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Com chegada à Líbia, Hollywood Troller espera ganhar vantagem

14.01.2000 A chegada à Líbia, onde nessa segunda-feira (17/01) terá prosseguimento o Rali Paris Dakar Cairo 2000, é aguardada com ansiedade e ao mesmo tempo otimismo pela equipe Hollywood Troller. É chegada a hora do deserto e das dunas, tipo de piso no qual os Troller T5 costumam se dar bem. Nessa nova fase, a navegação ganha maior importância e atolar pode significar até horas de atraso.

O ponto alto dessa etapa, 11a. da prova, entre Alwyg e Wah El Kabir, percurso total de 515 km, dos quais 490 km de especial, é a travessia do Erg de Timsah, com cerca de mil quilômetros e com dunas de aproximadamente 40 metros. A derradeira parte da etapa, até o final, em Waw El Kebir, é mais sinuosa e com muitos saltos, durante a travessia de vários vales.

“Na primeira fase, para ganhar 10 minutos, era necessário correr muitos riscos, acelerar forte, andar rápido nas pedras. Agora, não é a velocidade que vai contar e sim não errar e não atolar. Os resultados devem se alterar bastante”, analisou Cacá Clauset, companheiro do navegador Amyr Klink, dupla 9a. colocada na categoria Novatos.

Sistema rodoar – Para a equipe Hollywood Troller, será também a estréia do sistema rodoar, que infla e desinfla os pneus com o carro em movimento. Cerca de 3 equipes apenas desenvolveram esse sistema, mas não foram testados efetivamente. “É uma incógnita. Mas se o sistema funcionar como imaginamos, teremos grande vantagem”, destacou Clauset.

Pneus – Os pneus, outro item de grande importância nessa fase, também serão alterados. A equipe usará os Mud Terrain, da BF Goodrich, mais largo e com maior flutuação, no lugar dos RA02 BF Goodrich, que estavam sendo usados na primeira fase, com excelente performance.Quanto a navegação, é chegada a hora de usar realmente o GPS (Global Positioning System), pois os pontos de referência estarão em intervalos de 60km.

O piloto Arnoldo Jr., melhor colocado da equipe na Novatos, na 4a. posição, e um especialista em areia, está ansioso pela chegada ao deserto. “Estou muito confiante e tranqüilo e ao mesmo tempo ansioso por conhecer a areia do Dakar. Acredito que nesse piso teremos muitas chances de ganhar mais posições. Mas o que me deixa mais curioso é: Será que tem mesmo dunas de 100 metros ? ”, comentou Arnoldo. E acrescentou: “Dunas de 40 metros já vi muito na Praia do Mundaú (CE). Quero ver mesmo as de 100 metros”.

A pausa A interrupção do Rali por 4 dias e o encurtamento em 4 etapas, no Niger, teve prós e contras para a equipe Hollywood Troller, assim como para várias equipes. “A etapa de aproximação as dunas foi cortada, isso significa que vamos entrar direto no meio das maiores. Não teremos um ‘aquecimento’. Por outro lado, acho que isso é ótimo para nossa equipe, pois nosso equipamento tem uma boa performance na areia. Pessoalmente, não gosto de parar numa prova, pois perde-se um pouco o ritmo”, comentou Clauset. Arnoldo Jr. Compartilha da mesmo opinião do companheiro de equipe. “Preferia estar na prova, principalmente na areia”.

Já, para o pessoal de apoio, a pausa foi muito bem vinda. “Tivemos um dia e uma noite para preparar os carros, que estão como novos e hoje os mecânicos, que são os que menos dormem durante todo o rali, puderam ter um dia descanso”, comentou Jorge Nieckele, chefe de equipe.

Após o final da 6a. etapa, a equipe Hollywood Troller está com 3 de seus 4 carros entre os 10 melhores na classificação da categoria Novatos (rookies): A dupla Arnoldo Jr/Galdino Gabriel é a melhor colocada, na 4a. posição; a dupla campeã brasileira Reinaldo Varella/Alberto Fadiggati está em 6º lugar; e a dupla Cacá Clauset/Amyr Klink ocupa o 9º lugar. Roberto Macedo e Marcos Ermírio de Moraes ocupam a 17a. posição.

ENTREVISTA COM AMYR KLINK

Como está sendo esses dias de descanso ?

AK – Encontramos um grupo de tuaregues em uma banca que comprava e vendia objetos antigos de metal. Um deles tinha grande dificuldade em falar o francês, mas como ele queria muito falar com a gente arrumou um intérprete que era professor de uma escola que fala francês e a língua deles e nos convidou para conhecer a sua casa. Lá, ele nos contou um pouco sobre os hábitos dos tuaregues: como eles tem uma vida nômade, eles tem tudo pronto para levar enrolado num camelo. Mostrou alguns adornos, como um colar bonito que os tuaregues usam que é todo cheio de enfeites, que em um dos pedacinhos de couro tem um espelho, que quando eles vão ter um encontro com uma menina, mesmo sem ter ninguém olhando, eles abrem e se olham para ver se estão prontos para o encontro, se os enfeites estão no lugar, muito interessante a vaidade deles, são realmente muito vaidosos.

E a casa deles como é ?

AK – A casa deles viaja junto com eles, ela é toda desmontável. Uma espécie de tenda de couro que tem todos os paus de armar barraca adornados e a cama é uma coisa incrível, toda enfeitada de metal.

Você vê alguma semelhança com os ciganos?

AK – Talvez…talvez, como ciganos no deserto.

Como é esse tuaregue?

AK – É de uma educação!!! Fala com você por amizade não por dinheiro. Você tira os sapatos antes de entrar na casa dele, que é extremamente simples, mas é toda cheia de adornos. Impressionante.

E porque tirar os sapatos?

AK – É um sinal de respeito. Reparei ele tirando o dele e tirei também e ele fez um sinal com a cabeça . Depois ele queria trazer a gente aqui, aí ele tirou uma lona imunda, imunda e embaixo tinha uma Mercedes amarela..risos…Uma p… Mercedes amarela coberta com um pano que você não vê o que é.

Aqui em Niger tem 8 etnias diferentes, uma das quais são os tuaregues e entre os tuaregues tem 12 ou 14 etnias diferentes.

O que difere uma da outra?

AK – Hábitos, modo de vestir, traços, um pouco pela língua, as 8 etnias tem línguas diferentes.

Agora conte do carro que vocês arrumaram no almoço?

AK – O mais legal de ontem e hoje foi o carro que o Santinho Mendes arrumou. Deve ter uns 20 anos de uso com jeito de 200. risos… e as portas estão desmontando, zero amortecedor, rodas soltas, eixo que balança embaixo do carro e o volante tá todo corroído, metade do volante é de ferro e está todo cheio de barbante de nylon enrolado no volante. É é a coisa mais engraçada, agora , anda muito bem, leva a gente pra cima e pra baixo só que ele nunca enche o tanque, abastece de pouquinho em pouquinho .

O que você está achando desse repouso forçado?

AK – Muito cansativo, monótono, já vimos tudo por aqui e ainda temos mais dois dias na cidade. Quebrou o ritmo de prova da equipe. Mas tudo bem, estamos prontos aguardando.

Entrevista por Simone Palladino, de Niamey (Níger)

Este texto foi escrito por: Meg Cotrim