Expectativa é realizar mais eventos como este (foto: Divulgação)
Sempre que voltamos de uma viagem, ao mostrar as fotos para amigos e conhecidos, escutamos poxa, queria fazer uma viagem de bicicleta também, na próxima me chamem. Assim, já há bastante tempo tínhamos vontade de combinar uma viagem de bicicleta onde pudéssemos convidar várias pessoas para participar.
Mas para levar iniciantes a se aventurarem pelo cicloturismo é necessário um mínimo de infra-estrutura. Daí surgiu a idéia do Velotour, um evento onde várias pessoas viajam juntas, num local previamente escolhido e com boa estrutura turística. Para estrear o evento, o lugar escolhido foi o Circuito Vale Europeu (lançado no final de 2006, numa parceria do Clube de Cicloturismo com a associação de pousadas – Associação Vale das Águas e o consórcio de Prefeituras da região).
No Velotour percorremos a chamada parte baixa do Circuito, que são três primeiros dias a partir da cidade de Timbó, passando por Rio dos Cedros, Pomerode, Indaial, Ascurra e Rodeio. O caminho é marcado por uma bem preservada mata atlântica, uma bela arquitetura de origem alemã e italiana, e por sítios com jardim impressionantemente bem cuidados.
Percurso – O risco do grupo se perder era mínimo, uma vez que o percurso está todo planilhado e há uma boa sinalização, sempre com setas amarelas. Isso, sem dúvida, deu mais segurança para os que eram cicloturistas de primeira viagem. E ter a certeza de chegar ao final do dia numa pousada com jantar esperando era uma preocupação a menos.
Mesmo assim, por precaução, foi montado um esquema de postos de parada (PCs), onde era feito o controle de passagem dos participantes. Também eram oferecidos água e, o combustível principal de todo ciclista, bananas. No final do período um carro de resgate percorria todo o trajeto para ajudar em caso de desistência ou problemas mecânicos mais sérios. Felizmente nenhuma vez foi necessário utilizá-lo.
Cada PC, dois ao longo de cada dia, acabou se transformando numa animada confraternização. Era quando o grupo todo se reunia para longos papos e fotos. Ao longo do trajeto, iam se formando pequenos grupos, conforme o ritmo de cada um. Mas nunca ninguém ficava sozinho, estavam sempre todos muito ligados se estava faltando alguém. Logo se formou o que foi chamado de família Velotour. Pressa e individualismo, infelizmente tão comuns em nosso tempo, foram duas coisas que simplesmente não se ouviu falar nestes dias. Solidariedade foi a palavra de ordem. Se furava um pneu, já paravam meia dúzia de mecânicos para ajudar. Se alguém tivesse com dificuldades numa subida, logo aparecia um companheiro para pedalar devagar ao lado ou então empurrar junto.
O lugar foi perfeito para a viagem, pois além de estradinhas tranqüilas, não há o menor sinal de carnaval na região. Em algumas cidades nem mesmo houve feriado. Tudo que os cicloturistas precisavam estava lá, paisagens magníficas, ar puro, povo acolhedor e uma ótima gastronomia, com queijos, cervejas e vinhos locais. Houve também uma boa dose de subidas desafiantes, seguidas da recompensa: longas e deliciosas descidas.
Para os iniciantes, a viagem teve sua dose de aventura, pois cada um fez seu próprio planejamento, ou seja, cuidando de seu deslocamento até o início do roteiro e marcou suas reservas em pousadas e hotéis. Durante a viagem o desafio foi carregar sua própria bagagem nos alforjes, além de uma logística de onde fazer paradas, o que levar em termos de alimentação e água e principalmente, que ritmo imprimir nas pedaladas para não se desgastar ao longo dos dias.
Fazendo amigos – Para alguns participantes, que já tinham experiência em longas viagens solitárias, foi a oportunidade de conhecer outras pessoas e poder compartilhar com novos amigos todos os momentos de felicidade e dificuldade de uma viagem.
Ciclistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, ao todo 43 pessoas, carimbaram os PCs e receberam o carimbo final de conclusão do Velotour na cidade de Rodeio. Daqui, os que não puderam esticar a semana do carnaval se despediram. Um grupo de vinte integrantes prosseguiu viagem, completando o Circuito Vale Europeu em mais quatro dias.
A proposta agora é fazer sempre na mesma data, Carnaval, o Velotour do Vale Europeu. E planejar também o Velotour em outros locais, formando assim um calendário anual do evento.
– Ou Indaial a Campo do Zinco, 58km. Para quem tinha disponibilidade, além de bastante pernas e espírito aventureiro, a viagem seguiu para completar o Circuito. De cara, a subida do Ipiranga. São 8km ladeira acima, mas com paradas estratégicas. Uma ainda antes de iniciar a subida, na vinícola San Michele, com direito a degustação. Outras paradas para banho de rio e mais uma parada obrigatória no laticínio Giacomina, também com degustação. Uma última parada para conversar com S. Paulo, autor dos enigmáticos anjos, que nos guardam boa parte da subida. Para finalizar o dia, um último e pesado desafio, 2km de subida íngreme para chegar ao paraíso, a Fazenda Campo do Zinco.
Agradecimentos Especiais: Bicicletas Dobráveis Dahon, Dimas do Restaurante Thapyoka, Timbó Park Hotel, Sérgio Nones, Elaine, Giovana e Hoffman da Sec. Turismo de Timbó, Mali Piazza, Bicicletaria Bona, Egon e Margarethe, Karin, Isabel, Raulino e família, Leonardo e família, e todos os voluntários dos PCs.
* Eliana Garcia: Bióloga, completou mais de 10 mil quilômetros em cicloviagens, desde 1988. Dentre estas destacam-se: Expedição Parques del Sur (em que percorreu 4200 km passando pelo Chile, Argentina, Uruguai e Sul do Brasil), Expedição Titicaca, Sertão Nordestino, além das travessias do Pantanal, das Chapadas Diamantina, dos Guimarães, dos Veadeiros e da Serra da Canastra. É fundadora e coordenadora do Clube de Cicloturismo do Brasil e fabricante dos alforjes Arara Una (www.ararauna.esp.br).
Este texto foi escrito por: Eliana Garcia*
Last modified: março 24, 2008