moradores, a música alta, as pessoas conversando e algumas até dançando.
Agora estou no hotel, escrevendo essas linhas e me preparando para dormir. Fui empacotar a bicicleta rapidamente, amanha às 15 horas vou para o aeroporto de Varadero. Às 20 horas parte o meu vôo para Munique.
31/01/2010 Havana a Munique
Estou no lobby do hotel esperando o meu transfer para o aeroporto. De manha fui visitaro Museu da Revolucao. Existem alguns veículos e avioes em exposicao e a Granma, o iate com o qual Fidel Castro e seus revolucionários vieram do México a Cuba.
No prédio principal, o terceiro andar é o mais interessante e descreve muito bem a revolucao com fotos e objetos, bem interessante. Os outros andares nao sao tao bons assim. Só para vocês terem uma idéia referente a internet. Aqui se compra um cartao de uma hora para internet wireless e custa 8 CUC. Para internet de um computador, que existem nas agências de telefone, meia hora custa 3 CUC e uma hora 6 CUC.
A ida ao aeroporto foi outra aventura. Fui com um velho Lada até o aeroporto de Varadero. A caixa da bicicleta foi presa no teto, o Lada fez força todo o caminho e ainda tinha o vento contra. Nas subidas eu torcia pelo velho motor, chegava em alguns momentos até a prender a respiracao, como se isso pudesse ajudar.
De Havana a Varadero existem muitas estações para extração de petróleo. Nao sabia se o cheiro dentro do carro era dele próprio ou do petróleo. Depois de duas horas de viagem, chegamos sãos e salvos ao aeroporto.
Visto e documentacao
É necessário um visto para se entrar em Cuba. Um cartão de turista é vendido em agências de turismo credenciadas pelo consulado cubano. Custo aproximado de R$ 45,00 para 30 dias.
Câmbio
O lugar ideal e oficial para trocar dinheiro são: as casa de câmbio, também conhecidas como Cadeca, bancos ou hotéis. Para isso você tem que apresentar o passaporte e o cartao de turista.
1 CUC (peso convertible) = 25 pesos cubanos
1,25 CUC = 1
Existe duas moedas em Cuba, uma para os locais (peso cubano) e outra para os turistas (CUC).
Para quem for pedalar
Como não existem bicicletarias ou lojas especializadas, por segurança leve todas ferramentas e pecas de reposicao necessárias. Melhor estar prevenido.A bicicleta ideal seria do tipo mountain bike já que as estradas são bem ruins e esburacadas.
Se tiverem mais dúvidas ou necessitarem de mais informações, enviem um e-mail para: bike@zander.com.br ou acessem o meu site: www.zander.com.br que também tem mais fotos.
Este texto foi escrito por: Fabio Zander
Last modified: março 10, 2010