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COLUNA ZOLINO: Ser ou não ser, eis a questão?


Zolino durante o Ecomotion 2003 na Chapada Diamantina (foto: Tico Utiyama)

Certa vez, uma amiga, casada com um grande empresário do setor de bebidas mundial, mencionou uma frase que me fez questionar o que fazemos de nossas vidas. Ela acreditava, naquela época, que “o homem era o quanto ele conseguia produzir e gerar de dinheiro em sua profissão.” Eu não concordava plenamente com aquilo, pois há muitas pessoas que não produzem coisas boas e geram milhões em dinheiro. Você já deve ter assistido ao O Senhor das Armas, com Nicolas Cage. No filme, o ator é um traficante das armas que alimentavam as guerras ao redor do mundo. O personagem tinha influência e ganhava muito dinheiro. E as suas armas matavam muita gente.

Agora, fazer o que se gosta nem sempre é rentável, mas pode trazer à vida. Foi em minha adolescência que comecei a pensar que deveria aproveitar bem o meu corpo físico, afinal, performance e endurance iriam padecer após os 60 anos. A partir dessa idade, eu poderia explorar a cabeça, exatamente quando doenças como Alzheimer podem atacar e então você precisa trabalhar mais com a mente.

A partir dessa ideia, submeti o meu corpinho a mais de 200 provas de triathlon e mountain bike logo depois de completar 20 anos, quando parei de jogar polo aquático incluindo 11 Ironmans: de 1992 (Angra dos Reis, completado em 11 horas); 1994 (Porto Seguro, com classificação para o mundial); 1994 (Havaí, 10h30min); 1996 (Havaí, 9h31min); 1997 (Porto Seguro, 10h30min);1997 (Havaí, sem tempo por causa de um tombo de bike); 1998 (Nova Zelândia, 10h47min) 1998 (Porto Seguro, 10h30min); 1998 (Havaí, 10h30min); 1999 (Porto Seguro, 11h); e de 2011, dez anos depois, em Florianópolis, com o tempo de 10h44min.

Hoje, aos 44 anos de idade, sem diploma de faculdade depois de abandonar a PUC, após três anos de administração penso que eu ingressei na vida um pouco mais cedo do que o planejado.

Pai de santo: “Segue seu norte, meu filho.” Quando era atleta de triathlon, eu morava com um grande amigo, Paulo Nogara. Durante umas dessas semanas de questionamento, me juntei a ele e à sua mãe para ir conhecer um centro espírita, onde vi coisas bem interessantes e inusitadas. Era um ambiente esfumaçado pelo charuto do pai de santo, que conduzia a situação, expurgando os maus espíritos antes de iniciar a sessão. O pai era um empresário, Zé Maquiline, do setor de eletrodomésticos. Ele tinha aquilo como um projeto social e atendia em sua própria casa, nas tardes de terça.

Assistia a tudo aquilo superinteressado, quando a Cida me conduziu a um dos espíritos que baixava em uma jovem de 20 e poucos anos. Ela tinha um charuto na mão e uma voz grossa. E, em poucas e boas palavras, sanou a minha grande questão. Na época, eu não sabia que caminho tomar ou o que fazer da vida, além de já ser um triatleta. Quando questionei sobre o que fazer, ela foi muito clara: “Vá ensinar aos outros. Você gosta disso, então, faça!”.

Sai de lá indagando o que eu poderia fazer. Como eu passava a maior parte do dia treinando e estudando sobre esporte e alimentação, decidi, então, treinar as pessoas que desejavamse desbravar em alguma atividade física.

Um personaltrainner. Reencontrei um antigo aluno do Jaraguá, escola onde estudei por muito tempo. O rapaz, depois de passar vários anos treinando jiu-jitsu, estava todo machucado e queria mudar de esporte. Decidimos então ter como meta para ele a Maratona de Nova York, com um tempo a ser batido: 4 horas. Nove meses se passaram e lá estávamos nos Estados Unidos. Após prova épica, Adhemar conseguiu completar os pouco mais de 42 quilômetros em 3h59min00, com bastante afinco e determinação. Depois disso, passei a ser consultor de saúde e a ministrar treinos ao longo de vários anos.

O início do Adventure Camp, em 2001. Um dia, decidi reunir um grupo de aventureiros com o intuito de eles aprenderem na prática o que era uma corrida de aventura, esporte que já fazia sucesso no Brasil. O grupo passou uma semana tendo aulas em São Paulo e, no final de semana, fizeram a prática em Santa Rita do Passa Quatro (SP). O programa se chamou Adventure Camp, pois mesclava acampamento com aventura. De lá para cá, foram 10 anos e cerca de 20 mil pessoas estiveram conosco, em mais de 40 eventos.

Ao mesmo tempo, eu continuei explorando o meu corpo em competições de aventura, afinal, os 60 anos ainda estão bem longe… Fiz algumas Expedições Mata Atlântica (1998, 1999, 2000 e 2001); dois Eco-Challenges (1999, na Argentina, e 2001, na Nova Zelândia); quatro Ecomotions (2003, na Chapada Diamantina, segundo lugar, 2004, 2006 e 2009, esta também na segunda posição); um Desafio dos Vulcões (2002); três etapas do Circuito Brasileiro de Corrida de Aventura em 2001, todas campeão; um Brasil Wild; e um Chauás, campeão com a Equipe Selva.

Este texto foi escrito por: Sérgio Zolino